Bancos e empresas de tecnologia na China se preparam para investimentos em data centers e serviços de nuvem para inteligência artificial no Brasil, com Bytedance e Huawei à frente de projetos.
A primeira, segundo pessoa próxima da negociação, deve anunciar o desenvolvimento de um centro de dados de grandes proporções para o TikTok. A segunda vem de fechar um acordo com a Dataprev para uso de data centers da estatal e de universidades brasileiras e também uma parceria com o Edge UOL, para serviços de nuvem.
O governo brasileiro também estaria preparando um novo programa para incentivar a construção de data centers.
As duas empresas e instituições como AIIB (Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura) e CDB (Banco de Desenvolvimento da China) vêm realizando encontros com executivos e autoridades para coordenar as operações e identificar obstáculos, com olhos voltados sobretudo para o Nordeste.
Neste mês, num encontro em Pequim, uma executiva do CICC (Corporação de Capital Internacional da China), Wu Xiaobin, perguntou ao brasileiro Lucas Bispo, oficial de investimentos do AIIB, “como funciona uma empresa de IA na China ter sua base de dados no Brasil”.
Bispo afirmou que “uma das razões por que o Brasil está chamando atenção [em data center] é que já existe uma infraestrutura que, acredito, permite transferência de dados da América do Sul para a Ásia” diretamente, sem passar por EUA e Europa.
Wu levantou também a questão do veto ao uso de GPUs, chips para IA, por empresas chinesas. Daniel Engel, do escritório de advocacia Veirano, comentou que “no Brasil você não está sujeito às sanções, a não ser uma empresa que emite títulos ou tenha acionistas nos Estados Unidos”.
Um executivo do CDB abordou, entre outros problemas, como mitigar o risco cambial que já enfrentou nos investimentos em yuan no Brasil.
Bispo comentou que, “para as empresas chinesas, se fizer sentido para elas, [o AIIB] pode ser capaz de fornecer financiamento diretamente em yuan, ajudando pelo menos nesse lado”. Falou em oferecer uma “solução específica em termos de hedging, no futuro”.
A principal atração para investir em infraestrutura digital no Brasil seria o acesso a energia limpa, renovável, que para empresas de consumo intensivo pode ser de baixo custo, mas também traz risco –devido ao fornecimento intermitente, com a fatia crescente de energia solar e eólica.
“O armazenamento é outra oportunidade muito relevante no Brasil”, para investimentos chineses, diz Engel. “A China é o fabricante de baterias mais relevante no mundo. E o armazenamento seria muito importante hoje no Brasil, para resolver a questão da operação [intermitente] da rede elétrica.”
Por outro lado, a transição energética é prioritária para as instituições que pretendem oferecer financiamento, como o AIIB. “Energia é o setor que mais financiamos, 72 dos 318 projetos”, disse Bispo, citando projetos recentes de energia eólica e armazenamento no Uzbequistão, hidrelétrica na Indonésia e solar na Índia.
O outro encontro foi realizado pela Huawei no último mês em Dongguan, no sul da China, e contou com apresentações de brasileiros como Rogério Mascarenhas, secretário de Governo Digital do Ministério da Gestão e da Inovação, e Ricardo Leite, diretor de Produtos do UOL Host.
O site da empresa destacou depois um diálogo paralelo ao evento, entre Mark Chen, presidente da Huawei Cloud América Latina, e Rodrigo Lobo, COO do Edge UOL. Falando sobre a parceria entre os dois grupos, Lobo afirmou que “a ideia é juntar forças para expandir o mercado no Brasil, especialmente em infraestrutura, modernização, cibersegurança e IA”.
Descrevendo o Edge UOL como, a partir de agora, “parceiro estratégico de serviços” da Huawei no mercado brasileiro, Chen afirmou, sobre a empresa chinesa: “Nós estamos querendo ser a ponte entre a China e América Latina, para compartilhar nossa experiência, compartilhar a excelência industrial de toda a China”.
Também no evento, o mexicano Eric Velazquez, cofundador da fintech STP, afirmou depois: “Esperamos levar esse conhecimento para o México. Porque no México, na América Latina, tendemos a ver só um caminho, que é o norte, o caminho americano. É uma boa tecnologia, mas a STP acredita que devemos ver outros caminhos, com estratégias e tecnologias diferentes, e que o melhor a observar é a China”.
Fonte.:Folha de S.Paulo