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20 de junho de 2025

Brasil entra na mira de empresas chinesas – 20/06/2025 – Mercado

Brasil entra na mira de empresas chinesas – 20/06/2025 – Mercado

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Empresas chinesas precisam urgentemente encontrar novos mercados. A competição é intensa no mercado doméstico, onde o colapso do mercado imobiliário deixou os consumidores relutantes em gastar. E as crescentes tensões comerciais tornaram mais difícil e custoso vender produtos nos Estados Unidos e na Europa, que há muito tempo são dois dos maiores destinos para as exportações chinesas.

Como resultado, algumas das maiores marcas chinesas de internet e comércio eletrônico fixaram seus objetivos em se estabelecer como nomes familiares em outras partes do mundo, como o Sudeste Asiático, o Oriente Médio e a América do Sul.

O Brasil emergiu como o prêmio mais cobiçado. Maior economia da América Latina, o país se tornou um farol para as empresas chinesas de entrega e transporte por aplicativo que buscam exportar seus modelos de negócios de custos implacavelmente baixos. Gigantes chineses do comércio eletrônico também veem potencial aqui enquanto buscam novos compradores para uma enxurrada de produtos após tarifas e outras restrições nos Estados Unidos fecharem seu maior mercado de exportação.

A Meituan, maior empresa de entrega de alimentos da China, disse em maio que gastaria US$ 1 bilhão (R$ 5,5 bilhões) para estabelecer operações no Brasil. A Mixue, empresa chinesa de chá e sobremesas que superou o McDonald’s como a maior rede de fast food do mundo, disse que contrataria milhares de pessoas no país. A TikTok Shop, enfrentando escrutínio nos Estados Unidos e no Reino Unido sobre sua empresa-mãe chinesa, foi lançada no Brasil em maio.

“As empresas chinesas estão achando mais difícil crescer domesticamente”, disse Vey-Sern Ling, consultor de ações em Singapura no banco privado Union Bancaire Privée. “Exportações e expansão internacional são uma maneira de sustentar o crescimento contínuo.”

O interesse chinês no Brasil surge à medida que os dois países aprofundam seus laços econômicos. O valor total do comércio entre China e Brasil praticamente dobrou na última década, com empresas chinesas comprando soja brasileira e consumidores no Brasil comprando carros e eletrônicos chineses.

No mês passado, enquanto autoridades de Washington e Pequim negociavam sobre a possibilidade de reduzir tarifas que haviam paralisado seu comércio, empresas chinesas anunciaram planos para investir cerca de US$ 4,7 bilhões (R$ 2,8 bilhões) no Brasil. Os investimentos incluem projetos de mineração e energia renovável, além da expansão da fabricação automotiva.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também se reuniu com o líder chinês, Xi Jinping, em Pequim. Os dois líderes posicionaram sua relação como um contrapeso à influência dos EUA.

Analistas dizem que a boa vontade deu às empresas chinesas confiança para apostar no Brasil. “A relação entre os dois países é realmente boa, e a expectativa é que continue assim por um bom tempo”, disse Jianggan Li, CEO da Momentum Works, uma consultoria em Singapura.

Mas as empresas chinesas não têm garantia de sucesso no Brasil. Suas táticas podem atrair o escrutínio dos reguladores enquanto tentam atrair clientes e contratar trabalhadores locais, disse Li, que anteriormente foi executivo da Food Panda, que compete em Hong Kong com o serviço de entrega de alimentos da Meituan, Keeta.

A Meituan é conhecida por sua abordagem implacável. Na China, operou com prejuízo por anos, oferecendo aos consumidores descontos acentuados para superar os concorrentes. Em 2023, a empresa lançou a Keeta em Hong Kong, sua primeira incursão fora da China continental. Em menos de dois anos, a Keeta expulsou do mercado uma das principais plataformas de entrega de alimentos de Hong Kong, a Deliveroo.

A Meituan empregou táticas semelhantes no ano passado quando lançou a Keeta na Arábia Saudita, onde rapidamente se tornou a plataforma de entrega dominante na maioria das principais cidades.

Analistas esperam que a Meituan opere da mesma forma no Brasil. O foco da empresa não será obter lucro, mas se tornar o aplicativo de entrega usado pelo maior número de pessoas.

“Quando as empresas chinesas vão para o exterior, ganhar dinheiro é a prioridade secundária —elas querem dominar o mercado primeiro”, disse Heatherm Huang, cofundador da Measurable AI, uma empresa de tecnologia de Hong Kong que analisa dados de compras online para empresas financeiras.

Muitas marcas chinesas de consumo já avançaram no Brasil.

O país é um dos maiores mercados para a varejista de moda rápida Shein, que construiu três armazéns perto de São Paulo.

A Didi, conhecida por expulsar o Uber da China, assumiu a startup brasileira 99 em 2018 e tem sido um dos principais negócios de transporte por aplicativo no país desde então.

A Temu, o braço internacional da empresa chinesa de comércio eletrônico Pinduoduo, começou a vender produtos para brasileiros no ano passado. O principal artifício da Temu tem sido dizer aos compradores que estão obtendo itens com descontos acentuados, frequentemente de 70% ou mais.

O impulso para expandir em lugares como o Brasil é motivado, em parte, pelo aumento da concorrência na China e por restrições e escrutínio regulatório em outros grandes mercados.

Empresas chinesas de comércio eletrônico, incluindo Temu e Shein, sofreram um grande golpe nos Estados Unidos no mês passado, quando a administração Trump encerrou uma política que permitia a entrada de pacotes de baixo valor da China no país sem impostos. Legisladores na União Europeia estão debatendo uma mudança semelhante.

No Brasil, remessas da Temu e Shein são taxadas em pacotes com valor inferior a US$ 50 desde o ano passado. Mas a 20%, o imposto é menos da metade da taxa agora cobrada pelos Estados Unidos.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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