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- Author, Redação
- Role, BBC News Mundo
Hanaa Almadhoun, uma enfermeira de Gaza, tentou retornar ao seu bairro no norte do território palestino, mas rapidamente desistiu.
Após dois anos de guerra, um cessar-fogo entre Israel e o Hamas entrou em vigor na sexta-feira (10/10), dando ao Hamas até 72 horas para libertar todos os reféns restantes, enquanto as forças israelenses começaram a se retirar de algumas áreas de Gaza.
Milhares de pessoas percorreram a rodovia costeira de Gaza a pé, de carro e de carroça para retornar às suas casas, mas a ofensiva militar israelense destruiu grande parte da cidade. Até três quartos dos prédios foram danificados.
Pela primeira vez em semanas, as pessoas entraram nas áreas de Sheikh Radwan, al-Karama e Beach Camp, apenas para encontrar blocos residenciais inteiros arrasados, centenas de casas e grande parte da infraestrutura da área destruída.
O que muitos encontraram lá é desanimador. A escala da destruição é difícil de compreender.
“A situação lá é muito difícil. Não há vida”, disse Hanaa à correspondente da BBC em Jerusalém, Alice Cuddy, por WhatsApp.

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“Tudo foi destruído. Havia escombros por toda parte, incluindo restos de coisas que nem conseguimos mais reconhecer e munições não detonadas”, relata a enfermeira.
Hanaa diz que levará tempo para remover os escombros das estradas e instalar postos de controle de emergência que ofereçam serviços básicos.
“A situação é muito difícil. Acho que as pessoas não poderão suportar morar lá. Elas só vieram ver se suas casas estão de pé”, diz ela.
A casa dos pais de Hanaa ainda está de pé, “mas a maioria dos prédios na mesma rua está severamente danificada”.
Sua própria casa foi destruída por bombardeios israelenses no início da guerra e, desde então, as casas e os negócios de outros membros da família também desapareceram, diz ela.

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Para muitos, como Ahmed al-Jabari, tudo está perdido: “Minha casa, que construí há 40 anos, desapareceu em um instante. Não me sobrou ninguém.”
“Todos os meus irmãos se foram, martirizados, e meus sobrinhos também. O que resta no mundo? A morte é melhor do que a luta em que estamos”, diz ele, em pé entre os escombros em uma rua da Cidade de Gaza.
“Estou feliz que não haja mais sangue nem mortes, mas para onde iremos? Viveremos em uma barraca por 20 anos?”, pergunta.
Dezenas de vídeos que circulam nas redes sociais mostram moradores caminhando entre os escombros e filmando o que resta de seus bairros.
Em um vídeo, um homem pode ser ouvido dizendo: “Esta é a última área que podemos acessar. O exército israelense ainda está perto. Veja a escala da destruição, eles arrasaram tudo.”
Alaa Saleh, um professor que fugiu com a esposa e os seis filhos para Khan Younis há três semanas, disse à BBC: “Só queremos reconstruir. Estamos cansados de viver em tendas que não nos protegem do calor do verão, nem do frio do inverno.”

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Enquanto isso, a defesa civil liderada pelo Hamas afirma estar vasculhando os escombros em busca dos corpos de palestinos desaparecidos.
O advogado Mosa Aldous, que também retornou à sua casa no norte, disse por telefone da Cidade de Gaza: “Não há mais casa. Tudo se foi.”
Na última vez que retornou, durante o cessar-fogo no início deste ano, o prédio havia sido parcialmente destruído por ataques israelenses, mas agora “nada resta”, diz ele.
Mosa viajou para o norte sozinho, pedindo à família que ficasse, pois temia que o cessar-fogo não se mantivesse. Ele afirma que sua família pagou 7.000 shekels (cerca de US$ 2 mil ou R$ 11 mil) para se mudar do norte para o sul no início deste ano e não têm condições de pagar novamente.
“Espero que [o cessar-fogo] continue: isso é o mais importante”, diz ele.
Caminhões de ajuda
Dezenas de caminhões com ajuda humanitária começaram a entrar em Gaza, e muitos outros estão fazendo fila na fronteira com o Egito, mas James Elder, da Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), afirma que isso não é suficiente para o que é necessário.
Em declarações à BBC, ele observa que “o que Israel precisa fazer é muito simples”, que é “abrir várias passagens, não apenas uma”.
A ONU estima que pelo menos 600 caminhões de ajuda sejam necessários todos os dias para começar a lidar com a crise humanitária em Gaza.
“Há cinco ou seis [passagens] que Israel poderia abrir, o que significa que esses caminhões, não seguiriam uma única rota. Eles teriam vários pontos de entrada.”
Elder afirma que as agências de ajuda humanitária da ONU — incluindo o Unicef — estão prontas para intervir “há muito tempo”.
Ele afirma que o que o Unicef quer fazer é distribuir alimentos de alto valor nutricional para crianças e gestantes, além de roupas e calçados de inverno.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL