Quanto você pagaria por uma xícara de café coado? E se alguém tentasse te vender por R$ 2 mil?
Um lote de café chamou atenção neste mês por ser leiloado por US$ 30 mil o quilo. Isso equivale a mais de R$ 160 mil por um único quilo. O lote tinha um total de 20 kg, logo o valor da compra saiu por cerca de R$ 3,3 milhões. A venda bateu o recorde de café mais caro já leiloado no mundo.
Trata-se de um café da variedade geisha cultivado pela fazenda La Esmeralda, no Panamá. A empresa que comprou os superfaturados grãos foi a Julith Coffee, uma torrefação de Dubai.
Fazendo-se uma conta simples, é possível concluir que uma xícara pequena de café coado feito com esses grãos custaria quase R$ 2.000,00 –isso sem considerar os demais custos, como transporte e torra, e o lucro da torrefação.
Isto porque o valor pago no leilão se refere aos grãos ainda crus. Ao ser torrado, ele perde cerca de 15% de massa. E, para se fazer uma xícara pequena de café coado são necessários 10 g de café torrado.
O valor exorbitante reacendeu o debate sobre os limites da gourmetização do café –se é que há limites. Afinal, por que um café custa tão caro?
O geisha é uma variedade de café que encontrou nas montanhas do Panamá um terroir capaz de desenvolver notas sensoriais muito complexas. Geralmente produz um café muito aromático, com notas florais e acidez balanceada.
Mas o sabor não é a única razão por trás desses preços exorbitantes. O barista James Hoffmann afirma no “The World Atlas of Coffee” (O Atlas Mundial do Café) que o setor imobiliário tem elevado os custos de produção no Panamá.
Os altíssimos valores que esses cafés atingiram têm gerado discussões no meio. Por um lado, reconhece-se a importância de remunerar bem os produtores por grãos excepcionais. Por outro lado, critica-se o fato de ser um produto excludente, já que poucas pessoas poderiam pagar valores tão altos por uma xícara.
Alguns especialistas criticam ainda a atenção exagerada dada a uma única variedade e falam que é preciso analisar todo o contexto (manejo, clima, processamento) para se compreender a qualidade e o preço de um café.
Além disso, dizem, há variedades que produzem cafés mais interessantes e complexos do que alguns dos caríssimos geishas.
É claro que é importante valorizar o café, pois a cafeicultura é fonte de renda de muitas famílias que possuem pequenas propriedades. O aumento do cultivo de cafés finos (os chamados cafés especiais), por exemplo, tem a importante função de aumentar a percepção de valor do café.
Mas valores exorbitantes acabam deixando o café envolto em uma aura de afetação e exageros, o que não combina com uma bebida tão popular.
Seja como for, o mundo está cheio de cafeterias que servem coados de qualidade excepcional sem que se precise pagar uma fortuna. Apenas em São Paulo, há dezenas de casas, como recomendou o guia O Melhor de São Paulo 2025.
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A Tocaya se tornou a primeira torrefação independente de café especial a lançar um café solúvel. Os grãos, cultivados na Mantiqueira de Minas, passam pelo processo de liofilização e chegam ao mercado em sachês individuais, que rendem uma bebida de 120 ml a 150 ml. A caixa com 4 sachês custa R$ 38. Disponível em tocaya.com.br.
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Fonte.:Folha de São Paulo