No próximo domingo, dia 7 de setembro, o Papa Leão XIV vai canonizar o jovem italiano Carlo Acutis, no Vaticano. Seria uma canonização como outra qualquer não fosse por um detalhe: o futuro santo, já apelidado de “o padroeiro da internet” e “o influenciador de Deus”, entre outros títulos, adorava o Brasil!

Devoto de Nossa Senhora Aparecida, Acutis foi diagnosticado com leucemia no dia 8 de outubro de 2006. Morreu apenas quatro dias depois, em um 12 de outubro, dia dedicado à padroeira do Brasil. Tinha 15 anos.

Do futebol e da música aos milagres

Como qualquer adolescente de sua idade, Acutis gostava de praticar esportes e de ouvir música. Entre outros hobbies, jogava bola e tocava saxofone. Católico praticante, fez a primeira comunhão aos sete anos e recebeu o sacramento da crisma aos 12. Criou um site dedicado a milagres eucarísticos.

Nascido em Londres no dia 3 de maio de 1991, Acutis cresceu em Milão, terra natal de seus pais, Andrea e Antonia. Quando indagado sobre seu jogador favorito, escolhia um que não viu jogar: Pelé. Quando o brasileiro pendurou as chuteiras, em 1977, o italiano não tinha sequer nascido.

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O caso de Campo Grande

Outra curiosidade: o primeiro milagre atribuído a Acutis ocorreu em Campo Grande (MS), no dia 12 de outubro de 2013. O “felizardo” foi Matheus Vianna, à época com três anos. O pequeno Matheus nasceu com um grave problema congênito chamado pâncreas anular.

A anomalia se chama anular, explica a médica Maira Marzinotto, da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), porque a cabeça do pâncreas forma um “anel” que envolve o duodeno e, nos casos mais graves, pode obstruir a passagem de alimentos.

“O paciente pode ter graus variáveis de sintomas: de vômitos a dores abdominais”, explica Marzinotto, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). “O pior que pode acontecer é, no caso de uma obstrução completa, ele precisar de uma cirurgia de urgência”.

A médica afirma que a cirurgia é o principal tratamento quando o paciente apresenta sintomas. Mesmo com a cirurgia sendo oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a família de Matheus não tinha condições financeiras de arcar com outras despesas, como hotel e passagem.

A intercessão de Carlo Acutis

Em 2013, a família de Matheus ouviu falar de Carlo Acutis pela primeira vez. Foi por intermédio do padre Marcelo Tenório, da Paróquia São Sebastião, em Campo Grande (MS).

Naquele mesmo dia, Matheus tocou em uma relíquia de Acutis, em exposição na Capela de Nossa Senhora da Aparecida, na capital sul-mato-grossense.

Ao chegar em casa, o garoto não passou mal depois de comer – em geral, ele vomitava tudo que ingeria. Mas, naquele dia, para espanto da avó, a técnica de enfermagem Solange Maria do Prado Lins Vianna, ele pediu para repetir. Confiante, a família passou a rezar pela intercessão de Carlo Acutis.

“Quando tinha dois anos, Matheus chegou a pesar apenas nove quilos. Suspeitamos de intolerância à lactose. Mas, os médicos disseram que era pâncreas anular”, relata Solange. Na dúvida, a família voltou ao médico e Matheus teve que refazer os exames.

Dessa vez, segundo o relato da família, o resultado deu normal.

Uma estrada para a santidade

O caminho que leva à santidade, porém, é rigoroso e demorado. São quatro as fases de canonização: servo de Deus, venerável, beato e santo. Entre outros critérios, a Igreja Católica analisa as virtudes do candidato a santo.

No caso de Acutis, Antonia conta à agência Reuters que, quando ele tinha nove anos, gostava de ajudar as pessoas em situação de rua. “Eu tenho tudo, eles não têm nada; como é possível?”, perguntava, atônito, à mãe.

Um milagre, porém, não é suficiente. Para ser promovido a santo, a Igreja Católica exige dois.

O segundo milagre atribuído a Acutis é o de uma jovem da Costa Rica chamada Valéria Valverde. Em 2022, ela sofreu traumatismo craniano depois de se envolver em um grave acidente de trânsito em Florença, na Itália.

O milagre concedido a Matheus foi reconhecido pela Santa Sé em 2020 e o concedido a Valéria, em 2024.

O legado de Carlo Acutis

“Carlo Acutis ensina aos adolescentes do século 21 que é possível estar no mundo sem se perder nele”, afirma o padre Rodrigo Natal, autor do livro São Carlo Acutis – Uma Estrada para a Santidade (Edições Loyola, 2025). “Não era um jovem alienado, mas um discípulo atuante. Provou que a tecnologia não precisa ser inimiga da fé, mas instrumento de evangelização”.

Matheus tem hoje a mesma idade de Acutis: 15 anos. Segundo sua avó, ela gosta de jogar videogame e planeja fazer Direito. “Hoje em dia, ele come de tudo. Tanto que passou do peso ideal. Nunca vi ninguém gostar tanto de massa”, diverte-se Solange, que passou a cuidar do neto depois que a mãe dele, Luciana Lins Vianna, morreu de AVC no dia 20 de junho de 2024.

O corpo de Carlo Acutis está sepultado na cidade italiana de Assis, terra natal de outro santo da Igreja Católica, São Francisco.

“Acreditar em Deus e viver uma religião transformam a maneira como a pessoa enfrenta a vida. Não apenas prolongam os dias, mas ampliam o sentido deles”, prossegue o padre Rodrigo Natal. “Quem crê, mesmo diante da dor, da doença ou da morte, nunca está só. A fé bem vivida é uma remédio para a alma. E, quando a alma está saudável, o corpo também encontra paz”.