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3 de setembro de 2025

Aurora boreal: turismo cresce com avanço de câmeras – 03/09/2025 – Turismo

Aurora boreal: turismo cresce com avanço de câmeras – 03/09/2025 – Turismo

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Em agosto, sobre um calmo lago em Michigan, Karl Duesterhaus, de 34 anos, de Chicago, presenciou um fenômeno incomum: a aurora boreal, que apareceu como cores difusas em um céu noturno mais claro do que o normal. Foi uma experiência legal, disse ele, mas ficou surpreso ao olhar as fotos tiradas com o celular na noite anterior.

“As cores estavam muito mais definidas”, comentou.

Duesterhaus não é o único a se impressionar com a diferença entre as cores sutis percebidas a olho nu e os tons vibrantes que aparecem nas fotos digitais. Muitos viajantes, alguns atraídos pelas imagens deslumbrantes nas redes sociais, também estão percebendo essa diferença.

Com a atividade solar que causa a aurora boreal prevista para atingir o seu pico no próximo ano, as oportunidades para observá-la estão crescendo, com cruzeiros, viagens de trem e excursões. Segundo a empresa de pesquisa de mercado Grand View Research, o turismo voltado para a aurora boreal gerou US$ 843 milhões em 2023 e deve crescer quase 10% ao ano até 2030.

A empresa de turismo Wilderness Travel, com sede em Berkeley, na Califórnia, informou que as reservas para sua viagem de inverno à Islândia —impulsionadas pela aurora boreal — aumentaram, em média, 130% ao ano desde 2021. A demanda por voos de inverno para a Finlândia, um dos principais locais para observação da aurora, cresceu mais de 70% neste trimestre comparado com o anterior.

As hospedagens de inverno na região costeira de Tromso, no norte da Noruega —um destino popular para ver a aurora — aumentaram 7% desde 2019, ultrapassando 202 mil estadias entre janeiro e abril de 2024, segundo a Visit Norway. No ano passado, a companhia de cruzeiros Hurtigruten, com sede na Noruega, nomeou seu primeiro caçador de auroras, o astrônomo Tom Kerss, que estará a bordo durante a rota de inverno em torno da costa norueguesa.

Viagens centradas na natureza, o crescente interesse pelo astroturismo e uma maior compreensão de como e quando ocorrem as auroras ajudam a impulsionar a popularidade do turismo voltado à observação do fenômeno.

Além disso, segundo alguns especialistas do fenômeno, as câmeras de celular —que capturam muitas das imagens compartilhadas nas redes sociais, especialmente no ano passado — também contribuíram para esse aumento de interesse. Tanto que no Borealis Basecamp em Fairbanks, Alasca, um resort de 40 cabanas dedicado à observação de auroras, os hóspedes são informados antes de chegarem sobre a diferença que podem testemunhar.

“Recebemos duas respostas”, disse Adriel Butler, fundador e CEO do Borealis Basecamp. Uma é decepção; a outra mais sutil. “Eles dizem: todas as fotos são retocadas e editadas com imagens maiores que a vida real, mas o que vou ver é realmente real.”

Para entender o que cria as auroras boreais e como nós e as câmeras as vemos de maneira diferente, recorremos aos especialistas.

O que causa as auroras boreais?

Scott Engle, professor assistente de astrofísica e ciência planetária na Universidade Villanova, na Pensilvânia, descreveu o fenômeno das auroras boreais como o resultado visual de partículas emitidas pelo sol encontrando a atmosfera da Terra.

“O sol está sempre perdendo pequenos pedaços de sua própria massa, o que chamamos de vento solar”, disse ele. “Eles atingem qualquer gás na atmosfera da Terra e transmitem sua energia para ele, fazendo-o brilhar.”

O sol passa por um ciclo de atividade de 11 anos. No último ano, a atividade tem sido alta, o que explica mais avistamentos.

“Quando a atividade do sol está no máximo ou próxima dele, o nível de densidade dessas partículas no vento solar aumenta”, disse Engle.

Qual papel a fotografia digital desempenhou na mania da aurora?

Antes da chegada da fotografia digital, conseguir imagens vívidas das auroras boreais exigia um conhecimento profundo de exposições de câmera e velocidade do filme, bom momento e um pouco de sorte.

Isso mudou por volta de 2008 com a introdução de câmeras digitais mais sensíveis à pouca luz, disse Lance Keimig, um fotógrafo baseado em Vermont e parceiro da National Parks at Night, uma organização que ensina fotografia noturna em todo o mundo.

As primeiras câmeras sensíveis à luz “permitiu que as pessoas que já faziam fotografia noturna fossem ao próximo nível” disse Keimig, acrescentando que a tecnologia se popularizou entre fotógrafos mais casuais com a próxima geração de câmeras por volta de 2012.

O advento de câmeras de celular sensíveis à luz antes do pico do ciclo solar, quando avistamentos ocorreram até em regiões mais ao sul dos Estados UnUnidos,omo a Flórida, fez com que a tecnologia se tornasse mais acessível para os observadores de auroras.

Em 2018, a câmera do Google Pixel introduziu o “night sight”, que permitia imagens mais nítidas em situações de pouca iluminação. O modo noturno do iPhone chegou no ano seguinte. A evolução dos aplicativos de edição de fotos e equipamentos leves também contribuíram para o brilho das fotos noturnas.

Sean J. Bentley, professor de física na Universidade Adelphi em Garden City, Nova York, também citou avanços na tecnologia de câmeras para melhores imagens desde o último ciclo solar, que durou de 2008 a 2019.

“Mesmo tão recentemente quanto o último pico no início de 2014, a maioria das câmeras digitais, inclusive a dos celulares, não conseguiam obter boas imagens noturnas nem mesmo de objetos brilhantes e estáveis como a lua, e muito menos de auroras”, escreveu Bentley em um e-mail.

Por que minha câmera está vendo mais do que meus olhos?

A lente da tecnologia é melhor que a humana quando se trata de visão noturna. Basicamente, os fotorreceptores no olho assumem duas formas principais, bastonetes e cones. Os bastonetes são mais sensíveis à luz, mas não conseguem detectar cores. Com luz suficiente, os cones entram em ação para determinar as cores.

“Toda vez que levantamos durante a noite, não diferenciamos bem as cores quando estamos em um ambiente escuro”, escreveu Bentley.

As câmeras são mais eficazes na detecção de cores porque podem lidar com uma exposição mais longa do que o seu olho, explica Engle. “O detector digital que sua câmera possui é provavelmente muito mais sensível aos comprimentos de onda vermelhos do que seu olho, e vai captar essas ondas mais longos e avermelhados muito melhor”, disse.

E há uma série de outros aprimoramentos baseados em IA nas câmeras de celular que podem produzir fotos que antes só câmeras de alta qualidade conseguiam, incluindo tirar muitas fotos em rápida sucessão e usar tecnologia para combiná-las em uma imagem mais nítida, colorida e clara.

Então, essas fotos da aurora são reais?

Douglas Goodwin, pesquisador Fletcher Jones em Computação e professor assistente visitante em estudos de mídia no Scripps College em Claremont, Califórnia, publicou um artigo sobre esse assunto em maio no Conversation, um site de notícias sem fins lucrativos. Em seu artigo, Goodwin removeu os aprimoramentos comumente feitos pelas câmeras de smartphones para produzir duas imagens da aurora — uma que se aproximava da visão a olho nu e outra tirada com a câmera do telefone.

“Os telefones estão exagerando um pouco, mas não inventando completamente”, disse Goodwin em uma entrevista. “Eles estão vendo melhor do que nós poderíamos.”

Como posso fotografar a aurora?

Fique acordado até tarde. Segundo a NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional), as luzes são mais ativas em uma ou duas horas da meia-noite.

Em suas expedições fotográficas, Stephanie Vermillion, escritora e fotógrafa de astroturismo baseada em Cleveland e autora de “100 Nights of a Lifetime: The World’s Ultimate Adventures After Dark”, disse que ela escaneia o horizonte com a câmera do celular caso não consiga ver nenhuma atividade, “porque ela (a câmera) consegue enxergar melhor do que eu”.

Ela configura a câmera para fotografar no modo time lapse (para usuários de iPhone, ela sugere o aplicativo NightCap), e então o observa o evento com seus próprios olhos.

“Se eu estiver constantemente mexendo na minha câmera, vou arruinar o momento”, disse Vermillion.

Matéria publicada originalmente no The New York Times.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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