O câncer de mama é a principal causa de morte por câncer entre as mulheres no Brasil. Estima-se que, anualmente, cerca de 74 mil novos casos sejam diagnosticados.
Um levantamento do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), com base em dados do Painel-Oncologia Brasil (2018–2023), revelou um dado preocupante: em cinco anos, mais de 71 mil mulheres com idade entre 40 e 49 anos foram diagnosticadas com câncer de mama.
Outros estudos reforçam a preocupação, indicando que 40% a 44% das mulheres com a doença no Brasil têm menos de 50 anos.
Diante desse cenário, a ampliação do rastreamento mamográfico para mulheres a partir dos 40 anos surge como uma medida necessária. Essa faixa etária concentra uma proporção significativa dos casos diagnosticados e, portanto, deve ser contemplada de forma específica pelas estratégias de saúde pública.
Trata-se de um avanço importante para alinhar o rastreamento à realidade epidemiológica do país e fortalecer a resposta nacional ao câncer de mama. O rastreamento adequado é uma ferramenta essencial não apenas para salvar vidas, mas também para assegurar cuidado digno e de qualidade às mulheres brasileiras.
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O Sistema Único de Saúde (SUS) desempenha um papel fundamental na ampliação do acesso à saúde em todo o país e é responsável por 49,5% da cobertura mamográfica nacional, segundo o relatório do Instituto Nacional do Câncer (INCA), de 2024.
Ainda assim, desafios persistem, como a interiorização dos serviços, a disponibilidade de equipamentos e a regularidade dos exames. Superar essas barreiras é essencial para garantir que todas as mulheres tenham a chance de detectar precocemente a doença e iniciar o tratamento no momento mais eficaz.
A diferença nos desfechos entre os sistemas público e privado é marcante: enquanto na rede privada 53% dos tumores são detectados por mamografia em mulheres assintomáticas, e 40,6% são diagnosticados ainda no estágio I; na rede pública esses índices são de 23% e 18,5%, respectivamente. Isso evidencia a importância de fortalecer a estrutura e os fluxos de rastreamento no SUS.
Neste sentido, um exemplo bem-sucedido foi a revisão da diretriz de qualidade em cuidado oncológico no setor suplementar. A consulta pública nº 144, promovida pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), desencadeou um amplo processo de diálogo técnico e institucional.
Entidades médicas se uniram, elaboraram pareceres, construíram consensos e defenderam a inclusão do rastreamento mamográfico para mulheres entre 40 e 74 anos, mediante indicação médica, como critérios de qualidade assistencial — medida que foi implementada com sucesso.
Além disso, foram incorporadas outras diretrizes importantes de qualidade, como o rastreamento individualizado de mulheres com risco aumentado, independentemente da idade, e a busca ativa bienal para mulheres entre 50 e 69 anos.
A mobilização precisa ser retomada, desta vez, com foco na saúde pública, que atende mais de 70% da população brasileira. É hora de construir, de forma técnica, participativa e baseada em evidências, uma política de rastreamento mais efetiva, que reflita a realidade das mulheres brasileiras e garanta a elas o acesso a um diagnóstico precoce.
*Rubens Chojniak é presidente do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), mestre e doutor em Oncologia e Especialista em Radiologia e Diagnóstico por Imagem
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Fonte.:Saúde Abril