O compositor Caetano Veloso e seus advogados pediram à Justiça de São Paulo para integrarem a discussão sobre a partilha da herança do escritor e filósofo Olavo de Carvalho, morto em 2002. O objetivo é assegurar o recebimento de uma indenização que, no mês passado, foi atualizada para R$ 4,035 milhões.

O valor é fruto de uma longa disputa judicial iniciada em 2017, após Olavo ter acusado o cantor de pedofilia em publicações nas redes sociais, segundo o Globo. Na época, Caetano acionou a Justiça do Rio de Janeiro pedindo a retirada imediata das ofensas e indenização por danos morais.

A decisão determinou multa diária de R$ 10 mil enquanto os posts permanecessem no ar — ordem que Olavo ignorou, mesmo vivendo nos Estados Unidos. Com isso, a dívida cresceu rapidamente, chegando a mais de R$ 3,3 milhões em 2022.

Com a morte de Olavo, os bens do escritor passaram a responder pelo débito. Em 2024, a Justiça do Rio autorizou a penhora da receita obtida com a venda de seus livros pela Editora Record. O resultado, porém, foi irrisório: pouco mais de R$ 8 mil. Agora, o caso avança na esfera paulista, onde a defesa de Caetano tenta garantir que a quantia milionária seja reconhecida como dívida prioritária do espólio.

Olavo permanece como referência da direita

A disputa não envolve apenas duas figuras públicas. Ela também simboliza a trajetória de Olavo de Carvalho, um dos personagens mais influentes e polêmicos do cenário político brasileiro recente.

De estilo polêmico e irreverente, Olavo construiu fama nos anos 1990 e 2000 com livros e colunas de jornal em que atacava a esquerda, o “marxismo cultural” e o que chamava de hegemonia progressista nas universidades e na mídia. A partir de 2013, ampliou seu alcance com cursos on-line e transmissões no YouTube, conquistando milhares de seguidores.

Sua influência foi decisiva para o fortalecimento da chamada “nova direita” no Brasil e chegou ao núcleo duro do governo Jair Bolsonaro. Ministros como Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Abraham Weintraub (Educação) reconheciam inspiração em suas ideias. Ao mesmo tempo, Olavo acumulou inimigos e processos na Justiça por declarações adversários políticos e artistas.

Mesmo fora do círculo bolsonarista, parte da academia reconhece a importância de Olavo de Carvalho para o fortalecimento da direita Pesquisadores como Sérgio Praça, da FGV, e Fernando Schüler, do Insper, destacaram após sua morte que ele exerceu um papel formativo na construção de uma corrente conservadora que antecede o bolsonarismo e ajudou a reposicionar o debate político no país.

Olavo é visto como responsável por romper a hegemonia intelectual da esquerda e por abrir espaço para a consolidação de um movimento que passou a disputar com mais força a arena pública.