Segundo um relatório global da Federação Mundial da Obesidade, até 2035, um terço das crianças e adolescentes e 41% dos adultos estarão obesos no Brasil. São dados alarmantes, já que o excesso de peso está associado a uma série de outros problemas de saúde, como diabetes e hipertensão arterial. Mas é possível evitar esse cenário.
É o que propõe o documento “Obesidade no Horizonte 2035: Desafios Sistêmicos e Perspectivas para o Brasil”, produzido pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS).
A entidade indica estratégias a serem tomadas pelos sistemas privado e público de saúde no combate da condição, que já foi chamada de pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Pessoas com obesidade estão mais sujeitas a enfrentarem doenças crônicas e têm uma menor expectativa de vida, além de conviverem com o estigma da doença, que também pode comprometer a saúde mental. Precisamos trabalhar para evitar esses impactos na saúde da população”, afirma José Cechin, superintendente executivo do IESS.
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Para além de mudanças na dieta e no comportamento do indivíduo, a instituição foca em soluções que os sistemas de saúde podem aderir para otimizar a redução do peso da população.
A criação de linhas de cuidado para pacientes com obesidade, o aumento de taxas para produtos alimentos calóricos e uma maior integração entre o Sistema Único de Saúde e o sistema suplementar são algumas das vias para reduzir o número de casos em até 25% e frear os custos astronômicos da doença.
A seguir, confira quatro estratégias destacadas no estudo.
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1. Mudanças na remuneração da saúde suplementar
Uma das propostas do IESS é que o pagamento de serviços prestados nos sistema privado não se baseie somente pela consulta ou procedimento realizado (no esquema fee-for-service), mas também pelo desfecho atingido.
“A ideia é que a remuneração seja feita também conforme o valor gerado pelo serviço. Se houver uma redução do IMC do paciente ou de complicações, por exemplo, é recebido um valor adicional”, explica Cechin.
Para os especialistas, essa é uma forma de incentivar que o problema seja abordado e que hajam mais resultados positivos no tratamento da condição.
2. Linha de cuidado para obesidade
Hospitais, clínicas e planos de saúde já oferecem alguns programas especializados no tratamento de certa condições. A ideia é expandir o número de projetos que foquem na redução do peso de maneira saudável e com acompanhamento contínuo do paciente, ajudando-o a manter os resultados a longo prazo.
As linhas de cuidado visam estabelecer critérios de triagem e intervenção, definindo quais são os melhores protocolos clínicos e padronizando-os para controlar a condição, que é crônica.
“É preciso considerar que o tratamento da obesidade é multidisciplinar. O paciente precisa ser assistido por endocrinologistas, nutricionistas, educadores físicos, psicólogos, entre outros profissionais”, ressalta Cechin. “O intuito da criação de linhas de cuidado é que os pacientes tenham fácil acesso a todos eles.”
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3. Medidas fiscais e regulatórias
A terceira estratégia para combater a obesidade no país é a criação de tributações para alimentos ultraprocessados, que são menos nutritivos, mais calóricos e ricos em aditivos — favorecendo o ganho de peso.
Além disso, é necessário criar subsídios para estimular a produção e o consumo de alimentos saudáveis.
Muitas vezes, o que vemos hoje nos mercados são alimentos de baixo valor nutricional com preços mais baratos do que alimentos nutritivos, como frutas e verduras. Uma forma de desincentivar o consumo desses produtos é tornando mais acessível o preço dos itens saudáveis, além de investir em educação alimentar nas escolas e campanhas de conscientização.
“A proposta é propor ao Congresso Nacional uma legislação para taxar em 15% as bebidas açucaradas e os ultraprocessados, uma iniciativa inspirada no México, que registrou uma redução de 7,6% no consumo desses produtos após a taxação”, explica Felipe Delpino, nutricionista e pesquisador do IESS.
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4. Maior integração entre SUS e saúde suplementar
Por fim, a última estratégia proposta pelo estudo é a integração de dados dos sistemas público e privado de saúde. “É essencial para monitorar pacientes e a evolução do controle da obesidade no país, já que hoje carecemos de informações oficiais sobre a prevalência da condição”, afirma Cechin.
A integração de dados também é importante para que os gestores de saúde tomem melhores decisões e proponham estratégicas mais assertivas para tratar a obesidade, que gera gastos bilionários ao país.
Estima-se que, por ano, o Brasil perca R$ 70 bilhões com despesas médicas e improdutividade causada pela obesidade e por comorbidades associadas a ela.
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Fonte.:Saúde Abril