São Paulo tem uma categoria muito própria de estabelecimento, ubíqua e polivalente, difícil de definir. São aqueles lugares que abrem bem cedinho, para o café dos trabalhadores, e vão até tarde da noite. Servem almoço comercial e, durante todo o expediente, funcionam como bar.
Muitos (inclusive eu) os chamam esses pontos de boteco, embora sejam mais do que isso. Outros os classificam como bar e lanches, expressão que ostentam no letreiro.
Padoca, diminutivo de padaria, é um nome que pegou. Você pode apontar flagrante equívoco no termo, uma vez que o bar e lanches não faz pão. Mas de nada adianta brigar com o linguajar rueiro. Que seja padoca, portanto.
As padocas estão em transformação.
Enquanto os bares da elite investem na estética da pobreza para se fingirem botecos, elas vão no sentido oposto. Querem parecer chiques. Fecham para reforma e reabrem repaginadas. São as padocas da Shopee.
O makeover do bar e lanches substitui o visual classicamente tacanho —luz branca, frutas em exposição, luminosos com fotos de comida— por algo que lembra a decoração dos apartamentos de Airbnb.
Almocei dias atrás num desses lugares, o Rainha 3. No meio do canteiro de obras que se tornou Perdizes, ele apareceu no meu mapa mental como se fosse novidade. Então vi o letreiro, e lá estava: desde 2014 (o Google Maps ainda mostra a versão antiga, uma portinha sem atrativo algum).
Agora tem fachada vistosa. No salão, madeira escura ou material sintético que imita madeira. Lâmpadas que tentam parecer antigas, com filamento visível. Em todas as mesas, tomada para o celular e, pasme, um tablet para fazer os pedidos.
Fui atendido por um humano e, minutos depois, meu frango acebolado chegou com o feijão numa panelinha de inox. Adeus, baixela de alumínio.
Todos os equipamentos das padocas 2.0 parecem saídos do catálogo de lojas chinesas como Shopee, Shein ou Alibaba. Talvez sejam.
Para quem ainda duvida que a China possa exercer influência cultural no Brasil, está aí uma prova de que já exerce. Não são apenas luminárias e objetos de decoração made in China. É um padrão estético que, gostemos ou não, tomou de assalto os imóveis de temporada e, agora, os botecos. Perdão: as padocas.
Para contrastar com a shopeeficação do bar e lanches (aquele lance de yin e yang, manja?), uma receita de boteco muito, muito raiz: ovos coloridos.
Ovos cozidos coloridos
Ingredientes
- Ovos inteiros, com casca
- 1 beterraba
- 2 colheres (sopa) de urucum ou colorau
- Sal e vinagre a gosto
Preparo
- Pique a beterraba e ferva em bastante água até que ela solte a cor. Reserve
- Em outra panela, ferva o urucum até ele soltar a cor na água. Reserve
- Numa terceira panela, ferva bastante água e cozinhe os ovos por 10 minutos. Espere esfriar e descasque
- Ponha alguns ovos na água de beterraba, outros na
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Fonte.:Folha de S.Paulo