GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) – Dias depois de embarcar em uma missão para furar o bloqueio à Faixa de Gaza e ser detido no caminho por Israel, o ativista brasileiro Thiago Ávila, 38, desembarcou na manhã desta sexta-feira (13) no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, e pediu que o Brasil rompa relações com Tel Aviv.
“Que a gente consiga, através de boicote, desinvestimento, sanções e pressionando o governo brasileiro, romper as relações”, afirmou a jornalistas no aeroporto. “Líderes históricos, em momentos de crise como este, se engrandecem quando têm coragem.”
O avião pousou por volta das 5h40, após uma escala em Madri, na Espanha. Cerca de 50 manifestantes, alguns ligados a partidos de esquerda brasileiros, esperavam o ativista no terminal aéreo com bandeiras da Palestina e cartazes que criticavam as ações de Israel em Gaza. Estavam ali também a esposa, a filha de um ano e o pai de Ávila, além da deputada estadual Mônica Seixas (PSOL-SP).
O ativista fez parte da tripulação do Madleen, barco de uma coalizão internacional chamada Flotilha da Liberdade que denuncia o bloqueio de Israel desde 2010. A embarcação tentava chegar a Gaza com uma quantidade simbólica de ajuda humanitária, mas foi interceptada pela Marinha israelense a cerca de 180 km do território palestino. No total, 12 pessoas estavam na missão, incluindo a ativista sueca Greta Thunberg e a eurodeputada franco-palestina Rima Hassan.
Ávila foi detido no domingo (8) e liberado na quinta-feira (12). Durante esse período, seus familiares afirmaram que ele sofreu maus-tratos, foi colocado em uma solitária e fez greve de fome após se recusar a assinar um documento de deportação que o acusava de ter entrado de forma ilegal em Israel. O ativista afirma não ter assinado documento algum antes de ser expulso -afirmação que não pôde ser checada de forma independente.
“Eles me informaram que eu estou banido de ir para Israel por cem anos, mas eu não tenho intenção nenhuma de ir para Israel. Tenho intenção de ir a uma Palestina livre”, disse. “O povo palestino será livre muito antes disso”, completou, antes de ser interrompido por gritos de “Palestina livre já, do rio ao mar”, entoado pelos manifestantes que o cercavam.
A palavra de ordem, que faz referência ao território entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, é interpretada por apoiadores de Israel como defendendo a remoção de israelenses da região. Manifestantes pró-Palestina, entretanto, negam essa significação e afirmam que a frase é um pedido de liberdade.
O ativista não quis detalhar as condições em que ficou. “Eu poderia falar para vocês várias violações que a gente sofreu nesses quatro, cinco dias, inclusive em regime de solitária. Mas a verdade é que isso é uma pequena fração, porque mais de 10 mil palestinos hoje estão encarcerados nas masmorras de Israel”, afirmou.
Ele também chamou o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, de “inimigo número um da humanidade”. “A gente sabe que Israel está próximo do seu fim, no sentido de que esse regime racista e supremacista precisa acabar para que todos os povos daquela região possam viver com dignidade”, disse.
A retórica de Ávila provocou reações nos últimos dias. Ao longo da entrevista coletiva desta sexta, por exemplo, ele chamou Israel de “aliado mais cruel e odioso” dos Estados Unidos, “Exército de ocupação que finge ser um Estado” e “ditadura terrível”. Questionado sobre as críticas, ele chamou de infundadas as acusações de antissemitismo.
“Ninguém que faz parte da Flotilha odeia qualquer pessoa por religião ou origem étnica”, afirmou. “O nosso problema é com uma ideologia racista e supremacista chamada sionismo.”
Em seu perfil nas redes sociais, onde tem mais de 800 mil seguidores, Ávila mobiliza apoio a causas ligadas à Palestina, mas também a questões como o enfrentamento das mudanças climáticas. Ações midiáticas, com transmissões ao vivo em situações de perigo, são comuns em sua trajetória.
No ano passado, ele esteve no Líbano, onde compareceu ao funeral do antigo líder do Hezbollah morto por Israel, Hassan Nasrallah, e no Irã, onde participou da Cúpula Internacional sobre Gaza a convite da embaixada de Teerã no Brasil.
“Na última metade do século passado, este país foi palco de uma experiência democrática de governo popular muito importante que teve a coragem de nacionalizar o petróleo”, disse o ativista, em referência à ditadura iraniana, no evento do ano passado.
Depois de soltar o brasileiro e outros passageiros do Madleen, o governo de Israel, o mais à direita da história do país, fez uma provocação nas redes sociais: “Tchau, tchau -e não se esqueçam de tirar uma selfie antes de partirem”. Tel Aviv acusa os tripulantes de “encenarem uma provocação midiática com intenção de fazer publicidade”.
Desde o início da guerra com o Hamas, em outubro de 2023, Israel apertou ainda mais o bloqueio que impõe ao território palestino. De março a maio deste ano, Gaza chegou a ficar 11 semanas sem receber nenhuma ajuda, o que agravou uma situação já catastrófica no território, de acordo com organizações humanitárias.
Fonte. :. Noticias ao minuto