CÉZAR FEITOZA E MATEUS VARGAS
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A defesa de Jair Bolsonaro (PL) acusou nesta sexta-feira (22) a Polícia Federal de montar uma “peça política” ao revelar conteúdos encontrados no celular do ex-presidente. Disse ainda que a minuta de um pedido de asilo direcionada ao presidente da Argentina, Javier Milei, localizada no telefone, não pode ser considerada uma tentativa de fuga do Brasil ou descumprimento de medidas cautelares pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
A manifestação foi enviada à corte após o ministro Alexandre de Moraes determinar que a defesa do ex-presidente esclarecesse em até 48 horas “os reiterados descumprimentos das medidas cautelares impostas, a reiteração das condutas ilícitas e a existência de comprovado risco de fuga”, que teriam sido demonstrados pela PF.
A equipe comandada pelo advogado Celso Vilardi afirmou ao Supremo que a minuta do pedido de asilo não poderia justificar uma prisão preventiva do ex-presidente porque não é um “fato contemporâneo” e porque não houve fuga.
“Parece claro que um rascunho de pedido de asilo ao presidente argentino, datado de fevereiro de 2024, não pode ser considerado um indício de fuga”, afirma.
“Fato é que, com ou sem o rascunho, o ex-presidente não fugiu. Pelo contrário, obedeceu a todas as decisões” do Supremo, “inclusive a que o proibia de viajar ao exterior, respondeu à denúncia oferecida, compareceu a todas as audiências, sempre respeitando todas as ordens” do STF, completa.
A PF indiciou Bolsonaro e seu filho Eduardo, deputado pelo PL de São Paulo, sob suspeita de prática dos crimes de coação e abolição do Estado democrático de Direito. Segundo as investigações, eles se articularam para levar autoridades do governo Trump, nos EUA, a tentarem interferir no julgamento sobre a trama golpista de 2022 e 2023, no qual o ex-presidente é réu.
A Polícia Federal diz ainda que o ex-presidente descumpriu ordem de Moraes de não usar rede social nem sua nem por meio de terceiros. Agora, caberá a Moraes avaliar os argumentos da defesa e decidir se pede manifestação da PGR (Procuradoria-Geral da República). Uma das possibilidades é o ministro agravar a situação de Bolsonaro com eventual prisão preventiva.
Além de articulações de Eduardo nos EUA, as mensagens encontradas no celular de Bolsonaro revelaram troca de ofensas dirigidas pelo deputado a seu pai e ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e xingamento do pastor Silas Malafaia ao filho do ex-presidente.
Análise de dados Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) juntada ao inquérito também mostraram que Bolsonaro (PL) recebeu cerca de R$ 44,3 milhões em suas contas bancárias de março de 2023 a junho de 2025, quase metade em Pix.
No documento ao STF, a defesa de Bolsonaro acusa a Polícia Federal de agir de forma política para “desmoralizar um ex-presidente da República”, de forma a expor sua vida privada com acusações sobre fatos graves e descabidos.
“O relatório da Polícia Federal só demonstra sua parcialidade e faz lembrar que essa mesma Polícia Federal foi responsável pela triagem de todas as mensagens que foram utilizadas pela acusação no processo penal [sobre a trama golpista]”, diz.
Vilardi e os demais advogados dizem que o objetivo foi alcançado pela PF: “Manchetes no Brasil e no exterior anunciando que o ex-presidente planejou uma fuga. Nada mais falso, mas nada mais impactante, sobretudo há [sic] pouco mais de 10 dias do julgamento”.
Ao STF, a defesa negou ainda que Bolsonaro tenha conversado com o ex-ministro Walter Braga Netto, também réu na trama golpista, após a decisão de Moraes, de fevereiro de 2024, que proibiu a comunicação entre os investigados.
A Polícia Federal disse que há indício do descumprimento da medida cautelar por ter encontrado uma mensagem de SMS enviada pelo general a Bolsonaro horas após a proibição determinada por Moraes. Não há registro de resposta do ex-presidente.
“É incrível ter que dizer que a inexistência de resposta é o exato contrário de manter contato. Eis por que impressiona muito mal a tentativa de afirmar que a medida cautelar de 2024 havia sido prontamente descumprida… com o silêncio do ex-presidente”, completa.
O relatório afirma que Bolsonaro e Eduardo tentaram “atingir diretamente instituições democráticas brasileiras, notadamente o Supremo Tribunal Federal e, até mesmo, o Congresso Nacional Brasileiro, objetivando subjugá-las a interesses pessoais e específicos vinculados aos réus julgados no âmbito da mencionada ação penal”, diz a PF.
A investigação mostra que a minuta de pedido de asilo político ao presidente da Argentina. O arquivo teria sido criado e editado por um usuário no nome da esposa do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), segundo os investigadores.
Ao cobrar a resposta da defesa do ex-presidente, o ministro do STF apontou como evidências de descumprimento de medidas cautelares, entre outros pontos, diálogos de Bolsonaro com o pastor Silas Malafaia. O líder religioso também teve celular e passaporte apreendidos em operação da Polícia Federal na última quarta.
Para os investigadores, Malafaia incentivou que Bolsonaro descumprisse a proibição de uso das redes e o orientou sobre estratégias para a divulgação de conteúdos. O líder evangélico também revisou uma carta do ex-presidente que foi publicada nas redes sociais.
Os investigadores também afirmaram que Bolsonaro e Eduardo usaram as contas de suas esposas em transações para evitar bloqueios de recursos. Pai e filho utilizaram “diversos artifícios para dissimular a origem e o destino de recursos financeiros, com o intuito de financiamento e suporte das atividades de natureza ilícita do parlamentar licenciado no exterior”, segundo a PF.
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Fonte. Noticias ao minuto