A plataforma Atados, que conecta voluntários a iniciativas sociais, lança nesta sexta (5) um plano para dobrar o número de brasileiros engajados em trabalhos voluntários de maneira regular. A meta é chegar a 14 milhões de pessoas doando seu tempo a causas socioambientais até 2035.
A proposta anunciada no Dia do Voluntário envolve a mobilização e conscientização de diferentes segmentos da sociedade, como escolas e universidades, instituições religiosas, empresas e órgãos públicos acerca da temática e sobre como cada um pode contribuir para ampliar o voluntariado no país.
A estratégia traz respostas a três perguntas: por que cada instituição é fundamental para ampliar a cultura do voluntariado; qual o impacto direto que o voluntariado gera no dia a dia; e de que forma cada uma pode contribuir de maneira concreta para o plano.
Apenas 4,2% da população com 14 anos ou mais realiza algum tipo de trabalho voluntário, segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2022. Isso corresponde a cerca de 7 milhões de pessoas.
O índice é considerado baixo em comparação a países como a Irlanda, onde 14% da população realiza trabalho voluntário regularmente.
Criado em 2012, o Atados atua em 200 cidades, tem 300 mil voluntários 5.000 organizações sociais cadastrados. A plataforma divulga vagas e ações para as instituições e permite que interessados filtrem oportunidades por tema, como causas voltadas a mulheres, população negra e comunidade LGBT+.
Para o fundador da plataforma, Daniel Morais, o Brasil ainda não consolidou uma cultura formal de voluntariado, e é nesse ponto que o plano estratégico da organização deve atuar nos próximos anos.
Exemplo é o dado da pesquisa Datafolha de 2021 de que 4 a cada 5 brasileiros consideram o trabalho voluntário muito importante. No momento do levantamento, 15% dos entrevistados disseram se dedicar à atividade; 33% já prestaram tais serviços; 52% nunca o fizeram. Para quem fez ou faz, a frequência da prestação do serviço era de pelo menos uma vez por semana para 28% e de uma vez por mês para 25%.
Outro problema é a falta de estrutura de muitas organizações sociais, que têm dificuldade para coordenar voluntários após abertura de vagas.
“De um lado, as ONGs não estão preparadas, não têm gestão de voluntários. De outro, não há mobilização suficiente que reflita a vontade das pessoas de se engajar socialmente”, diz ele.
O país até tem uma palavra própria para esse tipo de ação coletiva: “mutirão”, de origem indígena, associada ao trabalho coletivo em prol de um bem comum. “A disposição para colaborar existe, mas nem sempre isso se traduz em ações bem estruturadas”, acrescenta Morais.
O plano não detalha métricas específicas para dobrar o número de voluntários em dez anos, mas a iniciativa desenvolvida pela Atados está alinhada com a agenda da ONU, que em 2026 celebrará o Ano Internacional do Voluntariado para o Desenvolvimento Sustentável.
Com 28 mil ações de voluntariado publicadas desde sua fundação, a plataforma oferece formatos flexíveis de participação, como o voluntariado de um dia, além de eventos e ações de curta duração (há diversas opções em “Natal Solidário”, por exemplo).
Para interessados em apoiar causas relacionadas à equidade racial, por exemplo, há vagas no UBN (Unicamp Black Network), coletivo negro criado em 2020 na faculdade de Campinas (SP) para fortalecer uma comunidade dedicada à conexão e à formação de lideranças negras. E também no Carreiras Ballroom, projeto voltado à empregabilidade de pessoas negras e trans da cena ballroom —movimento cultural, político e artístico historicamente ligado à população LGBTQIA+ preta e periférica.
Ferramentas como o Descubra sua Causa, criado pelo Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social) com o Instituto MOL, ajudam a identificar áreas de interesse.
Para além de se doar a uma causa, Daniel Morais diz que o voluntariado é “estar junto na construção de algo em que você acredita”. Segundo ele, com avanços em estrutura e comunicação, o país pode criar bases para um engajamento mais sólido na causa.
Fonte.:Folha de S.Paulo


