Se tem uma coisa com a qual sommelier de cerveja adora fazer piada é com o tal chope de vinho. Sim, eles já foram moda e infestaram muitos bares da cidade sem distinção, de botecos da esquina a bares ditos refinados (e que eram só caros).
Mas se a mistura adocicada de vinho tinto com cerveja pilsen —e às vezes acrescida de açúcar— servida em baladas é motivo de chacota, existe uma outra cerveja que mistura as características destes dois universos muito bem. São as chamadas grape ales, estilo que não só tem um toque de refinamento como são fartamente premiadas em festivais —e até os sommeliers gostam.
Reza a lenda que o estilo nasceu na Itália, no início dos anos 2000, mas ganhou mais destaque após 2015, quando foi reconhecido pelo BJCP, o Beer Judge Certification Program, cujas diretrizes regem 10 a cada 10 concursos cervejeiros do mundo. Basicamente, se o estilo não é reconhecido pelo BJCP, está à margem da sociedade lupulada, digamos.
Cervejarias mais afeitas aos estilos considerados selvagens (wild), habituadas a trabalhar com barris de madeira e suas complexidades, são as que têm se aventurado mais pelo universo das grape ales.
No Brasil, não por coincidência, cervejarias da região sul inseridas no universo da viticultura são as que saíram na frente no estilo.
Integrante do Grupo Famigilia Valduga, a Brewine Leopoldina (de Garibaldi, RS) acaba de lançar a italian grape ale riesling renano. O rótulo já chega no mercado premiado após conquistar a medalha de ouro no European Beer Star, em Munique (Alemanha).
Essa já é a sexta grape ale desenvolvida pelo grupo, que tem também em seu catálogo as variações moscato, chardonnay, pinot noir, sauvignon blanc e gewurztraminer. Com exceção da novidade (a riesling), todas as outras estão disponíveis no site da cervejaria, o mesmo da vinícola: loja.famigliavalduga.com.br. Em belas garrafas arrolhadas de 750 ml, como as de champanhe, as cervejas custam R$ 89 cada uma.
Além das uvas diferentes, os rótulos também não partem exatamente da mesma base cervejeira. A italian grape ale chardonnay e sauvignon blanc, por exemplo, usam uma saison —esta última foi eleita o melhor rótulo do Concurso Brasileiro de Cervejas de Blumenau, em 2024. Já a gewurztraminer e a moscato partem de uma witbier. Todas apresentam baixíssimo amargor, entre 5 e 10 IBU (unidade de amargor que, nas IPAs, fica entre 40 e 60).
Também nas serras gaúchas, a Alem Bier fica em Flores da Cunha, dentro da vinícola Monte Reale.
“Meu avô foi o fundador da vinícola, que já está agora na terceira geração”, conta Carlos Mioranza. “Mas nunca fiz vinho, gosto, mas nunca fiz. Faço cervejas”, completa o mestre-cervejeiro do ano de 2024, eleito no mesmo concurso de Blumenau.
Com os barris usados previamente para diferentes vinhos feitos na Monte Reale, Mioranza desenvolve um belo leque de grape ales, disponíveis no site da marca (montereale.com.br/alem-bier). É possível encontrar sugestões como a Sirah Safra 2021, a Arinarnoa Safra 2019, a Viognier Safra 2021 e a Merlot Safra 2019, entre outras, normalmente com a base da saison belga —e todas por R$ 90,90 (garrafa de 375 ml), no ecommerce.
No EAP, em Pinheiros, é possível encontrar uma Bretta Blanc Grape Ale, da californiana Firestone (R$ 177). E não precisa pedir chope de vinho.
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Fonte.:Folha de São Paulo