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17 de novembro de 2025

Brasileiros acham pterossauro dentro de vômito fóssil – 17/11/2025 – Ciência

Brasileiros acham pterossauro dentro de vômito fóssil – 17/11/2025 – Ciência

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Uma nova espécie de pterossauro (réptil voador) da Era dos Dinossauros só foi descoberta por pesquisadores brasileiros porque pedaços do animal foram vomitados pelo superpredador que o comeu, de acordo com um estudo publicado no dia 10 deste mês.

O fim indigno não impediu a análise detalhada do fóssil, revelando que se tratava de um dos tipos mais especializados de pterossauros. Sua dentição mais parecia um pente fino, sendo provavelmente usada para filtrar os pequenos invertebrados aquáticos dos quais o bicho se alimentava. Répteis voadores desse tipo ainda não tinham sido achados em território brasileiro.

Publicado na revista especializada Scientific Reports, o trabalho foi coordenado por Aline Ghilardi, paleontóloga do Departamento de Geologia da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). O novo pterossauro, com idade estimada em 110 milhões de anos, recebeu um nome científico indígena: Bakiribu waridza. O significado é algo como “boca de pente” no idioma kariri, pertencente à família linguística macro-jê, atualmente em processo de revitalização e nativo da área onde a espécie foi encontrada.

A região natal do bicho é a chapada do Araripe, que abrange principalmente parte do interior do Ceará, mas também áreas de Pernambuco e do Piauí. O Araripe é o território brasileiro mais rico em fósseis altamente preservados da Era dos Dinossauros, incluindo tecidos moles, como músculos, pele e mesmo penas.

O B. waridza estava armazenado há décadas no Museu Câmara Cascudo, da UFRN, ainda sem descrição formal. Segundo os pesquisadores, quem notou que havia algo de diferente no fóssil foi o estudante de biologia William Bruno de Souza Almeida. Ele percebeu que não se tratava de um peixe, conforme se acreditava, e alertou Ghilardi, sua orientadora.

Com a ajuda de colegas da USP e da Urca (Universidade Regional do Cariri), a equipe concluiu que o bloco contendo fósseis trazia não só peixes como também pedaços do crânio afilado de um pterossauro, correspondendo principalmente à mandíbula e ao maxilar, da ponta do focinho até mais ou menos a metade dessas regiões.

E havia, claro, os dentes muito finos –quase 150, de um total estimado entre 400 e 500. O conjunto dos ossos e da dentição foi que lhes permitiu bater o martelo: tratava-se de um membro do grupo dos Ctenochasmatidae, já conhecidos a partir de fósseis achados na Argentina, no Uruguai e no Chile. Desses, o mais conhecido é o argentino Pterodaustro guinazui, que pode ter tido cerca de mil dentes semelhantes a cerdas. Acredita-se que ele se alimentava feito os flamingos atuais, “coando” pequenos crustáceos com a ajuda da dentição especializada –já se especulou até que, por causa da dieta rica em pigmentos vindos do organismo desses invertebrados, ele também poderia ter adquirido a coloração rosada dos flamingos modernos.

A dentição da nova espécie nordestina não é tão especializada quanto a do Pterodaustro. A distância interdental da espécie brasileira –ou seja, entre cada um dos dentes– é o dobro da que se vê no animal da Argentina, não chegando a formar uma “barbatana” fechada de dentes e ficando numa posição considerada intermediária se comparada às diferentes formas de seu grupo. Ainda assim, já parece ter sido suficiente para o animal atuar como filtrador, de acordo com a equipe da UFRN e seus colegas.

Segundo a análise conduzida pelo grupo, a mistura dos fragmentos do maxilar e da mandíbula com peixes num único “pacote”, bem como a orientação espacial dos ossos fossilizados, sugere fortemente que o conjunto corresponde a um regurgitólito. Ou seja, trata-se do que acontece quando um animal regurgita sua comida e ela acaba se fossilizando (o sufixo “-lito” no final da palavra, com o significado de “pedra”, também é usado na designação dos coprólitos, ou fezes fossilizadas).

Considerando as dimensões dos ossos, o cenário mais provável, segundo os paleontólogos, é que o réptil voador tenha sido devorado por um dinossauro de grande porte, como os espinossauros cuja presença já foi documentada no Araripe. Pode ser que o pterossauro tenha sido comido primeiro que os peixes e que o predador tenha vomitado os restos do esqueleto porque eles estavam obstruindo a passagem de mais comida. Como o regurgito é acompanhado por considerável quantidade de muco, faz sentido que os restos ficassem grudados e se fossilizassem juntos.

O fóssil deverá voltar a seu lugar de origem, o Araripe, no Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens no município de Santana do Cariri, no Ceará.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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