O ministro Alexandre de Moraes autorizou um preso do 8 de janeiro a ir ao enterro da mãe neste sábado (27) com escolta policial “discreta e sem ostensividade no uso de armas”. A decisão ocorre um mês após o jovem Lucas Brasileiro ter sido conduzido ao enterro da avó, no Distrito Federal (DF), acompanhado por cerca de 35 policiais armados com fuzis.
“Foi um absurdo aquela escolta”, pontuou o advogado Hélio Junior, que percebeu mudança em relação ao preso Daniel Soares do Nascimento. Segundo ele, o paulista de 39 anos foi levado ao velório da mãe, em Barueri-SP, na tarde deste sábado (27), e a condução seguiu as orientações do ministro.
Além de uma equipe menor de policiais e armamento “discreto”, o advogado relata que os familiares foram orientados a não filmar ou fotografar Daniel durante a cerimônia. “O diretor da unidade prisional me ligou e pediu a gentileza de termos essa discrição”, informou à Gazeta do Povo. “Nós acatamos”, continuou.
Na decisão publicada neste sábado, Moraes também autorizou que o preso prestasse sua última homenagem à mãe Inês de Oliveira Soares “pelo tempo necessário à cerimônia”. De acordo com familiares, o homem chegou ao local por volta das 15h e seguiu o cortejo fúnebre até o cemitério, onde assistiu ao sepultamento. Ele retornou ao Centro de Ressocialização de Limeira logo depois.
“A idosa foi ficando com quadro muito debilitando e esquecendo as pessoas, e a única palavra que ela chamava era o nome do filho”
Taniéli Telles e Hélio Junior, advogados de Daniel Soares do Nascimento
Defesa solicitou que Daniel cuidasse da mãe em estado terminal; pedido foi negado
Daniel era filho único, e os advogados Taniéli Telles e Hélio Junior solicitaram ao ministro liberdade provisória do rapaz para que ele cuidasse da mãe em estado terminal. “A idosa foi ficando com quadro muito debilitando e esquecendo as pessoas, e a única palavra que ela chamava era o nome do filho”, relatam.
No entanto, a defesa informa que a Procuradoria-Geral da República (PGR) orientou indeferimento do pedido por falta de provas, e Moraes acatou. “Quando fizemos o pedido de soltura humanitária, não tinha ninguém da família que pudesse pegar a documentação no hospital e nos enviar”, explicou Hélio. “Dona Inês morreu sozinha”, continuou.
A liberdade provisória de Daniel foi, inclusive, uma das últimas solicitações do advogado Luiz Felipe Pereira da Cunha, que faleceu no último dia 8 de setembro, em Brasília, vítima de um infarto fulminante. Ele defendeu voluntariamente uma série de presos por suposta participação no 8/1.
Quem é Daniel Soares do Nascimento?
Daniel foi condenado a 16 anos e meio de prisão por participar nos atos de 8 de janeiro. Segundo seus advogados, o paulista chegou a ser reconhecido por um policial do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) como um dos manifestantes que “estavam limpando e juntando os cacos de vidro” do chão para evitar que pessoas se machucassem.
O homem foi condenado pelos crimes de abolição violenta ao Estado Democrático de Direito, Golpe de Estado, dano qualificado, deterioração de patrimônio tombado e associação criminosa armada. Seu processo foi encerrado em junho de 2024 e ele cumpre sua pena em regime fechado.
Fonte. Gazeta do Povo