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- Author, Lebo Diseko
- Role, Da BBC News
A maioria de nós tem pelo menos um amigo acostumado a checar o signo de um possível parceiro para ver o quanto eles combinam.
Embora isso geralmente seja apenas uma brincadeira, algumas pessoas levam a astrologia a sério. Elas acreditam que a posição dos planetas e estrelas no momento do nascimento de uma pessoa realmente influencia na vida dela, na personalidade e nas interações com os outros.
A astrologia é amplamente usada em países como a China e a Índia há séculos.
Na Índia, alguns políticos até consultam astrólogos para ver quais suas reais chances de vencer uma eleição.
Mas, ao que parece, algumas pessoas no Ocidente também estão usando a astrologia para tentar entender — e até mesmo prever — a política e os eventos globais.
Embora a prática na Europa e nos Estados Unidos seja relativamente de nicho, parece haver um interesse por ela.
No TikTok é possível encontrar uma infinidade de vídeos — muitos originados nos EUA — de astrólogos fazendo leituras sobre geopolítica, frequentemente sentados diante de mapas astrais que, segundo eles, representam a posição do Sol, da Lua, e das estrelas quando países como os EUA, Irã e alguns da Europa foram fundados.

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“Donald Trump tem uma linha descendente de Urano no Irã, o que representa relações voláteis”, diz um astrólogo em um vídeo publicado um dia depois de os EUA lançarem um ataque contra o Irã.
Outro vídeo, postado no mesmo dia por um influenciador diferente, prevê uma retaliação de Teerã no dia 1° ou 2 de julho.
O fato de previsões como essa muitas vezes se mostrarem erradas não parece afetar o interesse das pessoas por esse tipo de conteúdo.
Nos últimos cinco anos, o Google Trends mostrou picos de buscas pelos termos “astrologia” e “guerra” no início da pandemia de Covid (em fevereiro de 2020), da guerra entre Rússia e Ucrânia (em fevereiro de 2022), do conflito entre Índia e Paquistão pela Caxemira (em maio deste ano) e no final de junho, quando os EUA realizaram ataques contra o Irã.
Uma iraniana em Londres me disse que quando as bombas começaram a atingir Teerã em junho, ela consultou uma astróloga. Sua irmã fez a mesma coisa no Irã, buscando clareza sobre o futuro dos dois países.
Quando as buscas no Google por “astrologia” e “guerra” atingiram o pico, foram a Índia e os EUA que consistentemente mostraram grande interesse.
Mas usar a astrologia para tentar entender “grandes dilemas geopolíticos é uma má ideia”, afirma Galen Watts, professor da Universidade de Waterloo, no Canadá, que é especialista em sociologia cultural e religião.
Ele argumenta que “quase por definição” não há evidências que comprovem sua eficácia.

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Aliza Kelly, astróloga baseada em Nova York, fica feliz em ver o interesse em sua área de trabalho, mas afirma estar preocupada com a ética de parte do conteúdo que circula nas redes sociais.
“Com algo tão importante em jogo, como prever se haverá um ataque nuclear ou a Terceira Guerra Mundial, um vídeo de 90 segundos provavelmente não é a forma mais ética de disseminar essa informação”, afirma.
Esse tipo de vídeo consegue chamar a atenção porque é sensacionalista.
“É um jogo perigoso quando sua reputação depende de fazer previsões realmente ousadas. Esse não é o tipo de astrologia que eu pratico”, afirma Kelly.
Apesar disso, ela tem percebido um interesse crescente das pessoas nos astros para explicar eventos políticos.
Isso se tornou evidente para ela pela primeira vez na noite da eleição americana de 2016, quando Trump venceu Hillary Clinton e se tornou presidente dos EUA.
Kelly estava em uma festa para acompanhar a apuração. À medida que o medidor eleitoral se movia em uma direção diferente da prevista, os convidados passaram a se aproximar dela.
“As pessoas começaram a perguntar o que estava acontecendo. ‘O que devemos esperar agora? O que o mapa da Hilary diz? E o de Trump?'”, lembra.
“Foi a primeira vez que eu encontrei, de forma palpável e tangível, pessoas usando a astrologia para entender um evento político e geopolítico por meio dessa outra perspectiva.”

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A pandemia foi outro ponto de inflexão, com muitas pessoas buscando por respostas em um momento sem precedentes e cheio de incertezas.
Foi durante esse período que Cassie Leventhal começou a recorrer à astrologia para encontrar sinais sobre o próximo grande surto. Na época, os pais dela tinham câncer e estavam em tratamento.
Os conselhos que ela dava para os pais refletiam as orientações das autoridades de saúde pública, mas Cassie diz que usava a posição dos planetas como guia para decidir quando alertá-los para que fossem mais vigilantes e tomassem precauções extras.
Cassie também já brincou com a astrologia para entender a política dos EUA.
“O mapa do Trump não tem planetas em signos de terra. A lua dele [o planeta de emoções e interpretações emocionais] está em Sagitário [um signo de fogo], o que explica as emoções intensas e impulsivas que tendem a surgir.”
Espiritualidade ou religião?
Watts diz que “há um argumento técnico a ser feito de que a astrologia é espiritual, potencialmente até religiosa”.
“As pessoas que consultam um horóscopo partem da premissa de que existe um tipo de ordem cósmica abrangente, que de certa forma tem implicações importantes para suas próprias vidas”, afirma.
Apesar disso, as abordagens da astrologia parecem mudar ao redor do mundo.
Na Índia, a astrologia é levada a sério e de forma literal por muitos. Por exemplo, a prática do “casamento por horóscopo” é frequentemente usada para avaliar o quão compatível um casal é para o matrimônio, e a leitura do astrólogo pode ser determinante para as famílias seguirem adiante ou não com o casamento.
Já no Ocidente, a astrologia é usada de uma forma aberta à interpretação individual.
“Quando as pessoas consultam os signos astrológicos, elas tendem a fazer isso de uma forma não dogmática, bastante flexível. Elas podem ler o horóscopo e decidir o quão a sério quem levá-lo. Ele dá uma espécie de orientação, mas sem obrigação de seguir aquilo à risca.”

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Respostas simples para momentos complicados?
Apesar das manchetes anunciarem o aumento da popularidade da astrologia no Ocidente, dados do Pew Center mostram que o número de pessoas que fazem uso dela nos EUA se manteve praticamente estável.
Tanto em 2017 quanto em 2024, cerca de 27% das pessoas nos EUA disseram acreditar na astrologia.
Então, porque existe a percepção de que a crença tem crescido, quando os dados mostram algo diferente?
Watts argumenta que a religião e a espiritualidade antes não eram consideradas tópicos de conversa educada, principalmente pela mídia.
Mas a eleição de Trump como presidente dos EUA, em 2016, trouxe “mudanças radicais no cenário geopolítico”.
“Estamos falando hoje sobre coisas que antes achávamos que não podíamos. As pessoas estão mais abertas ao fato de consultar leituras astrológicas.”
Segundo Watts, para muitas pessoas, o horóscopo pode ser divertido, trazer conforto ou direcionamento. Os eventos mundiais podem ser tão complicados que nem mesmo os especialistas conseguem compreendê-los.
Mas, na visão do professor, usar a astrologia para entender diversas crises pode fragmentar ainda mais o nosso mundo já polarizado.
Ainda assim, ele entende o apelo.
“Nós estamos cercados de problemas que não têm soluções fáceis, e isso vai criar um tipo de desejo instintivo para respostas simples”, afirma.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL