O local é um café. O resto, por todos os lados, é mais ou menos literatura.
Assim, casas que operam como ambientes híbridos de cafeterias e livrarias/bibliotecas se proliferam. A tendência decorre de uma busca por espaços convidativos à leitura e também é reflexo de certo exibicionismo literário.
Não é de hoje que café e leitura caminham juntos. As cafeterias europeias do século 18 já eram lugares onde as pessoas iam para ler os jornais e discutir os acontecimentos. Atualmente, em livrarias tradicionais, é comum haver alguma cafeteria anexa.
Mas recentemente começaram a surgir espaços que rompem as barreiras entre o local da alimentação e o da leitura.
Na Bibla, na Vila Madalena, livros à venda ocupam mesas de canto que também podem ser usadas como apoio para xícaras de café, por exemplo.
Na livraria Ponta de Lança, na Vila Buarque, o café também está no meio das estantes de livros.
Recentemente, a livraria Gato Sem Rabo, que estava temporariamente fechada, encerrou de vez as atividades na rua Amaral Gurgel e migrou em definitivo para dentro da cafeteria HM Food, no bairro da República.
A Koffi & Co da Vila Madalena funciona de forma integrada à biblioteca da cronista Nina Horta (1939-2019), operada pela escola de gastronomia Le Cordon Bleu.
No Macabéa Café, batizado em homenagem à personagem de “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector, há obras disponíveis para ler no local ou pegar emprestado.
O Joana Cafés, em Pinheiros, tem um sebo solidário, cujos lucros são revertidos para uma organização social.
No Rio, o Nolita Roastery –mega-empreendimento do restauranteur Marcelo Torres– inaugurou neste ano a biblioteca de gastronomia José Fragoso Vianna, com cerca de 1.300 títulos.
A tendência de unir café e literatura levanta o debate sobre performative reading, essa leitura exibicionista que ganhou as redes sociais. O voyeur literário não está interessado apenas em ler. Ele quer ser visto lendo –e postar no Instagram e TikTok.
Ainda que às vezes essa leitura performática seja pouco autêntica, se o consumo de café trouxer consigo um aumento no consumo de livros, está valendo.
Afinal, o mercado editorial brasileiro infelizmente não se compara à economia cafeeira. Que o diga Rubem Braga, que, para falar da pujança econômica do café nos anos 1950, escreveu a frase que inspirou a abertura deste texto: “O Brasil é uma plantação de café. O resto, por todos os lados, é mais ou menos literatura.”
O Rio recebe neste final de semana um festival com degustações, oficinas e palestras sobre café. O Rio Coffee Nation ocorre no EXC, no Jockey Club, de sexta (17) a domingo (19). Os ingressos, a partir de R$ 29,50, devem ser adquiridos na Sympla.
O Pão de Queijo Haddock Lobo reabriu a unidade do shopping Iguatemi. A casa estava fechada para reformas e reinaugurou com novidades no cardápio, como o pão de queijo vegano (R$ 35, com 12 mini unidades) e o pão na chapa –no francês ou no de queijo, ambos por R$ 18.
A Orfeu é a primeira marca brasileira de café a obter o novo certificado de agricultura regenerativa da Rainforest Alliance. O selo verifica práticas de regeneração do solo, da água e da biodiversidade.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.
Fonte.:Folha de São Paulo