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- Author, Joana Rei
- Role, De Portugal para a BBC News Brasil
O Parlamento de Portugal aprovou nesta terça-feira (30/9) a nova versão de um projeto anti-imigração, que modifica a a Lei de Estrangeiros, depois da proposta inicial do governo ter sido barrada pelo Tribunal Constitucional.
Durante o debate antes da aprovação, o ministro da Presidência, Leitão Amaro, afirmou que a lei “restringe fluxos, equilibrando imigração com responsabilidade e com humanismo”, classificando o texto como “moderado”.
“Esta é uma lei irrecusável para qualquer partido moderado e de bom senso. Hoje é o momento das escolhas. A história julgará quem aprovar ou rejeitar a lei”, disse.
A lei foi aprovada com 160 votos a favor e 70 contra.
O Partido Socialista e toda a esquerda votaram contra.
O texto agora será analisado pelo presidente do país, Marcelo Rebelo de Sousa, que pode sancioná-lo ou vetá-lo.
Mas, afinal, o que muda para os imigrantes que querem entrar ou permanecer no país? E como a lei afeta os brasileiros?
Entenda em 7 pontos-chave.
Visto de trabalho
A partir de agora, o visto de trabalho será restrito a profissionais “com altas qualificações”. A lista de profissões ainda não foi divulgada pelo governo.
Até então, o visto de trabalho era um dos mais procurados nos consulados com mais demanda, como é o caso do Brasil.
Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros, em 2024 foram concedidos 32.000 vistos de trabalho pela rede consular portuguesa, sendo que 40% deles —cerca de 13.000 — a cidadãos brasileiros.
Os brasileiros em Portugal trabalham em todas as áreas da economia.
Segundo dados de junho de 2024 do Banco de Portugal, a nacionalidade liderava entre os trabalhadores estrangeiros em todos os setores, exceto em agricultura e pesca, em que predominam indianos, nepaleses e bengalis.
O Partido Socialista tentou incluir neste visto os “trabalhadores para áreas essenciais”, mas a proposta foi rejeitada.

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Pedido de residência
Os brasileiros e demais membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) não vão mais poder entrar no país como turistas e para depois pedir a residência em Portugal.
A partir de agora, todos os cidadãos que queiram residir no país terão que fazer o pedido nos consulados e só entrar em Portugal quanto estiverem com o visto adequado para a situação.
Reagrupamento familiar
Essa foi uma das medidas mais debatidas e a que sofreu mais alterações depois de ter passado pelo tribunal Constitucional.
Ainda assim, o texto endurece as exigências para o reagrupamento familiar — a solicitação para que parentes de imigrantes regularizados no país também possam viver em Portugal.
Até então, os imigrantes podiam reagrupar suas famílias assim que tivessem o visto de residência.
A nova lei estabelece um prazo geral de residência no país de dois anos para pedir o reagrupamento, com algumas exceções.
As famílias com “filhos menores ou incapazes”, e “cônjuges ou equiparados” continuam autorizados a pedir o reagrupamento assim que conquistarem a residência, e já com os familiares em solo português.
Também ficam de fora aqueles que possuem vistos de trabalho de altas qualificações ou com autorização de residência de investimento, os chamados “golden visas“.

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No caso de casais sem filhos com união estável, o tempo de espera para pedir o reagrupamento é de 15 meses. Para isso, o casal precisa demonstrar que morou junto por pelo menos 18 meses antes da entrada no país.
Este último ponto foi proposto pelo Chega, que ainda conseguiu introduzir outra mudança: quando o título de residência for renovado, os meios de subsistência precisam ser reavaliados e neles não podem estar incluídos apoios sociais.
A nova lei acrescenta que “todas as exigências podem ser dispensadas ou reduzidas em casos excepcionais devidamente fundamentados, por decisão do governo, e atendendo aos laços familiares, grau de integração em Portugal e os princípios de dignidade humana e proporcionalidade”.
Prazo de resposta de nove meses
A Agência de Integração de Migrações e Asilo (AIMA) passa a ter um prazo de nove meses — maior que os três meses atuais — para responder aos pedidos de reagrupamento familiar.
Na nova versão da lei, a extensão deste período só pode acontecer “em circunstâncias excepcionais” relacionadas com a análise do pedido.
Além disso, o requerente precisa ser informado sobre esta prorrogação.
Recurso nos tribunais
O governo tentou dificultar o acesso aos tribunais por parte dos imigrantes para acelerar os processos na AIMA, mas precisou refazer o texto depois da negativa do Tribunal Constitucional.
Agora, é permitido entrar com uma ação judicial contra a AIMA.
Para isso, basta que o imigrante prove que a falta de respostas do órgão “compromete, de modo comprovadamente grave e direto, o exercício, em tempo útil, de direitos, liberdades e garantias pessoais, cuja tutela não possa ser eficazmente assegurada através dos meios cautelares disponíveis”.

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Acordos bilaterais
O governo aceitou a proposta do Partido Socialista para realizar acordos bilaterais com outros países para vistos de trabalho em setores essenciais, como a agricultura, a constrição ou o comércio.
Os acordos pretendem acelerar a emissão de vistos e a concessão de autorizações de residência.
Nacionalidade
Vai ser tratada à parte, em uma lei específica, mas o governo já anunciou que pretende ampliar o tempo mínimo de residência: de cinco para sete anos, no caso dos cidadãos da CPLP, e para 10 anos para os demais estrangeiros.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL