Sei que você leitor pode se perguntar: não terminou Outubro Rosa? Porque estamos voltando ao tema câncer de mama? A questão é que este tema é importante o ano todo.

Quando sabemos que 1 a cada 8 mulheres poderão ter câncer de mama em algum momento de suas vidas, não dá para fixar o tema em um único mês, certo?

E meu alerta neste momento é para um grupo de mulheres que não são a maioria entre nossas pacientes, mas que merecem atenção urgente. São as mulheres em idade jovem. Chamamos aqui de jovens aquelas com menos de 40 anos, visto que as curvas de incidência da doença começam a se destacar e crescer na população a partir dos 40+.

No entanto, apesar de menos frequente, aqui mora o perigo, porque quase sempre até mesmo os médicos negligenciam a possibilidade de uma queixa se tratar de câncer.

Números que preocupam

Vamos aos números. No Brasil, um estudo publicado em 2021 por Orlandini e colaboradores identificou que 4,4% dos casos de câncer de mama aconteciam antes dos 35 anos e esse número subia para 20,6% quando até 45 anos. Como eu disse, não é a maioria, mas nos Estados Unidos, estes números são bem menores: 1,85% até 35 anos e 11,5% até 45.

No A.C. Camargo Cancer Center, onde eu trabalho, a frequência de câncer de mama em mulheres com menos de 40 anos era de 10% em 2000, foi crescendo devagar, mas bateu 16% em 2019 (um ano antes da pandemia de Covid).

O que pode explicar esse aumento

Ainda existem muitas dúvidas do que exatamente tem acontecido para que este aumento esteja acontecendo nas mulheres jovens. Sempre precisamos considerar que neste grupo o impacto da hereditariedade é maior. Mas aí eu te pergunto: e para além da questão genética, será que tem algo mais acontecendo?

Todo o mundo está se voltando a este questionamento, e todos chegam à mesma conclusão: nosso estilo de vida tem mudado e infelizmente tem mudado para pior e este pode sim ser a causa para isso acontecer.

Mais obesidade, mais sedentarismo, e mais comida ultraprocessada, porque todos nós vivemos enlouquecidos sem tempo para organizar agenda e comidas saudáveis, além de mais gente consumindo bebida alcóolica, e nós mulheres menstruando cada vez mais cedo, tendo filhos mais tarde, ou nem mesmo os tendo, e amamentando cada vez menos, afinal temos que retornar ao trabalho depois da licença maternidade.

Vejam, não estou dizendo que escolher o melhor momento de ter filhos, ou que retornar ao trabalho seja algo ruim, afinal essas escolhas são tão importantes para nós quanto nossa própria saúde. Mas é fato: nossa vida tem mudado, e com essas mudanças nosso estilo de vida carrega consigo algumas mudanças que nos afetam.

+Leia também: Por que os casos de câncer em jovens não param de crescer?

Alerta essencial após o Outubro Rosa

Por isso estou aqui. Para fazer alertas que podem ser compartilhados com vocês, leitores, e espero que para além daqui:

• Apesar de menos frequente, câncer de mama pode acontecer antes dos 40 anos;
• Como antes dos 40 anos não existe rotina de exames estabelecidos, conhecer seu próprio corpo é fundamental – ou seja, percebeu algo diferente, procure um médico (mas sem desespero, afinal o mais frequente nesta idade são alterações benignas);
• Lembre-se que o exame médico é importante;
• Viva da forma mais saudável que puder! Coma comida de verdade, faça exercícios, evite ao máximo bebida alcóolica, observe seu peso e se estiver acima do que ideal para você, reduza o excesso (isso será importante para te afastar de várias doenças);
• Mesmo não sendo a preferência de todos para um assunto no almoço de domingo com a família, cheque quem já teve câncer na sua família (qual e em qual idade), pois casos de pessoas mais próximas e com menos idade podem indicar que você precise começar seu acompanhamento médico antes do que é estipulado para a população geral.

E por fim, sabemos que nesta idade acontecem muitas coisas importantes e que “parar a vida” para um tratamento é desafiador, mas como eu sempre digo aos meus filhos: não me lembro de ter assinado um contrato com Deus dizendo que nossas vidas seriam fáceis, não é mesmo?

Apesar dos desafios, ter um diagnóstico correto e ser acompanhado por um bom médico é o que lhe trará possibilidades de continuar a viver, apesar de todos os desafios da vida.

Por isso cuidem-se e lembrem que cuidar primeiro de si não é egoísmo, é questão de sobrevivência e amor!