O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou neste sábado (5) que a defesa do multilateralismo se tornou ainda mais urgente e que ela não pode se limitar à proteção das instituições internacionais contra agendas radicais.
As declarações foram dadas no discurso de abertura da reunião de ministro das Finanças e governadores de Bancos Centrais do Brics, no Rio de Janeiro.
Em sua fala inicial, Haddad apresentou a defesa do multilateralismo como uma marca da presidência brasileira no G20, no ano passado. “De lá para cá, essa defesa se tornou urgente. Não há solução individual para os desafios do mundo contemporâneo”, disse.
“A defesa do multilateralismo não pode se limitar à defesa das instituições internacionais contra agendas radicais”, acrescentou, sem fazer referência direta aos Estados Unidos e ao presidente Donald Trump.
O titular da Fazenda ressaltou a necessidade de promover um multilateralismo do século 21. “Esse novo multilateralismo nada mais é do que uma ‘reglobalização sustentável’ —uma nova aposta na globalização, dessa vez baseada no desenvolvimento social, econômico e ambiental da humanidade como um todo”, continuou.
Segundo Haddad, o Brics é o foro atual com maior legitimidade para defender uma nova forma de globalização e o bloco reafirma sua posição ao manifestar apoio às discussões das Nações Unidas sobre cooperação internacional em matéria tributária.
“Trata-se de um passo decisivo rumo a um sistema tributário global mais inclusivo, justo, eficaz e representativo –uma condição para que os super-ricos do mundo todo finalmente paguem sua justa contribuição em impostos”, afirmou.
Além do Brasil, são membros plenos do Brics Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. A Arábia Saudita, convidada em 2023, nunca oficializou seu ingresso, mas tem escalado representantes para as reuniões.
O ministro disse ainda que, na frente econômica, o Brics está trabalhando para facilitar o comércio e o investimento entre os países do bloco e reforçar a coordenação sobre as reformas do sistema monetário e financeiro internacional.
“Avançamos também no diálogo intra-Brics sobre parcerias público-privadas, tributação e aduanas, com especial atenção à tributação de indivíduos de altíssima renda”, disse.
Na sexta (4), durante a 10ª Reunião Anual do NDB (Novo Banco de Desenvolvimento), Haddad defendeu a elevação de impostos de super-ricos. Segundo ele, essa camada da população mundial teve uma redução “muito grande” de alíquotas a partir dos anos 1970.
“Houve uma redução muito grande das alíquotas de impostos cobrados dos super-ricos, praticamente em todo o mundo. Isso precisa ser repensado”, disse ele na ocasião.
Aos ministros de Finanças, Haddad destacou a negociação de um documento que propõe um FMI “mais representativo, refletindo a evolução da economia global.”
“Atuando juntos, nós podemos ampliar a voz dos países emergentes e em desenvolvimento no FMI. Podemos ainda promover uma governança mais justa e transparente dessa instituição que continua sendo fundamental como o centro da rede de proteção financeira global”, disse.
Antes de concluir, o chefe da equipe econômica destacou que o Brasil reafirma seu compromisso com a estabilidade e a previsibilidade em tempos de incerteza global. “Nossas instituições demonstraram resiliência diante de desafios internos, enquanto nossa economia continua a expandir, mesmo diante das turbulências internacionais”, afirmou.
Fonte.:Folha de S.Paulo