Primeiro vieram as tarifas globais punitivas do Presidente Donald Trump, que começaram a elevar os preços.

Depois, foram as demissões em massa no governo e deportações em todo o país, que pressionaram a força de trabalho.

Agora, Washington caminha rapidamente para uma apagão econômico federal, representando mais um teste para uma economia sob crescente pressão oito meses após o início do segundo mandato de Trump. Se um impasse partidário levar as agências federais a uma parada brusca e prolongada em questão de dias, o resultado poderia ser mais uma rodada de sofrimento para consumidores e empresas americanas.

“A economia está bastante vulnerável”, disse Mark Zandi, economista-chefe da Moody’s Analytics. “Em um momento mais resiliente, acho que mesmo uma paralisação prolongada não descarrilaria a economia. Mas, na economia atual, isso pode muito bem ser o fator que nos empurra para baixo.”

Um “shutdown” (apagão econômico) ocorrerá na próxima semana, a menos que o Congresso e a Casa Branca cheguem a um acordo antes da meia-noite de 30 de setembro, o fim do ano fiscal. Na ausência de um compromisso de última hora, o financiamento federal expirará, trazendo implicações amplas que destacam as inúmeras maneiras pelas quais Washington afeta o cotidiano dos americanos.

Historicamente, essas interrupções fecharam parques nacionais e museus, paralisaram algumas inspeções federais de segurança alimentar e cortaram serviços para pequenas empresas, impedindo-as de obter certos empréstimos ou licenças governamentais. Uma paralisação não afeta a Seguridade Social ou o Medicare, mas anteriormente impediu que idosos tivessem acesso a alguns serviços relacionados, como a obtenção de novos cartões de benefícios.

Neste ano, a perda de financiamento também poderia interromper o programa federal Mulheres, Bebês e Crianças (WIC), que ajuda a fornecer alimentos a famílias de baixa renda. A iniciativa não teria dinheiro suficiente para aceitar novos inscritos a partir de 1º de outubro, de acordo com um funcionário da Casa Branca, que falou sob condição de anonimato para descrever documentos orçamentários internos. A administração anteriormente pediu ao Congresso que aprovasse fundos adicionais para os benefícios, conhecidos como WIC.

Para milhões de funcionários federais, um apagão econômico traz dificuldades diretas, especialmente se for prolongada. Esses funcionários, incluindo pessoal militar, são privados de seus pagamentos enquanto o financiamento está em risco, embora alguns sejam forçados a se apresentar ao trabalho nesse meio tempo. A Lei garante que receberão pagamento retroativo, mas apenas depois que o Congresso conseguir fechar um acordo, o que significa que alguns poderiam ficar sem renda estável por semanas.

O governo não é estranho a prazos fiscais que se aproximam rapidamente, o que muitas vezes pode servir de motivação para que democratas e republicanos cheguem a um grande acordo. Mas até quarta-feira, os dois lados nem pareciam estar conversando, aumentando as chances de que uma grande parte de Washington possa fechar em breve, por um período prolongado.

Se isso ocorrer, a administração Trump tem alguma discricionariedade legal para determinar quais funções e funcionários governamentais são tão vitais que devem continuar mesmo durante o fechamento. Mas algumas agências não publicaram seus planos de contingência mais recentes, e outras removeram os documentos da internet completamente, tornando difícil prever quaisquer perturbações econômicas que possam surgir se o financiamento acabar na próxima semana.

O escritório de orçamento da Casa Branca recusou-se a comentar sobre seu planejamento para a paralisação.

A maioria das paralisações governamentais é resolvida em questão de dias, poupando a economia de interrupções significativas. Mas a disputa atual poderia desencadear uma interrupção mais prolongada, dado que Trump recentemente se recusou até mesmo a se reunir com líderes democratas. Os republicanos da Câmara adotaram uma medida este mês que financiaria temporariamente o governo até novembro, mas os democratas do Senado bloquearam essa abordagem enquanto buscavam estender um conjunto de subsídios de saúde que expiram este ano.

Como regra geral, cada semana em que as operações federais são fechadas pode reduzir cerca de um décimo de ponto percentual da produção econômica total da nação naquele trimestre. Quanto mais tempo o financiamento federal permanecer bloqueado, maiores serão as consequências e mais difícil será para a economia compensar o terreno perdido nos meses futuros.

Os riscos foram expostos no primeiro mandato de Trump, quando parte do governo federal fechou por um período de cinco semanas que terminou em janeiro de 2019. Essa paralisação, a mais longa da história, reduziu 0,1 ponto percentual do PIB (Produto Interno Bruto) da nação no último trimestre de 2018, e outros 0,3 pontos percentuais, no primeiro trimestre do ano seguinte, de acordo com uma análise desta semana feita por economistas do Wells Fargo.

A interrupção no financiamento não afetou todo o governo federal na época. A administração tomou medidas —posteriormente consideradas ilegais— para manter alguns programas funcionando de qualquer maneira. E o impacto na economia, que se recuperaria de suas leves perdas, não amenizou as outras maneiras pelas quais o fechamento pode ter prejudicado os americanos individualmente. Isso incluiu funcionários federais, que viram interrupções significativas em seus pagamentos.

“Você só pode ficar tanto tempo com promissórias”, disse Sam Berger, pesquisador sênior da equipe de política fiscal federal do Centro de Prioridades Orçamentárias e Políticas, um grupo de tendência esquerdista. “Você não pode pagar uma hipoteca. Você não pode pagar por suas compras. Isso tem um impacto real.”

Ryan Sweet, economista-chefe dos EUA na Oxford Economics, disse que uma queda acentuada e prolongada nos gastos federais também tende a ter um efeito cascata, eventualmente reduzindo “gastos do consumidor, contratados privados e outras atividades comerciais”. As empresas, em particular, enfrentam riscos se não puderem obter empréstimos federais, uma das muitas consequências de uma paralisação que ele descreveu como difícil de “separar” dos dados.

Neste ano, no entanto, um apagão econômico federal parece prestes a chegar em um momento de grande incerteza econômica, potencialmente agravando o impacto se o impasse se arrastar por semanas ou meses.

“Eu diria que nem todas as paralisações governamentais são criadas iguais, e dependendo de quão resiliente a economia é, o choque de uma paralisação governamental pode ser maior ou menor”, disse Gregory Daco, economista-chefe da EY-Parthenon. “E agora, o que estamos vendo é uma economia que está sujeita a uma série de ventos contrários e favoráveis conflitantes, mas parece que a economia está perdendo impulso.”

Michael R. Strain, um economista conservador do American Enterprise Institute, disse que um colapso prolongado em Washington também poderia pesar sobre os mercados financeiros. Ele apontou para o mercado de títulos, onde os investidores este ano exigiram termos mais favoráveis sobre a dívida do governo, sugerindo desconforto persistente com a trajetória política e fiscal da nação.

“Quanto mais tempo durar uma paralisação, mais ela coloca em questão alguns dos fundamentos em torno da capacidade do governo de funcionar”, disse Strain. “O mercado pode ser bastante indulgente com uma paralisação de curto prazo, mas acho que quanto mais tempo durar, maior a preocupação com a estabilidade do governo dos EUA.”