O governo federal traçou uma estratégia para emparedar os parlamentares ao enviar para o Congresso dois projetos separados sobre corte de despesas e aumento de tributos no Orçamento de 2026, avaliaram as jornalistas Adriana Fernandes e Idiana Tomazelli na C-Level Call desta quinta-feira (23).

“O fatiamento foi uma estratégia da equipe econômica e da articulação política para deixar claro para a sociedade o que o Congresso está rejeitando ou aprovando”, disse a repórter especial Adriana Fernandes, se referindo às duas medidas que o governo deve encaminhar ao congresso.

O governo de Lula (PT) decidiu fatiar as medidas de compensação à MP (medida provisória) de aumento de impostos em dois projetos, com o objetivo de separar as ações menos controversas e com maior chance de aprovação daquelas que ainda enfrentam resistências no Congresso Nacional.

A informação, adiantada pela Folha, foi confirmada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta terça-feira (21). Medidas de ajuste nos gastos devem incluir regras mais rígidas no seguro-defeso e no Atestmed e a inclusão do Pé-de-Meia no piso da educação.

“O governo coloca o Congresso contra a parede, já que o Congresso tem cobrado tanto para o governo controlar as despesas”, comentou a repórter Idiana Tomazelli. “Então [é como se o governo dissesse] ‘beleza, está aí um projeto, vamos ver se vocês aprovam’.”

Os empecilhos para o empréstimo aos Correios

Em dificuldade financeira, os Correios estão negociando um empréstimo de R$ 20 bilhões com o Banco do Brasil, a Caixa e bancos privados, garantido pelo Tesouro Nacional. O crédito serviria para dar fôlego à companhia enquanto ela se reestrutura, enxuga gastos e encontra novas fontes de receita.

O problema, no entanto, é que a operação precisa ser aprovada pela área técnica do Tesouro, que vê com ressalvas o resgate num momento em que os Correios apresentam liquidez baixa. “[Existe uma] insatisfação da área técnica do Tesouro com essa tentativa de passar ao lado das regras fiscais”, comentou Adriana.

Se for aprovado ainda este ano, o empréstimo pode ser analisado pelo Tribunal de Contas da União em 2026, em pleno ano eleitoral, lembrou Idiana.

“Esse assunto já virou combustível para a oposição”, afirmou. “Na Câmara, tem pedido de CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito], tem pedido para convocar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para dar explicações.”

Boom no setor imobiliário?

A edição desta semana também debateu o que esperar do setor imobiliário com o novo modelo de crédito habitacional, lançado pelo governo Lula (PT) neste mês.

A Caixa Econômica Federal liberou o financiamento de imóveis com novas regras e anunciou uma nova linha de financiamento de reformas. Juntas, segundo o banco, essas medidas devem permitir a liberação de R$ 80 bilhões em crédito no mercado.

“A medida vem justamente para manter o ritmo de crescimento do setor imobiliário, que é muito importante para o PIB [Produto Interno Bruto], [em um momento em que] a gente está vendo uma desaceleração por conta dos juros altos”, comentou Adriana.

Essas medidas, projetadas como um aceno à classe média, devem ser sentidas pelo eleitor. “Tudo isso vai ser sentido na ponta, pela família conseguir reformar ou comprar a casa própria”, argumentou Idiana.

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