Anutin Charnvirakul, da Tailândia, foi eleito primeiro-ministro nesta sexta-feira (5) após vencer com facilidade a votação parlamentar, derrotando o candidato do partido governista da família Shinawatra, antes dominante, e pondo fim a uma semana de caos e impasse político.

Com o apoio decisivo da oposição, Anutin ultrapassou o limite de mais da metade dos votos da Câmara Baixa necessários para se tornar premiê, encerrando dias de drama e uma disputa pelo poder durante a qual ele superou estrategicamente o partido político mais bem-sucedido da história da Tailândia.

Anutin, um hábil negociador, tem sido um pilar na política tailandesa durante anos de turbulência, posicionando seu partido, Bhumjaithai, estrategicamente entre elites rivais e garantindo seu lugar em uma sucessão de governos de coalizão.

Anutin não discursou na Câmara antes da votação, durante a qual ultrapassou o limite para se tornar premiê com uma enorme vantagem.

Quando perguntado, ao chegar ao parlamento, se havia buscado intervenção divina, ele respondeu: “Rezei para meus pais.”

A derrota do rival Chaikasem Nitisiri foi uma humilhação para o partido governista Pheu Thai, antes uma imbatível força populista do influente bilionário Thaksin Shinawatra, que deixou a Tailândia na noite de quinta-feira (4) rumo a Dubai, onde passou a maior parte de seus 15 anos de exílio autoimposto.

A crise do Pheu Thai foi desencadeada em junho pela retirada de Anutin de sua aliança, o que deixou o governo de coalizão com uma maioria mínima em meio a protestos e popularidade em queda.

O golpe final foi a destituição na semana passada, pela Corte Constitucional, da filha e protegida de Thaksin, Paetongtarn Shinawatra, a sexta primeira-ministra da família Shinawatra ou apoiada por ela a ser removida pelos militares ou pelo judiciário.

A vitória de Anutin na votação de sexta-feira resultou de um pacto com o Partido do Povo, progressista de oposição e maior força no parlamento, que ele seduziu com a promessa de realizar um referendo para reformar a Constituição e convocar eleições em um prazo de quatro meses.

Veterano político que já dirigiu a empresa de construção de sua família, Anutin, de 58 anos, é ex-vice-primeiro-ministro, ex-ministro do Interior e ex-ministro da Saúde.

Como um monarquista ferrenho, Anutin é considerado conservador, embora tenha se destacado ao liderar uma campanha bem-sucedida para descriminalizar a cannabis na Tailândia, o que levou a uma explosão de milhares de estabelecimentos vendendo maconha.

Anutin liderará um governo minoritário, do qual o Partido do Povo não participará, e assumirá o comando de um país com uma economia que luta contra o consumo fraco, empréstimos restritos e níveis elevados de endividamento familiar.

Sua rápida ascensão ao cargo de primeiro-ministro esteve ligada ao acerto de contas político do influente Thaksin e ao declínio do Pheu Thai, que venceu cinco das últimas seis eleições, mas perdeu apoio entre as classes trabalhadoras antes atraídas por suas numerosas políticas populistas.

A partida não anunciada do magnata da Tailândia em seu jato particular ocorreu após seu partido fracassar em tentativas desesperadas de dissolver a câmara e enfraquecer o bloco de Anutin. Uma decisão judicial que pode levar Thaksin à prisão está marcada para a próxima semana.

Thaksin fez um alardeado retorno de Dubai em 2023 para cumprir uma pena de oito anos por abuso de poder e conflitos de interesse, mas em sua primeira noite na prisão foi transferido para a ala VIP de um hospital por motivos médicos.

A sentença foi modificada para um ano pelo rei e ele foi colocado em liberdade condicional após seis meses de detenção. A Suprema Corte decidirá na terça-feira (9) se o período de Thaksin no hospital conta como tempo cumprido. Caso contrário, poderá enviá-lo de volta à prisão.

Em uma publicação no X (ex-Twitter), Thaksin disse que estava em Dubai para um check-up médico e para ver velhos amigos.

“Estarei de volta à Tailândia até 8 de setembro para comparecer pessoalmente ao tribunal no dia 9”, afirmou.