
Crédito, Adriano Machado/Reuters
- Author, Julia Braun
- Role, Enviada da BBC News Brasil a Roma
“Não se vai devolver a vida dos milhões que morreram, mas se devolve, pelo menos, o direito das pessoas de viverem tranquilas, sem medo de uma bomba, sem medo de um prédio cair”, disse o presidente, em uma entrevista coletiva realizada após sua participação no Fórum Mundial da Alimentação, promovido pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Lula foi ainda questionado sobre o futuro das relações entre Brasil e Israel após o cessar-fogo e deu a entender que a normalização dos laços depende de uma saída do atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, do governo.
“O Brasil não tem um problema com Israel. O Brasil tem problema com o Netanyahu”, disse. “A hora que Netanyahu não for mais governo, não haverá nenhum problema entre Brasil e Israel, que sempre tiveram uma relação muito boa”.
Lula disse também que as notícias sobre Gaza mostram que está na hora “de começar a resolver o problema da guerra na Ucrânia”, em referência ao conflito com a Rússia.
Em um encontro a portas fechadas na manhã desta segunda, o presidente brasileiro trocou presentes com o pontífice e disse ter discutido o tema da pobreza e da injustiça social.
“Eu posso dizer que houve muita química na minha relação com o papa”, disse Lula, após a audiência. “Parecia que eu estava conversando com alguém que eu já conhecia há 20 anos, 30 anos.”
Inicialmente, a ida de Lula seria tratada como uma visita de Estado, mas, poucas horas antes do encontro, a Santa Sé informou ao governo brasileiro que haveria apenas uma reunião privada, sem todas as honras endereçadas a outros líderes mundiais.
Segundo um membro do Ministério de Relações Exteriores brasileiro, a decisão de mudar o programa foi do Vaticano.
Carla Zambelli e novo ministro do STF
Ao ser questionado sobre o caso de Carla Zambelli, presa na Itália, o petista disse que “nem se lembrava” do nome da deputada federal.
Zambelli deixou o Brasil depois de ser condenada a 10 anos de prisão, em maio, pelo STF. O Brasil pede a extradição da parlamentar.
“Nem lembrava desse nome. Se você não pergunta, eu nem sabia que ela estava aqui ou não”, disse Lula após ser questionado sobre o tema por uma jornalista.
“Para mim é uma pessoa que não merece respeito do que é uma democracia. Ela vai pagar pelo erro que fez, ou aqui ou no Brasil. Portanto, é uma questão da Justiça, não é uma questão minha”, declarou.

Crédito, Evelyn Hockstein/Reuters
O presidente disse que sua indicação deve ser baseada na capacitação do novo magistrado.
“Não sei se mulher ou homem, não sei se preto ou branco. Quero, antes de tudo, uma pessoa gabaritada para ser ministro da Suprema Corte. Eu não quero um amigo, quero um ministro da Suprema Corte que terá com função específica cumprir a Constituição brasileira. É essa a única qualidade que eu quero”, afirmou.
‘A fome é irmã da guerra’
O principal compromisso na agenda oficial de Lula em Roma foi sua participação no evento da FAO.
O presidente brasileiro participou de uma reunião do Conselho de Campeões da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, um projeto de iniciativa brasileira criado durante a presidência do país do G20 em 2024.
Posteriormente, discursou na plenária do Fórum, onde defendeu que os pobres sejam colocados no orçamento de seus países. “Não se trata de assistencialismo”, garantiu.
O presidente também fez referência à guerra em Gaza em seu pronunciamento e disse que “a fome é irmã da guerra”.
“Conflitos armados, além do sofrimento humano e da destruição da infraestrutura, desorganizam cadeias de insumos e alimentos. Barreiras e políticas protecionistas de países ricos desestruturam a produção agrícola no mundo em desenvolvimento.”
“Da tragédia em Gaza à paralisia da Organização Mundial do Comércio, a fome tornou-se sintonia do abandono das regras e das instituições multilaterais”, completou o presidente brasileiro em seu discurso.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL