No espaço de alguns dias, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aparentemente abandonou sua política isolacionista para justificar um bombardeio direto ao Irã, defender uma reaproximação entre Washington e a Otan, e criticar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, por sua invasão da Ucrânia.
O presidente americano também voltou atrás em falas em um espaço de poucas horas, dizendo, por exemplo, que não pretende mais suspender sanções contra o Irã —ele havia dito que estudava fazê-lo após elogiar Teerã por manter o cessar-fogo contra Israel.
A alternância entre postura dura e suave com aliados e inimigos e entre uma política externa isolacionista e intervencionista vem confundindo analistas e estudiosos de relações internacionais —bem como países de todo o mundo.
Em resposta a questionamentos, a Casa Branca, entretanto, diz que tudo segue um plano bem estabelecido: Trump, disse a porta-voz Karoline Leavitt, pratica a “ambiguidade estratégia proposital” como tática de negociação. “Os líderes mundiais o temem, o respeitam, prestam atenção a cada palavra que diz“, afirmou.
Leavitt disse ainda que o presidente americano “conduz os eventos mundiais e não é guiado por eles. O mundo está mudando por causa de Donald Trump, e Donald Trump não mudou por causa do mundo”.
Especialistas discordam. Quando ordenou o bombardeio sem precedentes de instalações nucleares iranianas no último dia 21, Trump foi visto como reagindo a uma realidade ditada não pelos EUA, mas sim pelo primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu —que entrou em guerra com o Irã dizendo ter o objetivo de impedir a produção de uma arma nuclear.
Ao mesmo tempo, autoridades militares israelenses admitiam sob reserva não ter capacidade de atingir as centrífugas de urânio em Fordow, o complexo enterrado em uma montanha no Irã. Apenas os EUA, diziam, tem o equipamento necessário para fazê-lo —e assim, Trump ordenou um ataque com bombas antibunker carregadas por bombardeiros B-2 Spirit, armas que só Washington possui.
A extensão do dano causado pela ação ainda não está claro, com a Casa Branca defendendo que ele foi “de moderado a severo” (e com Trump dizendo que o programa nuclear do Irã foi obliterado) ao mesmo tempo em que relatórios preliminares de inteligência apontam que o Irã precisará de poucos meses para se reerguer.
Depois de ajudar a mediar um cessar-fogo entre Tel Aviv e Teerã, Trump disse que os EUA tentariam voltar à mesa de negociação para conseguir um novo acordo nuclear com o regime iraniano, mas disse não achar que isso seria necessário. Já nesta sexta, disse que “sem dúvidas” autorizaria novos ataques contra o país persa caso o regime volte a enriquecer urânio.
Apoiadores de Trump para os quais as promessas de campanha isolacionistas do republicano foram importantes na hora de decidir seu voto demonstraram apreensão com a decisão do presidente de envolver os EUA em outra guerra no Oriente Médio.
Outra promessa de Trump, a de que acabaria com a Guerra da Ucrânia rapidamente, permanece distante da realidade —mesmo dizendo que faria de tudo para encerrar o conflito, o presidente oscila entre criticar o ucraniano Volodimir Zelenski e o russo Vladimir Putin, ora emboscando um durante visita oficial à Casa Branca, ora dizendo a líderes europeus que o outro não está interessado na paz.
Fonte.:Folha de S.Paulo