
Crédito, Reuters
- Author, Mariana Alvim
- Role, Da BBC News Brasil em São Paulo*
O ativista conservador Charlie Kirk, aliado do presidente Donald Trump, foi morto em um atentado com arma de fogo nesta quarta-feira (10/9) durante evento em uma universidade nos Estados Unidos.
Kirk, 31 anos, morreu no hospital, para onde foi levado por seus seguranças após ter sido alvejado.
O diretor do FBI (polícia federal americana), Kash Patel, afirmou nas redes sociais que um suspeito que havia sido detido foi liberado após prestar depoimento.
“Nossa investigação continua e continuaremos a divulgar informações em prol da transparência”, escreveu Patel na rede social X.
Câmeras captaram imagens do atirador, que estava vestindo roupas pretas e possivelmente disparou de um telhado no campus.
Kirk foi alvejado na Universidade Utah Valley (UVU), em Orem, Utah, onde ele participava de um evento.
“Um único tiro foi disparado no pátio perto da praça de alimentação do campus de Orem da Universidade Utah Valley quando o Sr. Charlie Kirk começou a falar no evento planejado”, disse a universidade.
Vídeos nas redes sociais mostram que Kirk falava sobre tiroteios em massa quando foi alvejado.
Em um vídeo, uma pessoa na plateia pergunta para Kirk: “Você sabe quantos atiradores em massa existiram nos Estados Unidos nos últimos 10 anos?”
Segurando um microfone, Kirk respondeu: “Contando ou não a violência de gangues?”
Então, um forte tiro é ouvido e Kirk cai em seu assento. Sangue pode ser visto no pescoço dele.
Uma multidão saiu correndo após o tiro. Havia cerca de 3 mil pessoas no evento.
Segundo o senador Markwayne Mullins, a esposa e os dois filhos de Kirk estavam no local.
O disparo que matou Kirk parece ter sido feito de uma “posição elevada em um prédio acadêmico”, a cerca de 90 a 180 metros de distância, segundo fontes que falaram à CBS.
A universidade solicitou àqueles que ainda estavam no campus para se proteger “até que os policiais possam escoltá-los com segurança para fora do campus”.
A polícia da UVU informou que está indo “de prédio em prédio” para conduzir a evacuação.
Kirk era conhecido por conduzir debates ao ar livre em universidades dos EUA.
Ele liderava o grupo de estudantes conservadores Turning Point USA e tinha um podcast, além de milhões de seguidores nas redes sociais.

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Trajetória
O grupo Turning Point, que ele fundou aos 18 anos, tinha como objetivo disseminar ideais conservadores em faculdades de tendência liberal dos EUA.
O evento na quarta-feira (10) na Universidade de Utah Valley, onde ele foi morto, foi o pontapé inicial de uma turnê do Turning Point por várias instituições de ensino em que estudantes são convidados a debater com Kirk.
Suas redes sociais e seu podcast diário frequentemente exibiam clipes dele debatendo com alunos sobre questões como identidade transgênero, mudanças climáticas, fé e valores familiares.
Um clipe do próprio Trump é reproduzido no início do podcast de Kirk: “Quero agradecer a Charlie, ele é um cara incrível, seu espírito, seu amor por este país, ele fez um trabalho incrível construindo uma das organizações juvenis mais poderosas já criadas.”
O Turning Point, que é uma organização sem fins lucrativos, começou após a reeleição do presidente Barack Obama em 2012. A missão é organizar estudantes para “promover os princípios de responsabilidade fiscal, livre mercado e Estado com poderes limitados”. Atualmente, possui filiais em mais de 850 faculdades.
O grupo desempenhou um papel fundamental no esforço por apoio a Trump e outros candidatos republicanos nas eleições do ano passado. Kirk foi amplamente reconhecido por ajudar a registrar dezenas de milhares de novos eleitores e por mobilizar o Estado do Arizona a votar em Trump.

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O relacionamento entre Kirk e Trump se intensificou após a vitória de republicano. Kirk compareceu à posse de Trump em janeiro e se tornou um visitante regular da Casa Branca.
No início deste ano, ele viajou com o filho de Trump, Donald Trump Jr., para a Groenlândia, num momento em que o presidente defendia que os EUA comprassem ou tomassem o território, que pertence à Dinamarca.
Filho de um arquiteto que cresceu no próspero subúrbio de Prospect Heights, em Chicago, Kirk frequentou uma faculdade comunitária perto de Chicago antes de abandonar os estudos para se dedicar ao ativismo político.
Ele também se candidatou, sem sucesso, a West Point, a academia militar de elite dos EUA, e frequentemente se referia ironicamente à sua falta de diploma universitário ao participar de debates com estudantes e acadêmicos.
Kirk era visto como um ávido orador público, viajando pelo país para discursar em eventos republicanos- muitos dos quais eram populares entre os membros do movimento ultraconservador Tea Party. O programa diário de rádio conduzido por Kirk tinha milhões de seguidores nas redes sociais.
Kirk discursou na Oxford Union, da Universidade de Oxford, no início deste ano e, em 2020, escreveu um best-seller, “A Doutrina Maga”, uma referência à campanha “Make America Great” de Trump.
O seu cristianismo evangélico e sua família — ele se casou com uma ex-Miss Arizona, com quem teve dois filhos — tinham papel destaque em sua política, e ele era visto tanto como o futuro do ativismo conservador quanto como uma figura altamente polarizadora.
Defesa de armas
O controle de armas estava entre os temas que ele costumava discutir em eventos e podcasts. Há alguns meses, Kirk disse: “Infelizmente, vale a pena arcar com o custo de algumas mortes por armas de fogo todos os anos para que possamos ter a Segunda Emenda”.
Ele disseminou visões anti-transgênero e ceticismo em relação à pandemia de covid-19, e também promoveu publicamente a falsa alegação de que a eleição de 2020 foi roubada de Trump.
Mas alguns enfatizam que Kirk apreciava e encorajava o debate sobre diferentes ideias.
“Todo o seu projeto foi construído para superar as diferenças e usar a fala, não a violência, para abordar e resolver os problemas!”, disse no William Wolfe, diretor executivo do Centro de Liderança Batista, no X.
Kirk também mantinha vínculos com o bolsonarismo. O ativista entrevistou o ex-presidente Jair Bolsonaro em seu podcast, em 2023, e organizou um evento em que Bolsonaro deu uma palestra, em Miami, no mesmo ano.
No X, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) lamentou o ocorrido: “Estou chocado. Apenas 31 anos… Charlie Kirk, jovem de bom coração, criativo e empreendedor, que dedicou sua vida a mobilizar a juventude conservadora nos EUA, nos deixou de forma trágica. Tive a honra de acompanhá-lo em seu trabalho e sei da grandeza de sua missão. Mais um conservador vítima do ódio e da intolerância.”
Segundo Mike Wendling, jornalista da BBC News, Kirk era um dos maiores influenciadores conservadores nos EUA.
Wendling afirma que o ativista era um apoiador “fervoroso” de Trump e teve um papel fundamental no movimento MAGA (em referência ao slogan “Make America Great Again”), base de apoio do presidente americano.
“O Turning Point investiu com dinheiro e pessoas nos estados indecisos durante a eleição presidencial do ano passado. Ele [Kirk] discursou em convenções republicanas e, no ano passado, Donald Trump retribuiu o favor com um grande discurso em uma conferência no Turning Point no Arizona”, relata o jornalista da BBC.

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Donald Trump ordenou que as bandeiras sejam hasteadas a meio mastro nos EUA.
“O Grande, e até mesmo Lendário, Charlie Kirk está morto. Ninguém entendia ou tinha o Coração da Juventude dos Estados Unidos da América mais do que Charlie. Ele era amado e admirado por TODOS, especialmente por mim, e agora não está mais entre nós. Meus pêsames e de Melania vão para sua linda esposa Erika e sua família. Charlie, nós te amamos!”, disse o republicano em sua rede social, a Truth Social.
O ex-presidente dos EUA Joe Biden ofereceu condolências à família de Charlie Kirk.
“Não há lugar em nosso país para esse tipo de violência”, escreveu o democrata nas redes sociais.
“Isso precisa acabar agora. Jill e eu estamos rezando pela família e pelos entes queridos de Charlie Kirk.”
O repórter da BBC News Bernd Debusmann Jr. estava na Casa Branca quando a notícia do ataque começou a circular e relata que o clima ali foi de choque.
“Eu fiquei sabendo que o atentado havia ocorrido quando uma jovem funcionária ofegante exclamou ‘meu Deus, Charlie Kirk foi baleado’, enquanto eu estava do lado de fora do escritório de um funcionário de alto escalão da Casa Branca. Isso provocou ainda mais exclamações de outros funcionários da Casa Branca que estavam por perto”, conta Bernd Debusmann Jr.
*Com informações de Owen Amos, Caitlin Wilson, Jude Sheerin e Ana Faguy, em Washington DC; e Brandon Livesay em Nova York.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL