11:54 AM
16 de outubro de 2025

Bacharelados em psicanálise deixariam Freud de cabelo em pé

Bacharelados em psicanálise deixariam Freud de cabelo em pé

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Uma nova fronteira de ameaça à saúde mental se apresenta no horizonte: a apropriação da psicanálise por grupos alheios à sua tradição de ensino e transmissão.

Neste horizonte, avistamos as ditas “psicanálises” cristãs, “psicanálises” positivas e, também, os bacharelados em “psicanálise”, que compõem uma massa amorfa de práticas que em nada se aproximam da clínica psicanalítica calcada na tradição freudiana e ensinadas nas mais diversas escolas espalhadas pelo Brasil.

Por estarem organizadas em um modelo de transmissão e formação que podemos chamar de artesanal, estas escolas asseguram uma prática que sempre resultou em uma contribuição significativa para a saúde mental em nosso país.

+Leia também: Freud & cia no divã: os debates atuais sobre a psicanálise

Psicanalistas representando diversas entidades reconhecidas pelos altos padrões na formação e desenvolvimento da psicanálise estiveram reunidos em Brasília, no dia 18 de setembro, em uma Audiência Pública na Câmara dos Deputados para denunciar ataques que a psicanálise brasileira vem recebendo recentemente e defender a manutenção da qualidade de seu percurso formativo.

O que estava em jogo era a defesa da não regulamentação pelo Estado da psicanálise no Brasil e a manutenção da formação de psicanalistas feita exclusivamente por organizações sem fins lucrativos que seguem os princípios estabelecidos por Freud, além do fim dos cursos de bacharelado em psicanálise recém-abertos por centros universitários privados.

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Brasil é destaque mundial na psicanálise

A psicanálise brasileira vive hoje um momento muito fecundo. Nosso país é um dos grandes centros da psicanálise no mundo e ocupa uma posição de vanguarda neste campo de saber, com pesquisadores e escolas de renome internacional, práticas e debates inovadores e aumento do interesse social, atraindo novos pacientes para os consultórios e interessados neste ofício.

Neste contexto, o Movimento Articulação das Entidades Psicanalíticas Brasileiras representa algo nunca visto antes em toda história da psicanálise: a união de escolas distintas, que partem de leituras diversas da psicanálise, mas que encontram nos princípios freudianos um lugar comum de reconhecimento e debate que fundamentam a defesa da formação de qualidade para os interessados neste campo de conhecimento e prática em nosso país.

Em um contexto de mundo marcado por uma crise de saúde mental aliada à crescente popularização da psicanálise no Brasil, não é de se estranhar que este campo atraia o interesse de grupos alheios à sua história e tradição.

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Organizações que representam interesses financeiros, políticos e religiosos voltam seus olhares para essa prática, cuja vulnerabilidade é, justamente, sua grande força: não ser uma profissão propriamente dita, mas um ofício; não ser uma área de formação e atuação regulamentada pelo Estado, mas um fazer laico e leigo.

O que estava em jogo em Brasília era um debate entre essa comunidade que sempre cuidou da formação dos psicanalistas em solo nacional e aqueles que ignoram a importância dos pilares fundamentais da formação dos psicanalistas.

A formação psicanalítica não pode ser industrial

Antes que se argumente tratar-se de corporativismo ou reserva de mercado, é preciso lembrar que não se formam psicanalistas em escala industrial, que este é um trabalho artesanal e que vem sendo conduzido com muita competência em nosso país por escolas que se proliferam em solo nacional livremente, mas sempre em coerência com a tradição psicanalítica. O que não se pode admitir é a burla.

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Não é de hoje que grupos com interesses espúrios, em sua ignorância ou malícia, pervertem a leitura de Freud e ameaçam o campo da saúde mental. A burla não é compatível com a psicanálise, que tem na verdade do sujeito o seu grande lastro.

Criar formas “alternativas” de formação em relação ao que Freud propôs é trapacear em um jogo cujos principais derrotados serão os pacientes que buscam uma escuta especializada para lidar com os seus sofrimentos.

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Fonte.:Saúde Abril

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