
Crédito, NSF-DOE Vera C. Rubin Observatory
- Author, Ione Wells e Georgina Rannard
- Role, BBC News
Um poderoso novo telescópio no Chile divulgou suas primeiras imagens, mostrando sua capacidade sem precedentes de observar as profundezas escuras do Universo.
Em uma imagem, vastas nuvens coloridas de gás e poeira rodopiam em uma região de formação de estrelas a 9.000 anos-luz da Terra.
O observatório Vera C. Rubin, que possui a câmera digital mais potente do mundo, promete transformar nossa compreensão do Universo.
Se existir um nono planeta no nosso Sistema Solar, os cientistas dizem que este telescópio vai encontrá-lo em seu primeiro ano.

Crédito, RubinObs
Ele deve detectar asteroides assassinos a uma distância impressionante da Terra, e mapear a Via Láctea. Também vai responder a perguntas cruciais sobre a matéria escura, a substância misteriosa que compõe a maior parte do nosso Universo.
Este momento único para a astronomia é o início de uma filmagem contínua de 10 anos do céu noturno do hemisfério sul.
“Eu, pessoalmente, venho trabalhando para chegar a esse momento há cerca de 25 anos. Há décadas, queríamos construir essa instalação fenomenal, e fazer esse tipo de pesquisa”, diz Catherine Heymans, astrônoma real da Escócia (um título honorário).
O Reino Unido é um parceiro importante nesta pesquisa, e vai abrigar data centers para processar as imagens extremamente detalhadas à medida que o telescópio vasculha os céus, capturando tudo em seu caminho.
O Vera Rubin pode aumentar em dez vezes o número de objetos conhecidos em nosso Sistema Solar.

Crédito, NSF-DOE Vera C. Rubin Observatory
A reportagem da BBC News visitou o observatório Vera Rubin antes da divulgação das imagens.
Ele fica no Cerro Pachón, uma montanha nos Andes chilenos que abriga vários observatórios em terras privadas dedicadas à pesquisa espacial.
É muito alto, muito seco e muito escuro. Um local perfeito para observar as estrelas.
Manter essa escuridão é algo sagrado. O trajeto de ônibus pela estrada sinuosa à noite deve ser feito com cautela, uma vez que não é permitido farol alto.
No interior do observatório, não é diferente.
Há uma unidade de engenharia inteira dedicada a garantir que a cúpula ao redor do telescópio, que se abre para o céu noturno, esteja escura — desligando LEDs indesejados ou outras luzes difusas que possam interferir na luz astronômica que estão capturando do céu noturno.
A luz das estrelas é “suficiente” para navegar, explica a cientista Elana Urbach, que faz parte do projeto.
Um dos grandes objetivos do observatório, segundo ela, é “compreender a história do Universo”, o que significa ser capaz de ver galáxias pouco luminosas ou explosões de supernovas que aconteceram “bilhões de anos atrás”.
“Então, realmente precisamos de imagens muito nítidas”, diz Urbach.
Cada detalhe do projeto do observatório apresenta uma precisão semelhante.

Crédito, SLAC National Accelerator Laboratory
Ele consegue isso por meio de seu design exclusivo de três espelhos. A luz entra no telescópio pelo céu noturno, atinge o espelho primário (8,4 m de diâmetro), é refletida no espelho secundário (3,4 metros) de volta para um terceiro espelho (4,8 metros) antes de entrar na câmera.
Os espelhos precisam ser mantidos em condições impecáveis. Até mesmo uma partícula de poeira pode alterar a qualidade da imagem.
A alta refletividade e velocidade deste processo permitem que o telescópio capte muita luz, o que, segundo Guillem Megias, especialista em óptica ativa do observatório, é “muito importante” para observar coisas “muito distantes, o que, em astronomia, significa que elas vêm de épocas passadas”.
A câmera dentro do telescópio vai capturar repetidamente o céu noturno por dez anos, a cada três dias, para uma Pesquisa de Legado do Espaço e Tempo.
Com 1,65m x 3m, ela pesa 2.800 kg e oferece um amplo campo de visão.
E vai capturar uma imagem aproximadamente a cada 40 segundos, por cerca de 8 a 12 horas por noite, graças ao rápido reposicionamento da cúpula móvel e da montagem do telescópio.
Ela tem 3.200 megapixels (67 vezes mais do que a câmera do iPhone 16 Pro), uma resolução tão alta que seria capaz de capturar uma bola de golfe na Lua, e exigiria 400 telas de TV Ultra HD para mostrar uma única imagem.
“Quando capturamos a primeira foto aqui, foi um momento especial”, conta Megias.
“Quando comecei a trabalhar com esse projeto, conheci uma pessoa que estava trabalhando nele desde 1996. Eu nasci em 1997. Isso nos faz perceber que esse é um esforço de uma geração de astrônomos.”
Caberá a centenas de cientistas do mundo todo analisar o fluxo de alertas de dados, que vai atingir um pico de cerca de 10 milhões por noite.
A pesquisa vai atuar em quatro áreas: mapeamento de mudanças nos céus ou de objetos transitórios; formação da Via Láctea; mapeamento do Sistema Solar; e compreensão da matéria escura ou de como o Universo se formou.
Mas seu maior poder reside na sua constância. Ele vai inspecionar as mesmas áreas repetidamente e, sempre que detectar uma mudança, vai alertar os cientistas.

Crédito, RubinObs
“Esse lado transitório é algo realmente novo e único. Tem o potencial de nos mostrar algo em que nem sequer havíamos pensado antes”, explica Heymans.
Mas também pode ajudar a nos proteger, detectando objetos perigosos que se aproximam repentinamente da Terra, incluindo asteroides como o YR4, que, no início deste ano, os cientistas temiam que estivesse em rota de colisão com o nosso planeta.
Os espelhos enormes da câmera vão ajudar os cientistas a detectar a luz mais fraca e as distorções emitidas por esses objetos, e a rastreá-los à medida que se deslocam rapidamente pelo espaço.
“É transformador. Vai ser o maior conjunto de dados que já tivemos para analisar nossa galáxia. Vai abastecer o que fazemos por muitos e muitos anos”, diz Alis Deason, professora da Universidade de Durham, no Reino Unido.
Ela vai receber as imagens para analisar quão remotas são as estrelas na Via Láctea.
No momento, a maioria dos dados das estrelas remonta a cerca de 163.000 anos-luz, mas o Vera Rubin poderia ver até 1,2 milhão de anos-luz.
Deason também espera ver o halo estelar da Via Láctea, ou seu cemitério de estrelas destruídas ao longo do tempo, assim como pequenas galáxias satélites que ainda sobrevivem, mas são incrivelmente fracas e difíceis de encontrar.
Acredita-se também que o Vera Rubin seja potente o suficiente para finalmente resolver um mistério de longa data sobre a existência do Planeta Nove no nosso Sistema Solar.
Esse objeto pode estar a uma distância 700 vezes maior do que a distância entre a Terra e o Sol, muito além do alcance de outros telescópios terrestres.
“Vai levar muito tempo para realmente entendermos como este novo e belo observatório funciona. Mas estou pronta para isso”, diz Heymans.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL