7:52 AM
7 de novembro de 2025

Câncer de próstata cresce entre homens com menos de 50 anos

Câncer de próstata cresce entre homens com menos de 50 anos

PUBLICIDADE



O câncer de próstata, historicamente associado ao envelhecimento, tem aparecido com mais frequência entre homens mais jovens. Dados do Ministério da Saúde mostram que os atendimentos no Sistema Único de Saúde (SUS) para essa faixa etária cresceram 32% entre 2020 e 2024, passando de 2,5 mil para 3,3 mil casos.

Embora cerca de 75% dos diagnósticos mundiais ocorram após os 65 anos, especialistas reforçam que o tumor também pode atingir pessoas mais novas. Assim como em outros tipos de câncer, o risco aumenta conforme fatores genéticos, estilo de vida e ambiente.

Os dados refletem uma realidade mundial em relação aos tumores malignos. Estudos internacionais apontam que adultos com menos de 50 anos foram o único grupo etário a registrar um aumento contínuo na incidência de câncer entre 1995 e 2021.

Ainda, entre 1990 e 2019, os casos de tumores de início precoce – aqueles que ocorrem antes dos 60 anos – cresceram 79,1%, enquanto a mortalidade nessa faixa etária avançou 27,7% no mesmo período.

Diante dessa nova realidade, vale perguntar: por que o câncer de próstata pode estar aparecendo mais cedo?

As causas do aumento

“Existem várias razões por trás do aumento dos atendimentos de homens com menos de 49 anos”, adianta o urologista Carlo Passerotti, cirurgião do Centro Especializado em Urologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

A primeira pista está na maior procura por diagnóstico. “A disseminação de informações sobre fatores de risco e histórico familiar tem sido mais efetiva, então notamos mais homens buscando o médico mais cedo”, diz o oncologista Denis Jardim, líder nacional da especialidade de tumores urológicos da Oncoclínicas.

Para os médicos, a campanha do Novembro Azul exerce um papel importante nesse processo, especialmente combatendo mitos sobre os exames que identificam o quadro. “As gerações mais novas têm menos preconceito em relação ao tema, o que facilita a busca por avaliação preventiva”, acrescenta Passerotti.

Continua após a publicidade

Associada a isso, está a ampliação da rede de assistência de saúde pelo país e, ainda, o avanço tecnológico. “O acesso a alguns testes genéticos melhorou”, diz o urologista.

Mas a rotina moderna também entra no radar. Entre os fatores associados ao risco de câncer de próstata estão o aumento dos casos de obesidade, maior consumo de ultraprocessados, menor ingestão de frutas e vegetais, sedentarismo e a exposição prolongada a hábitos pouco saudáveis ao longo da vida.

“O estilo de vida moderno tem antecipado o surgimento do câncer de próstata e tornado os tumores mais graves”, alerta Passerotti. Segundo o médico, o estresse também pode influenciar no quadro, embora este seja um dado difícil de medir.

Por fim, o efeito da covid-19 pode justificar a alta. “Muitas pessoas deixaram de fazer check-up e exames de rastreamento durante 2020 e 2021. Com o fim da fase mais crítica da pandemia, elas voltaram a procurar atendimento”, destaca.

Há alguma diferença no câncer de próstata em jovens?

Segundo os especialistas, a única diferença é que o câncer de próstata abaixo dos 60 anos costuma estar associado a alterações genéticas hereditárias. “Mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 aumentam em até quatro vezes o risco em pacientes jovens”, explica o urologista do hospital Oswaldo Cruz.

Continua após a publicidade

Em razão disso, há chances de que, entre os mais jovens, as manifestações sejam mais graves. “Tumores ligados a mutações podem ser mais agressivos, com maior chance de recidiva após a cirurgia e, às vezes, já chegam com uma proliferação mais rápida ou até metástases”, explica Jardim.

Raio-x da doença

Segundo o Ministério da Saúde, o câncer de próstata é o segundo tipo mais comum entre os homens brasileiros, perdendo apenas para o câncer de pele não melanoma. No total de casos no país, considerando ambos os sexos, ele também ocupa o segundo lugar no ranking.

A próstata é uma glândula exclusiva do corpo masculino, localizada logo abaixo da bexiga e à frente do reto, a parte final do intestino grosso. Apesar de ter o tamanho aproximado de uma ameixa em homens jovens, ela tende a crescer com o passar dos anos (justamente quando podem surgir os problemas).

Essa pequena estrutura tem uma função importante: produzir parte do sêmen, o fluido que transporta os espermatozoides. Mas, com o envelhecimento, as células da região podem sofrer alterações que, em alguns casos, evoluem para o câncer.

Sintomas e diagnóstico

No início, o câncer de próstata costuma ser silencioso. Quando os sinais aparecem, eles podem incluir dificuldade para urinar, jato fraco, presença de sangue na urina, demora para começar ou terminar de urinar e aumento da frequência urinária, especialmente à noite.

Continua após a publicidade

Para investigar a suspeita, os médicos recorrem a dois exames principais. O primeiro é o toque retal, que permite avaliar o tamanho e a consistência da glândula. O segundo é o exame de PSA, uma análise de sangue que mede a concentração de uma proteína produzida pela próstata.

+Leia também: Câncer de próstata: rastreamento com exame de sangue reduz risco de morte

Prevenção

Manter o peso adequado, deixar o cigarro de lado, praticar atividade física com regularidade e apostar em uma alimentação equilibrada compõem a chamada a “prevenção primária” contra o câncer de próstata. São medidas simples, como comer menos gordura saturada e alimentos embutidas, que são capazes de reduzir os riscos.

De acordo com Jardim, porém, “o método mais relevante é a prevenção secundária, baseada no diagnóstico precoce”, diz o médico. Ela começa no consultório, durante o check-up com clínicos, oncologistas ou urologistas.

“Geralmente, nesse sistema, avaliam-se a idade e o risco do paciente e, em muitos homens, sobretudo a partir dos 45 ou 50 anos, é solicitado o teste de PSA, que pode ou não ser acompanhado do exame de toque retal”, explica o médico.

O momento ideal para fazer esses exames, porém, é motivo de debate. Parte dos profissionais não recomenda o rastreamento de rotina em homens sem sintomas, ressaltando a necessidade de pesar benefícios e riscos. Outros defendem que a detecção precoce pode ser vantajosa.

Continua após a publicidade

Segundo o Ministério da Saúde, de um lado, o rastreamento pode ajudar a identificar tumores em fases iniciais, quando o tratamento tende a ser mais eficaz. De outro, os exames podem produzir falsos positivos, gerando ansiedade e levando a procedimentos desnecessários, como biópsias. Além disso, o exame pode diagnosticar, entre outros, câncer de próstata de baixa agressividade, que não necessita de tratamento.

Por isso, a posição oficial da entidade federal é a não recomendação do rastreamento, ou seja, a indicação é de que os exames sejam feitas somente entre homens que apresentam sintomas.

Já a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) mantém a orientação de que homens a partir dos 50 anos procurem um especialista para uma avaliação individualizada. Para a entidade médica, a identificação de quem tem maior risco de desenvolver a doença de forma agressiva pode ajudar a definir, caso necessário, se o rastreamento deve ser feito e com que frequência.

Para a SBU, entre diversos fatores, a idade, a raça e a história familiar apresentam-se como os mais importantes. Por fim, a recomendação, para Jardim, é sempre lembrar que cuidar da saúde é um ato de coragem e de amor próprio. “E deve começar desde cedo, com educação em saúde e com a desconstrução da ideia de que o autocuidado é sinônimo de fraqueza”, finaliza o oncologista.

Compartilhe essa matéria via:

Continua após a publicidade

 

 



Fonte.:Saúde Abril

Leia mais

Rolar para cima