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- Author, Nardine Saad
- Role, Los Angeles
“Jimmy Kimmel Live! será suspenso por tempo indeterminado”, disse um porta-voz da ABC, que pertence ao grupo Disney.
No início desta semana, Kimmel disse durante seu programa que a “gangue Maga (Make America Great Again, o movimento político conservador do presidente Donald Trump)” estava tentando ganhar pontos políticos com o assassinato de Kirk.
A BBC tentou falar com Kimmel na saída do estúdio de televisão em Los Angeles, mas o apresentador não se manifestou.
Comemorando o anúncio da suspensão do apresentador, Trump disse que essa é “uma ótima notícia para a América”.
O apresentador comanda o programa Jimmy Kimmel Live!, que vai ao ar à noite nos EUA. O programa é um talk show — combinando entrevistas de convidados famosos com monólogos cômicos sobre notícias da semana, tudo em frente a uma plateia. Apesar de fazer uma referência a “ao vivo” no título, o programa é gravado previamente.
No ar desde 2003, seu programa é o segundo talk show mais antigo com o mesmo apresentador na história da televisão americana, atrás apenas do The Tonight Show Starring Johnny Carson, que foi transmitido entre 1962 e 1992.
‘Gangue Maga’
Kimmel disse em seu monólogo de segunda à noite: “A gangue Maga está tentando desesperadamente caracterizar esse garoto que assassinou Charlie Kirk como algo diferente de um deles e fazendo tudo o que pode para ganhar pontos políticos com isso.”
O apresentador do programa noturno também criticou as bandeiras hasteadas a meio mastro em homenagem a Kirk e zombou da reação do presidente dos EUA, Donald Trump, ao atentado.
“Não é assim que um adulto lamenta o assassinato de alguém que ele chama de amigo. É assim que uma criança de quatro anos lamenta a morte de um peixinho dourado”, disse Kimmel, que costuma ironizar Trump.
No dia em que Kirk foi baleado, Kimmel se manifestou no Instagram condenando o ataque e enviando “amor” à família do ativista de 31 anos.
Pouco depois de a ABC anunciar a suspensão de Kimmel, Trump escreveu em uma publicação nas redes sociais: “O programa Jimmy Kimmel Show, com seus índices de audiência sob pressão, foi CANCELADO. Parabéns à ABC por finalmente ter a coragem de fazer o que precisava ser feito.”
Depois do anúncio, Kimmel deixou o estúdio do programa em Los Angeles sem fazer comentários.
Pessoas que estavam na fila para participar da plateia ao vivo expressaram decepção com a suspensão.
Janna Blackwell, que estava de férias, disse à BBC: “Isso está ficando ridículo e estúpido”.
“Liberdade de expressão. Ele compartilhou sua opinião e está sendo cancelado. Para mim, isso é bizarro.”
Um pequeno protesto também foi realizado do lado de fora do estúdio com uma placa dizendo “Trump precisa ir embora agora”.
Algumas figuras proeminentes de Hollywood se manifestaram contra a suspensão de Kimmel. O ator e diretor Ben Stiller compartilhou a notícia no X com o comentário: “Isso não está certo”.
A estrela de Hacks, Jean Smart, que ganhou um Emmy no domingo, postou no Instagram que estava “horrorizada com o cancelamento”, acrescentando: “O que Jimmy disse foi liberdade de expressão, não discurso de ódio”.
A atriz Jamie Lee Curtis postou um story no Instagram com uma das próprias citações de Kimmel no início do ano. “Eu não acredito que alguém deva ser cancelado, eu realmente não acredito”, disse ele em abril.
Outras figuras que demonstraram seu apoio incluem o cantor John Legend e a atriz Alison Brie, que descreveu a notícia como “irreal e muito assustadora”.

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O anúncio oficial da ABC veio logo depois de uma das maiores proprietárias de emissoras de TV dos EUA, a Nexstar Media, dizer que não transmitiria o Jimmy Kimmel Live! “no futuro próximo, começando pelo programa desta noite”.
A Nexstar transmite programas de grandes canais como a ABC em sua rede de estações de TV espalhadas pelo país.
A Nexstar disse que os comentários do comediante sobre Kirk foram “ofensivos e insensíveis em um momento crítico do nosso discurso político nacional”.
“[Nós] não acreditamos que eles reflitam o espectro de opiniões, pontos de vista ou valores das comunidades locais nas quais estamos localizados”, disse Andrew Alford, presidente da divisão de transmissão da Nexstar.
O presidente da Comissão Federal de Comunicações (FCC), Brendan Carr, agradeceu à Nexstar “por fazer a coisa certa” e disse esperar que outras emissoras sigam seu exemplo.
A Nexstar está atualmente buscando a aprovação da FCC para sua planejada fusão de US$ 6,2 bilhões com o grupo Tegna.
A Sinclair, maior afiliada da ABC nos EUA, seguiu o exemplo da Nexstar. A emissora anunciou que exibiria um programa especial em memória a Kirk na sexta-feira (19/9), no horário original do programa de Kimmel.
Críticas de nomeado de Trump
O diretor da FCC, Brendan Carr, foi nomeado por Trump para o cargo. Ele já havia criticado anteriormente o monólogo de Kimmel.
O chefe do órgão regulador de comunicações dos EUA disse na quarta-feira (17/9) que o apresentador da ABC demonstrou “a conduta mais doentia possível” e pediu à Disney que tomasse medidas.
“[As emissoras] têm uma licença concedida por nós na FCC, e isso traz consigo a obrigação de operar no interesse público”, disse o indicado por Trump ao Benny Show, um podcast conservador.
Ele observou que um pedido de desculpas de Kimmel seria uma “medida mínima e muito razoável”.
Mas Anna Gomez, a única democrata que integra a FCC, criticou os comentários de Carr.
Ela postou no X que “um ato indesculpável de violência política por parte de um indivíduo perturbado nunca deve ser explorado como justificativa para censura ou controle mais amplo”.
O Writers Guild of America (WGA), sindicato de roteiristas de Hollywood, condenou a decisão de tirar Kimmel do ar como uma violação dos direitos constitucionais de liberdade de expressão.
“Vergonha para aqueles no governo que se esquecem dessa verdade fundamental”, disse em um comunicado.
O Sag-Aftra, um sindicato de atores, disse que a medida era “o tipo de repressão e retaliação que coloca em risco as liberdades de todos”.

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Uma fonte que conhece os bastidores da situação de Kimmel disse à rede de televisão CNBC que o apresentador não foi demitido e que os chefes da rede pretendem conversar com o comediante sobre o que ele deve dizer quando voltar ao ar.
Kimmel é o mais recente apresentador de talk shows nos EUA a ver seu programa enfrentar problemas. Cada vez mais os telespectadores estão trocando programas tradicionais de televisão por programas de streaming.
Em julho, a rede rival da ABC, a CBS, anunciou que encerraria o The Late Show With Stephen Colbert no ano que vem, após 11 temporadas no ar.
Executivos da rede disseram que a mudança “não estava relacionada de forma alguma ao desempenho do programa, conteúdo ou outros assuntos que aconteciam na Paramount”.
No entanto, Colbert criticou duramente a rede e sua empresa controladora por causa da decisão.
Ele acusou a CBS de vazar dados financeiros para a imprensa e fez alusão a um acordo de US$ 16 milhões com Trump depois que este processou a rede por uma entrevista que seu programa 60 Minutes fez no ano passado com a ex-vice-presidente Kamala Harris.
O pagamento ocorreu vários meses depois que a ABC, de propriedade da Disney, concordou em pagar US$ 15 milhões a Trump para encerrar um processo de difamação depois que seu principal âncora, George Stephanopoulos, disse falsamente e repetidamente durante uma entrevista que o presidente havia sido considerado “responsável por estupro”.
Um júri em um caso civil determinou que Trump era responsável por “abuso sexual”, que tem uma definição específica na lei de Nova York.
Com reportagem adicional de Regan Morris em Los Angeles.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL