
Crédito, Rafael Messias/@handpaintedbrazil
- Author, Thais Carrança
- Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
Tudo começou com uma foto singela, tirada em Canavieiras, no sul da Bahia: o registro de uma fachada, onde se lê “Mc. Vita Bar e Lanches”, ao redor de uma pintura mostrando um hambúrguer, acompanhado de fritas e refresco.
O ano era 2018 e, de volta das férias, a paulistana Clara Izabela finalmente dava início a um projeto há muito adiado: reunir em um só lugar as dezenas de fotos tiradas por ela ao longo dos anos de pinturas feitas à mão nas paredes de bares, mercadinhos e carrocerias de caminhão pelas ruas do Brasil afora.
Estava criado o projeto Handpainted Brazil, que, em seus quase sete anos de existência, reúne no Instagram milhares de fotografias tiradas por Clara, amigos dela e completos desconhecidos que, diariamente, mandam ao perfil dezenas de registros vindos de diversos locais do país.
“Acho que o sucesso do projeto vem do fato de todo mundo se reconhecer nesses lugares”, diz Clara, observando que quase todo bairro popular brasileiro tem ruas com estabelecimentos comerciais ornamentados por pinturas à mão.
“Volta e meia alguém comenta: ‘Caramba, isso é do lado da minha casa’. Acho isso muito bacana.”
Clara conta que o nome em inglês veio um pouco do mesmo improviso que marca algumas dessas obras de arte popular.
“Eu nem achava o nome tão bom, mas na hora falei: ‘Ponho esse, depois eu troco’, porque, se não, eu não ia fazer. Sempre fico pensando muito para fazer as coisas e acabo não fazendo, esperando a hora certa”, diz ela.
“Então fiz, os amigos começaram a mandar fotos, e a coisa foi indo. Hoje, são mais de 120 mil seguidores e mais de 10 fotos recebidas por dia.”

Crédito, Clara Izabela/@handpaintedbrazil
Clara, que trabalha como diretora de cena para cinema, conta que seu fascínio pelas pinturas à mão vem da riqueza desse universo estético, em que as imagens são consideradas toscas por alguns ou pouco sofisticadas do ponto de vista artístico.
“Acho mais interessantes justamente essas composições que são muito malucas — eu digo malucas no sentido de sair um pouco do modelo formal da pintura clássica, acho que isso diz muito sobre uma subjetividade da pessoa que pintou e às vezes do contexto de onde ela está”, diz Clara.
Ela conta que, quando começou a página, se focava mais nos desenhos em si. Mas, com o passar do tempo, percebeu que são mais interessantes as fotos em que é possível ver um pouco do entorno.
“O entorno permite saber um pouco mais sobre aquele lugar, você entende onde aquela pintura está, o contexto de objetos que tem em volta, tudo isso diz muito.”

Crédito, Bruno Pilon/@handpaintedbrazil

Crédito, Kaverilson/@handpaintedbrazil

Crédito, Thomaz Duarte/@handpaintedbrazil
Um tema comum nas fotografias são as releituras de personagens tradicionais de quadrinhos, desenhos animados e videogames.
“A Mônica é um exemplo clássico, porque todo mundo sabe muito bem como é a Mônica do Mauricio de Souza. Mas se tivessem só Mônicas iguais às do Mauricio pintadas, não teria muita graça”, diz Clara.
“O mais legal é como as pessoas compõem e como esses desenhos são feitos. Todo mundo conhece o Hulk, mas e o Hulk segurando um coco?”

Crédito, Rodrigo Ponce/@handpaintedbrazil

Crédito, Fabio Jabour/@handpaintedbrazil

Crédito, Lúrian Pozzobon/@handpaintedbrazil
Os bares são uma vasta tela para as pinturas feitas à mão.
Das fachadas, às paredes internas e portas de banheiro, em todo lugar há espaço para a criatividade do brasileiro.

Crédito, Clara Izabela/@handpaintedbrazil

Crédito, Tâmara Lacerda Fidelis/@handpaintedbrazil

Crédito, Pablo Dias/@handpaintedbrazil
Mercadinhos, lojas e lanchonetes também dão suas contribuições para deixar as ruas das cidades mais coloridas (e, às vezes, um pouco surreais).

Crédito, Nina Farkas/@handpaintedbrazil

Crédito, Rhanã Lacerda Fabem/@handpaintedbrazil

Crédito, Leonardo Muniz/@handpaintedbrazil
Clara conta que uma das partes mais interessantes desses sete anos à frente do projeto é conhecer um pouco mais do Brasil através das fotos vindas de locais distantes de São Paulo, onde ela vive.
“Chega foto de reserva indígena, de centro de trabalhadores rurais no interior do Amazonas”, exemplifica.
As fotos chegam por mensagem direta no Instagram, email e por mensagem direta nos perfis do projeto no X (antigo Twitter), Bluesky e TikTok.
As pinturas fotografadas nesses locais diversos trazem elementos da cultura local, como botos em Belém, búfalos na Ilha do Marajó, peixes e sereias em localidades litorâneas, elementos do candomblé na Bahia, e assim por diante.
“Eu brinco que temos vários correspondentes, como a Otacília, de Boa Vista, em Roraima. Ela é uma das primeiras pessoas que começou a seguir a página e ela manda pacotes de fotos e tira fotos super bem, são imagens incríveis.”

Crédito, Luis Matuto/@handpaintedbrazil
Clara conta que hoje consegue identificar não só os temas mais recorrentes de cada lugar, mas também técnicas de pintura.
“Você acaba conhecendo um monte de artistas, tipo o Bosco Froid, que pinta uns painéis enormes sem projetar para copiar, ou a Roxinha, que é uma artista incrível do Alagoas”, cita a entusiasta das pinturas feitas à mão.
“Há muita coisa interessante nessas manifestações de pintura, que estão em vários lugares, principalmente comerciais, mas não só”, diz ela.
“E eu acho muito bacana que sempre tem gente comentando: ‘Nossa, eu sempre passei aí em frente e nunca reparei nessa pintura. É do lado da minha casa e eu nunca reparei.’ E aí, por conta de uma foto, você passa a reparar.”

Crédito, Paulo Henrique Tarlé/@handpaintedbrazil
Clara conta que uma das partes mais interessantes desses sete anos à frente do projeto é conhecer um pouco mais do Brasil por meio das fotos vindas de locais distantes de São Paulo, onde ela vive.
“Chega foto de reserva indígena, de centro de trabalhadores rurais no interior do Amazonas”, exemplifica.
As fotos chegam por mensagem direta no Instagram, email e pelos perfis do projeto no X (antigo Twitter), Bluesky e TikTok.
As pinturas fotografadas nesses locais diversos trazem elementos da cultura local, como botos em Belém, búfalos na Ilha do Marajó, peixes e sereias em localidades litorâneas, elementos do candomblé na Bahia, e assim por diante.
“Eu brinco que temos vários correspondentes, como a Otacília, de Boa Vista, em Roraima. Ela é uma das primeiras pessoas que começou a seguir a página e ela manda pacotes de fotos e tira fotos super bem, então são imagens incríveis.”

Crédito, Otacília Carolina Gomes Brito/@handpaintedbrazil
Clara conta que hoje consegue identificar não só os temas mais recorrentes de cada lugar, mas também técnicas de pintura.
“Você acaba conhecendo um monte de artistas, tipo o Bosco Froid, que pinta uns painéis enormes sem projetar para copiar, ou a Roxinha, que é uma artista incrível do Alagoas”, cita a entusiasta das pinturas feitas à mão.
“Há muita coisa interessante nessas manifestações de pintura, que estão em vários lugares, principalmente comerciais, mas não só”, diz ela.
“E eu acho muito bacana que sempre tem gente comentando: ‘Nossa, eu sempre passei aí em frente e nunca reparei nessa pintura. É do lado da minha casa e eu nunca reparei.’ E aí, por conta de uma foto, você passa a reparar.”
Fonte.:BBC NEWS BRASIL