“Fui pegá-la na escola, fomos jantar fora e, eu com um chopinho e ela com um suco de laranja, tivemos uma conversa maravilhosa”, narra a produtora de cinema Clélia Bessa em seu livro Estou com Câncer, e Daí? (Cobogó – clique aqui para comprar).
“Mamãe está com câncer de mama, vai acontecer um monte de coisas na nossa vida, vai cair meu cabelo, às vezes vou ficar de mau humor, depois vou ter que operar e tirar a mama, algumas pessoas não sobrevivem a essa doença, mas a mamãe vai ficar boa”, recorda o diálogo com a filha.
Lidar com o diagnóstico que recebeu aos 45 anos, claro, não foi tão simples e linear assim. Ninguém está 100% preparado para dar ou encarar uma notícia dessas — muito menos tão jovem. Mas a cineasta decidiu enfrentar a situação com otimismo e naturalidade, ainda que rodeada por preocupações em relação à doença, à família e à carreira.
Bessa nunca esteve sozinha. Ao longo do tratamento, compartilhou sua trajetória em um blog para alcançar outras mulheres que passavam pela mesma situação. A experiência virou livro e deu origem ao filme Câncer com Ascendente em Virgem, que acaba de chegar aos cinemas.
“É uma comédia dramática sobre uma professora de matemática que gosta de ter tudo sob controle, mas vê a vida virar do avesso após descobrir que tem câncer”, resume a autora.
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Aumento de casos de câncer em jovens
Não se trata de caso isolado. Esse tipo de história tem se repetido com frequência muito maior nos últimos anos. O número de adultos surpreendidos por um tumor antes de chegar à meia-idade cresceu significativamente em três décadas.
É o que atesta um estudo internacional publicado pelo periódico The British Medical Journal: entre 1990 e 2019, a ocorrência do problema em pessoas com menos de 50 anos saltou 79%.
É o chamado câncer de início precoce, que, de acordo com uma revisão publicada na revista científica Nature Reviews Clinical Oncology, já pode ser considerado uma epidemia global emergente — e requer atenção de profissionais e gestores em todo o mundo.
Mama, endométrio, próstata, testículo, esôfago, estômago, vesícula biliar, cólon e reto, tireoide, cabeça e pescoço são algumas das partes do corpo mais suscetíveis à doença em ascensão, segundo registro de diversos países.
A incidência cresce gradualmente, ano a ano, e, quando se avaliam longos períodos, observa-se o acréscimo expressivo no número de pacientes oncológicos mais novos. E o mais alarmante é que a doença, a depender da população estudada, tem avançado mais rapidamente nesse público do que entre os mais velhos — que ainda são maioria no diagnóstico, diga-se.
Por exemplo: de acordo com um relatório da Sociedade Americana de Câncer (ACS), o número de tumores colorretais entre 2012 e 2021 cresceu 2,4% ao ano em pessoas com menos de 50 anos e 0,4% ao ano em adultos de 50 a 64 anos. No Brasil, alguns estudos apontam a mesma tendência, mas não há dados oficiais com esse recorte.
“De três em três anos, publicamos uma estimativa sobre a incidência de câncer na população brasileira e, a cada edição, vemos o número total de casos aumentar”, afirma Márcia Sarpa, coordenadora de Prevenção e Vigilância do Instituto Nacional de Câncer (Inca). “No entanto, não temos análises estratificadas por idade ainda. Provavelmente será uma questão que deverá ser mais bem avaliada daqui pra frente, como apontam já as estatísticas internacionais.”
Esses são (e serão) passos decisivos para conhecer o novo perfil de paciente que tem chegado aos centros oncológicos do país com dúvidas, angústias e demandas particulares: “Ainda poderei ter filhos após o tratamento?”, “Com quem ficam as crianças durante as terapias?”, “Como continuar trabalhando para sustentar a família?”, “E os sonhos, viagens e relacionamentos?”
Sim, um diagnóstico como esse exige uma pausa em muitos planos, mas, com o devido suporte da equipe médica, da família, dos amigos e da empresa, é possível virar essa página e seguir em frente.
+ Leia também: Câncer em adultos jovens: uma questão urgente
Por que os números crescem?
Afinal, por que os episódios de câncer em adultos jovens estão crescendo? Entender o que contribui para esse incremento nos diagnósticos é fundamental para definir os caminhos das campanhas de prevenção, a ampliação de protocolos de rastreamento e a escolha do tratamento.
Convém esclarecer, antes de tudo, que na maioria dos casos de tumores o envelhecimento ainda é o principal fator de risco — pelas contas da ACS, 88% dos indivíduos com o problema nos EUA têm 50 anos ou mais.
Ainda assim, qualquer pessoa pode passar por isso ao longo da vida — tudo depende de uma combinação entre genética, estilo de vida e questões ambientais. Ou seja, influenciam esse enredo elementos que vão de história familiar a exposição a poluição, passando por tabagismo, sedentarismo e ganho de peso, por exemplo.

Influência genética
Quanto mais jovem ocorre o diagnóstico, maior a suspeita de que alguma mutação genética possa estar envolvida — mas elas não necessariamente estarão presentes.
“Cerca de 20% dos casos de câncer em jovens estão relacionados a alguma alteração genética conhecida, como as dos genes EGFR, TP53 e BRCA, que predispõem a erros no reparo do nosso DNA”, explica Diogo Soares, coordenador do Comitê Científico de Oncogenética da Sociedade Brasileira de Genética Médi1ca (SBGM).
O sujeito pode herdar de seus ancestrais uma propensão à doença, mas isso de forma alguma deve ser encarado como uma certeza e sentença. Inclusive porque, a depender do risco, é possível traçar planos para impedir que o tumor apareça.
Foi o que a atriz americana Angelina Jolie fez em 2013 ao se submeter a cirurgias para retirar as mamas, os ovários e as tubas uterinas após descobrir que era portadora de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, que predispõem ao câncer.
+ Leia também: Espiar o DNA para se proteger dos tumores de mama e ovário
A mãe e as tias da atriz faleceram de forma precoce devido à doença e, ao confirmar as chances de tê-la com testes genéticos, a artista preferiu não correr riscos — hoje um caso clássico do que deve ser pesado ao se tomar uma medida preventiva. A sanitarista em formação Anne Carrari gostaria de ter tido essa opção há uma década.
Em 2015, aos 40 anos, foi diagnosticada com câncer de ovário avançado, com disseminação da doença em outros órgãos e sem chance de cura. As mulheres de sua família tinham um longo histórico de câncer de mama, mas ninguém, até então, sabia que elas apresentavam as mesmas alterações genéticas que a atriz de Hollywood e que, assim como ela, poderiam fazer algo para evitar que os tumores surgissem.
“Hoje eu advogo que mais mulheres tenham acesso a esses testes genéticos e consigam mudar suas trajetórias. Essa luta coletiva é o que me mantém ativa e na luta contra o câncer há dez anos, contrariando as expectativas dos médicos”, afirma Carrari.
Para cada paciente oncológico, deve ser avaliada a necessidade de realizar ou não um exame genético para a identificação de predisposições. E, para quem não tem a doença, mas tem interesse em compreender o histórico da família, o conselho é procurar um médico para orientar como essa investigação deve ser feita e como agir diante dos resultados.
“A depender das tendências de cada um, será necessário fazer exames de rotina com maior frequência, a fim de garantir que, caso surja um nódulo, ele seja diagnosticado precocemente, quando as chances de cura são maiores”, explica Soares, oncogeneticista do A.C.Camargo Cancer Center (SP).
Ainda olhando para a sopa de letrinhas da qual nosso DNA é constituído, também é importante apurar especificamente o material genético do povo brasileiro para captar características mais prevalentes ou exclusivas aqui.
É o caso da síndrome de Li-Fraumeni. Descoberta no final dos anos 1960 por dois médicos americanos, a doença aumenta o risco de o portador de mutações no gene TP53 ter câncer de início precoce. Em 2020, pesquisadores brasileiros anunciaram a identificação de uma nova alteração associada ao gene que só ocorre no país.
+ Leia também: Teste genético se torna decisivo no tratamento do câncer
Ela teria sido trazida por portugueses na época dos bandeirantes e se espalhado pelas regiões Sudeste e Sul, onde se concentra a maior parte dos pacientes com a síndrome.
Todas essas condições genéticas e hereditárias, porém, correspondem a apenas um quinto dos casos de câncer. Isso porque as malignidades são, sim, fruto de erros no nosso material biológico mais básico, mas não necessariamente são herdados dos nossos pais.
Algumas mudanças ocorrem ao longo da vida, sendo influenciadas por maus hábitos e contato com substâncias cancerígenas.
Mudanças comportamentais
“Do século 20 para cá, tivemos muitas mudanças comportamentais, em relação aos hábitos alimentares, ao sedentarismo e à exposição a poluentes”, observa o oncologista Carlos Gil Ferreira, presidente do Instituto Oncoclínicas.
O médico destaca também que estamos vivendo um período de transição epidemiológica, isto é, de mudança nos padrões de morbidade, incapacidade e mortalidade em todo o mundo. Se até o século passado os maiores riscos à saúde eram doenças infecciosas transmitidas por vírus e bactérias, hoje esses problemas são mais controlados por programas de vacinação em massa e acesso a saneamento básico.
“Em compensação, vemos uma crescente de casos de doenças crônicas, como hipertensão, diabetes, enfermidades pulmonares, demências e o próprio câncer”, lista. O mundo mudou, as doenças que mais vitimam o ser humano também. Um dos cânceres mais influenciados por fatores comportamentais é o colorretal, o terceiro mais incidente no mundo, com quase 2 milhões de casos por ano.
No Brasil, mais de 45 mil homens e mulheres serão diagnosticados só em 2025. Por aqui, a cantora Preta Gil se tornou a principal porta-voz da luta por prevenção e tratamento da doença.
Diagnosticada em 2023, aos 49 anos, a artista tem compartilhado na imprensa e nas redes sociais o passo a passo de seu tratamento, que já incluiu a retirada de lesões, amputação do reto, uso de imuno e quimioterapia e colocação de uma bolsa de colostomia permanente.
+ Leia também: Entenda o que é o câncer colorretal, diagnosticado em Preta Gil
Em março, foi à TV anunciar que a próxima fase será procurar terapias para seu quadro, já avançado, no exterior. A batalha continua.
Lá fora, os casos também se multiplicam e ganham holofote com os famosos. Em 2020, nos despedimos do ator Chadwick Boseman, protagonista do filme Pantera Negra, que faleceu aos 43 anos em função de um câncer colorretal. Doações a entidades que combatem o problema cresceram 300% depois da morte do ator.
Pelo impacto que notícias como essas ganharam, o jornalista brasileiro Jander Ramon já estava consciente dos sinais de alerta da doença e teve o quadro identificado precocemente após apresentar sangramento nas fezes.
O problema foi detectado em 2023, aos 46 anos, em uma colonoscopia, e o tratamento envolveu uma cirurgia minimamente invasiva e sessões de quimioterapia. Casado e com dois filhos adolescentes, Ramon conta que o processo de descoberta e tratamento impactou toda a família.
“Ao mesmo tempo que essa é uma jornada individual e solitária para quem vive na pele a doença, é também como se todos na sua casa estivessem passando contigo pelo tratamento”, relata. Hoje, com 48 anos, o comunicador já está em remissão, realizando exames periódicos de acompanhamento para garantir que está tudo certo.
“É preciso que as pessoas acreditem na medicina e saibam que o diagnóstico não é uma sentença de morte.” Para ele, há apenas um lamento: nem todo mundo adere às formas de prevenção da doença e ao rastreamento, o que dificulta o diagnóstico precoce.
Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), com base no DataSUS, em 2024 foram realizadas 574 mil colonoscopias na rede pública de saúde.
O número é 138% maior do que o registrado no início da pandemia, sinalizando a retomada da realização do principal exame diagnóstico do câncer colorretal. Mesmo assim, está muito aquém do ideal, visto que o exame deveria ser feito por toda a população a partir dos 45 anos, como recomendam entidades médicas brasileiras e internacionais.
+ Leia também: Órgão dos EUA antecipa faixa etária para rastreamento do câncer colorretal
“Essa diretriz, inclusive, foi atualizada recentemente para abarcar o crescente número de pacientes jovens com a doença. Antes, a indicação era que o exame fosse realizado a partir dos 50 anos”, elucida Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da SBCO. Para além de exames médicos, o cirurgião defende que a prevenção do câncer envolve também educação e conhecimento.
“Se já estamos observando um aumento no número de adultos jovens com a doença, então precisamos agir na prevenção desde a infância: oferecendo nas escolas uma boa alimentação, livre de ultraprocessados, estimulando a atividade física e alertando para os perigos do tabagismo e do consumo de álcool”, elenca Pinheiro.
Afinal, todos esses fatores somam pontos à redução do risco lá na frente — ou não tão à frente assim.

Má alimentação e consumo de álcool
À caça de motivos pelos quais os tumores têm dado as caras mais cedo, os especialistas precisam se deter à mesa, ou melhor, no padrão alimentar atual.
O consumo de produtos ultraprocessados — categoria que inclui de bolacha recheada a macarrão instantâneo — decolou e, na esteira disso, pululam estudos associando o hábito ao maior risco de doenças crônicas.
Uma revisão publicada no ano passado constatou um elo entre a ingestão frequente desse tipo de comida e vários tipos de câncer, como os de mama e aparelho digestivo.
“Esses produtos têm baixa qualidade nutricional e são caracterizados pela alta quantidade de açúcar, sódio e gorduras saturadas, além da presença de aditivos como corantes, aromatizantes e conservantes”, destrincha Mauro Donadio, oncologista especializado em tumores gastrointestinais da Oncoclínicas.
“É necessário privilegiar alimentos frescos e minimamente processados, como verduras, legumes, frutas, peixes, oleaginosas e laticínios”, orienta. Além disso, hoje também se defende que não há dose segura para o consumo de álcool. “Nosso corpo não evoluiu para metabolizá-lo”, crava Donadio.
Em curto e longo prazo, ele está associado a inflamação crônica, estresse oxidativo e envelhecimento precoce — elementos que podem semear um câncer.
+ Leia também: A relação entre os alimentos ultraprocessados e o câncer
Tabagismo
Nessa direção, os cigarros, redivivos com os dispositivos eletrônicos, imperam entre os principais gatilhos para o câncer de pulmão, ainda que alguns subtipos da doença tenham aparecido e se proliferado em sujeitos jovens e não fumantes.
“Quando falamos da incidência da doença abaixo dos 50 anos, também entram fatores genéticos, como mutação no gene ALK, que é comum em não fumantes com esse quadro”, esclarece Guilherme Harada, oncologista torácico do Hospital Sírio-Libanês (SP).
Mais recentemente, estudos têm destacado também a exposição à poluição atmosférica como outro fator carcinogênico. Uma pesquisa nas páginas do periódico The Lancet Respiratory Medicine estima que, só em 2022, 200 mil casos de adenocarcinomas pulmonares tenham sido causados pelo contato com material particulado, um tipo de poluente invisível, presente no ar.
Isso corresponde a quase 10% de todos os casos de câncer de pulmão flagrados em um ano. E os aparelhos digestivo e respiratório não são os únicos a sofrer com esse não tão admirável mundo novo. Células em outros cantos do corpo podem encarar reveses com a exposição contínua a substâncias nocivas.
Acredita-se que a alta nos casos de câncer de mama também seja influenciada por essas questões comportamentais e ambientais.
“Hoje as mulheres estão bebendo mais, fumando mais e praticando menos atividade física do que os homens. Isso tudo contribui, fisiologicamente, para o desenvolvimento da doença”, resume a mastologista Fabiana Makdissi, líder do Centro de Referência em Tumores da Mama do A.C.Camargo Cancer Center.
+ Leia também: Câncer de mama: álcool e tabaco ameaçam a saúde da mulher
Impactos além do tumor nos mais jovens
A médica paulistana destaca que o aparecimento precoce do câncer de mama (e de quaisquer outros tipos) tem uma grande repercussão na autoestima e no planejamento familiar da paciente. Nessas horas, é preciso pensar até em formas de preservar a fertilidade e o sonho de ter filhos.
O problema é que o assunto é pouco discutido em consultório e as escolhas devem ser feitas antes mesmo de começar o tratamento, que pode induzir as mulheres à menopausa e afetar também os hormônios dos homens que passam pelas terapias.
“Para eles, a opção é o congelamento do sêmen; para elas, há outras técnicas, como o congelamento de óvulos ou do tecido ovariano, além da transposição ovariana”, ilustra o ginecologista Maurício Chehin, diretor científico da clínica de reprodução humana Huntington.
Cada abordagem pode ser utilizada para casos específicos. O congelamento de óvulos é feito quando o tratamento não precisa ser iniciado imediatamente e a paciente pode tomar altas doses de hormônio para estimular a ovulação.
Já a retirada de tecido ovariano é uma opção para aquelas que não têm tempo a perder: precisam iniciar as terapias rapidamente e pretendem ter filhos quando forem liberadas.
A transposição ovariana consiste em retirar os ovários da região pélvica, caso ela seja alvo de radioterapia, e posicioná-los no abdômen.
Quem passou por uma experiência do gênero foi a veterinária Karina França, diagnosticada aos 26 anos, meses depois de ter se mudado com o marido para a Alemanha.
+ Leia também: Como preservar a fertilidade de mulheres em tratamento contra o câncer
Karina congelou parte do ovário após o choque do diagnóstico de um câncer de mama e realizou todo o tratamento no país europeu. Hoje segue com a hormonioterapia para evitar o retorno da doença.
Longe da família, contou com o apoio incondicional do companheiro e de rezas e boas vibrações vindas do Brasil. Até hoje, não dispensa o acompanhamento de sua psicóloga e a rotina de exercícios.
“A atividade física me ajudou a lidar com os sintomas da menopausa antecipada provocados pelo bloqueio hormonal. Sentia muitas ondas de calor e dores nas articulações. Hoje, tudo está controlado”, compartilha.
Assim como a veterinária, os médicos se espantaram com o início tão precoce da doença. O câncer de Karina não estava ligado a alterações genéticas conhecidas e, entre os fatores de risco, ela contava apenas com um caso na família e uma rotina atribulada e sedentária — como milhões de brasileiros.
É um exemplo de que o câncer não tem idade e que todos nós precisamos estar atentos a sinais do corpo.
Como flagrar o câncer
“Qualquer sintoma persistente ou alguma mudança brusca, no ciclo menstrual ou no ritmo intestinal, por exemplo, devem ser investigados”, ressalta Mariana Scaranti, oncologista especializada em tumores ginecológicos do Hospital Nove de Julho, da Rede Américas.
É importante também fazer os exames de rastreamento voltados à sua faixa etária e lembrar que há uma vacina que pode prevenir vários tipos de câncer. O imunizante contra o HPV, indicado a pessoas de 9 a 45 anos, reduz consistentemente a incidência de câncer de colo de útero, pênis, ânus, boca e garganta — relativamente comuns em pacientes jovens.
O crescimento de casos de câncer nessa população impõe novas demandas e desafios para o que se recomenda hoje em termos de prevenção e tratamento. “Fica ainda mais evidente a necessidade de cuidar integralmente do paciente, acolher suas dúvidas e receios em relação ao futuro, incluir a família nas decisões e garantir uma boa qualidade de vida”, avalia o oncologista Tiago Kenji, do Hospital Santa Paula (SP).
Nesse cenário em que o componente genético pode ter um forte papel no desenvolvimento do câncer, as terapias-alvo despontam como um diferencial, pois as medicações miram proteínas específicas dos tumores para atacá-los. Uma das mais recentes aprovadas no Brasil é a selpercatinibe, indicada para o tratamento do câncer de pulmão e tireoide, com índices de sucesso significativos.
É o tipo de solução que, aliado à assistência psicológica, reprodutiva e financeira, pode garantir as melhores perspectivas a quem é surpreendido tão cedo com o diagnóstico de um câncer.

De olho na saúde delas
Tumores mamários e ginecológicos têm aparecido mais cedo — e nem sempre dão sinais claros
Incidência
É o segundo mais prevalente em todo o mundo, somando mais de 2,3 milhões de casos por ano. Estima-se que uma a cada cinco pacientes tem menos de 50 anos.
Sob holofote
Entre as famosas que tiveram o câncer de mama ainda jovens estão a apresentadora Ana Furtado, aos 44, e a atriz Patrícia Pillar, aos 37. Ambas venceram a doença.
Identificação
Não há indicação de rastreamento para mulheres abaixo dos 40 anos, mas o autoexame pode ser feito em qualquer idade para verificar alterações palpáveis nas mamas.
Incidência
No Brasil, cerca de 6,6 mil casos são detectados por ano. A maior parte ocorre após a menopausa, mas a genética pode influenciar seu início precoce.
Sob holofote
Em 2023, a atriz Samantha Weinstein, de Carrie, a Estranha, faleceu aos 28 anos por causa da doença, descoberta dois anos antes.
Identificação
Em geral, o câncer de ovário é diagnosticado tardiamente, pois não costuma apresentar sintomas em fase inicial.
Incidência Calcula-se que ele tenha uma prevalência parecida com o tumor de ovário e está entre os dez mais comuns em mulheres.
Sob holofote
Camille Grammer, do reality show The Real Housewives of Beverly Hills, descobriu a lesão aos 43 anos e teve que retirar o útero como tratamento.
Identificação
Atenção aos sangramentos anormais e à presença de pólipos no útero. A maioria é benigna, mas deve ser investigada.
Mais atenção ao aparelho digestivo
Mudanças de hábito podem reduzir o risco de tumores na região
Incidência
O terceiro mais comum no mundo é também um dos que mais crescem entre os adultos jovens, que já formam cerca de 13% dos pacientes no cômputo geral.
Sob holofote
Além de Preta Gil e Chadwick Boseman, a cantora Simony foi diagnosticada com a doença em 2022, aos 46 anos, durante exames de rotina. Atualmente, está em remissão.
Identificação
Mudanças no ritmo intestinal, como diarreia ou constipação contínuas, e sangue nas fezes emitem o alerta. Exames como colonoscopia podem ser indicados.
Incidência
No Brasil, 21 mil novos casos são diagnosticados ao ano. É o quinto tumor mais prevalente por aqui, segundo estimativa do Inca.
Sob holofote
A jogadora de vôlei Paula Borgo faleceu em 2023, aos 29 anos, por causa da doença. Ela descobriu o tumor em uma endoscopia digestiva.
Identificação
Os sintomas são de desconforto gástrico. Fatores de risco incluem excesso de peso, consumo de álcool, fumo e infecção por Helicobacter pylori.
Incidência
Tumor raro, que acomete principalmente idosos, também apresentou crescimento entre as novas gerações.
Sob holofote
Em 2015, a atriz Betty Lago morreu aos 60 anos devido ao câncer na vesícula. Não há notícias sobre jovens celebridades com o diagnóstico.
Identificação
Inflamações não tratadas na vesícula e nos ductos biliares são fatores de risco, bem como má alimentação e abuso de álcool, alertam médicos.
De olho na saúde deles
Entre os homens, tumores relacionados ao HPV estão em alta

Incidência
É um nódulo que aparece principalmente em homens de até 40 anos e pode ser facilmente curado quando diagnosticado precocemente.
Sob holofote
Em 2017, o então jogador do Flamengo Ederson recebeu o diagnóstico após reprovar no exame antidoping. Na época, tinha 31 anos, e hoje está curado.
Identificação
Presença de caroço no testículo deve ser sempre investigada. Outros sinais são dor na virilha e sensação de peso no saco escrotal. Procure avaliação de um urologista.
Incidência
Entre 2015 e 2023, mais de 38 mil internações e 6 814 mortes por câncer no ânus foram registradas no Brasil. A incidência aumentou.
Sob holofote
Apesar de ser mais comum em homens, as mulheres são as que falam mais abertamente. A apresentadora Ana Maria Braga já passou por tratamento.
Identificação
A principal causa da doença é a infecção pelo HPV. Felizmente, a condição pode ser prevenida pela vacinação contra o vírus.
Sarcoma de Kaposi
Incidência
É o tipo de câncer mais comum entre pessoas infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Centenas de casos surgem por ano.
Sob holofote
A doença é retratada no filme Clube de Compras Dallas, que aborda o início da epidemia de HIV/aids nos Estados Unidos. Ganhou três Oscars.
Identificação
O sarcoma causa nódulos ou manchas vermelhas, rosadas e marrons na pele. Pode causar também inchaço. O tratamento não pode esperar.
Para ficar de olho
Outros tumores também estão aparecendo em gerações mais jovens
Câncer de pulmão
Incidência
Mais de 32 mil pessoas serão diagnosticadas com câncer de pulmão neste ano no Brasil. E o número deve crescer 65% até 2040, de acordo com o Inca.
Sob holofote
No último ano, a influenciadora de beleza Lili Spada morreu em decorrência de um câncer de pulmão. A celebridade tinha apenas 42 anos de idade.
Identificação
Falta de ar, dor no peito, perda de peso e tosse persistente são os principais sinais de que algo está errado com os pulmões. Mas o tumor pode ser silencioso.
Câncer cerebral
Incidência
Cerca de 11 mil novos diagnósticos de câncer no sistema nervoso central (que inclui o cérebro e a medula espinhal) devem ocorrer em 2025 no país.
Sob holofote
Em 2022, o cantor Tom Parker, da banda britânica The Wanted, faleceu aos 33 anos por causa de um glioblastoma. Deixou dois filhos.
Identificação
Sintomas são variados e incluem dor de cabeça, sonolência, convulsões e alterações visuais, cognitivas, de marcha e de humor.
Câncer de tireoide
Incidência
São previstos 16 mil diagnósticos por aqui até o fim do ano. Mulheres jovens são as mais acometidas pela doença. Costuma ser pouco agressivo.
Sob holofote
A atriz brasileira Carla Diaz, de O Clone, e a colombiana Sofia Vergara, de Modern Family, tiveram o tumor e hoje estão curadas.
Identificação
A presença de um nódulo no pescoço, acompanhado ou não de tosse, rouquidão e dificuldade para engolir, é o principal sintoma.
6 pontos para levar em conta se a doença aparece mais cedo
Estudo americano elenca demandas de pacientes com câncer colorretal e reflete desafios de uma geração
Saúde mental
Segundo a pesquisa, 85% das pessoas que encaram o tratamento antes dos 50 anos sofrem com ansiedade ou depressão.
Família
Quatro a cada cinco pacientes tinham filhos menores de idade quando foram diagnosticados. A notícia impacta toda a família.
Fertilidade
Falta informação: 64% afirmam que não foram orientados acerca da possibilidade de preservar a fertilidade após o tratamento.
Genética
Outra questão é o acesso a testes genéticos que, nessa população, podem revelar alterações no DNA que demandam terapias específicas.
Impacto econômico
Três a cada cinco pacientes passaram por dificuldades financeiras ao tentar arcar com o tratamento e sustentar a família.
Carreira
Além disso, 64% tiraram licença ou largaram o trabalho ou os estudos por causa da doença. O tratamento pode ser, por vezes, incapacitante.
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Fonte.:Saúde Abril