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15 de novembro de 2025

Chef Bel Coelho lança livro e documentário em Belém – 15/11/2025 – Ambiente

Chef Bel Coelho lança livro e documentário em Belém – 15/11/2025 – Ambiente

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Uma pesquisa de 15 anos sobre ingredientes dos diferentes biomas do Brasil levou a chef paulistana Bel Coelho a empreender um projeto ambicioso e valioso: registrar em livro e documentário a riqueza ecológica e sociocultural de cada uma dessas áreas por meio dos sistemas alimentares.

Os primeiros resultados do projeto são o livro e o documentário “Floresta na Boca”, sobre o bioma amazônico, aproveitando a realização da COP30 este ano em Belém. O primeiro terá lançamento na livraria Travessia, na capital paraense, neste domingo (16), às 17h, com bate-papo e sessão de autógrafo.

Já o filme será exibido, pela primeira vez, neste sábado (15), no Museu das Amazônias, também em Belém, às 15h. Ambos os eventos são abertos ao público.

A obra, que é bilíngue (português/inglês), pode ser definida como um diário de viagem, no qual Bel trata de três elementos fundamentais —as pessoas, as paisagens e os alimentos—, para tentar entender esse enorme território que, mesmo com tanta projeção mundial, ainda é muito desconhecido. Além de sabores, texturas e aromas, a chef queria entender a origem, a geografia e as relações implícitas nas cadeias produtivas.

Os direitos autorais da publicação, financiada pelo Instituto Arapyaú, serão destinados às organizações de base comunitária que contribuíram para sua elaboração.

Para o livro, a chef escolheu quatro ingredientes emblemáticos da região: açaí, cacau, castanha-do-pará e mandioca. “Eu queria me aprofundar nessas cadeias produtivas e como elas podem ajudar na conservação da biodiversidade e a levar recursos e fluxo econômico para as comunidades, com bioeconomia, beneficiamento e incremento das tecnologias”, explica em entrevista no Espaço Folha, em Belém.

A autora mostra, na publicação, os sistemas alimentares regenerativos e as pessoas que estão por trás deles. “São elas que produzem de forma sustentável, com a floresta em pé, seja de forma extrativista ou agroflorestal. Enfim, usando os mais variados modelos. Eu queria colocar a gastronomia a serviço dessa causa.”

Para realizar a obra, a autora viajou durante um mês por diferentes localidades do Pará, em três regiões do estado —baixo Tocantins, Xingu e Tapajós—, visitando comunidades de agricultores familiares, povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e extrativistas. Ela convidou o amigo e ecólogo Jerônimo Villas-Bôas, da empresa Reenvolver, para elaborar uma rota de viagem que passasse por territórios que expressassem a riqueza ecológica e sociocultural da amazônia.

A maioria dos deslocamentos foram realizados de barco, pelos rios da região, às vezes por longas horas. “De Altamira para a Reserva Extrativista Rio Novo, de castanha-do-pará, foram 12 horas”, relata. “Mas é lindo. Eu me sinto muito privilegiada e já venho fazendo muitas imersões na amazônia, no Pará sobretudo. Então eu já estou familiarizada”, diz.

Foi essa familiaridade que fez com que escolhesse esse estado para representar o bioma. “A amazônia é quase do tamanho da Europa. A gente tinha que escolher um recorte. E eu venho ao Pará desde 2003, então tenho mais intimidade com a cultura, com as pessoas, já conhecia alguns sistemas, algumas pessoas por trás desses sistemas”, explica. Ela também acha a gastronomia paraense variada e complexa, “no bom sentido da palavra”.

Depoimentos amazônidas

O livro traz depoimentos de amazônidas que Bel foi conhecendo no seu périplo ecogastronômico, como o extrativista Vanildo Ferreira Quaresma, presidente da Cofruta (Cooperativa de Fruticultores de Abaetetuba), que conta a relevância do açaí em sua vida: “É um dos produtos que me criou. Quando era novo, passava muita dificuldade. Se não tinha comida, tendo açaí, a gente fazia mingau ou suco e ia sobrevivendo. Naquela época, não tinha disputa por esse produto no mercado. Era só para o nosso consumo”.

Em outro depoimento, Raimunda Rodrigues, da Reserva Extrativista Rio Novo, fala sobre a angústia dos extrativistas da região pela falta da safra deste ano. “Tenho 35 anos, nasci e me criei na região. A gente nunca tinha ficado sem castanha. Tem ano que o preço até cai, de tanta castanha. Em outros, dá menos. Mas é um menos que tu consegues tirar e guardar para a família. Este ano foi muito surpreendente. Imagina tu olhares para o mato e não ter nem para o consumo?”

Aliás, os efeitos das mudanças climáticas na região ficaram evidentes para Bel durante a viagem. “Além dessa história da castanha-do-pará, as estiagens mais longas do que o normal afetam os rios e todos os povos que dependem da pesca para sobreviver. Então é muito sério. E os incêndios também aumentam”, relata.

Durante a viagem, Bel aprendeu sete receitas, que estão no livro, como o manzape, um bolo tradicional preparado com massa de mandioca pubada, ensinado por Francisca das Chagas, da Resex Rio Novo; e o mapará assado, de Helena Quaresma, do baixo Tocantins.

A chef publicou ainda três receitas próprias, com ingredientes do bioma, como o tempurá de pimenta-de-cheiro com camarão e geleia de bacuri e a brandade de pirarucu seco com gema curada.

Bel pretende lançar livros sobre os outros biomas do país, começando pela caatinga, para o qual já captou recursos.

Documentário sobre mulheres ribeirinhas

Já o documentário foi gravado no último mês de julho. O filme é dirigido pela fotógrafa Carol Quintanilha e tem 52 minutos de duração. Com pesquisa de Patty Durães, foca a vida das mulheres de comunidades ribeirinhas de cidades paraenses, como Altamira, Santarém, Belém, Abaetetuba e Medicilândia.

“Quisemos dar voz às guardiãs da floresta, que produzem alimentos de altíssimo valor nutricional e sensorial, com práticas de baixo impacto ambiental e imenso valor ecológico. Elas fazem isso de um jeito lindo, respeitoso, em plena interação com os ciclos naturais”, diz Bel, que navegou por 20 dias pelos rios Xingu, Iriri, Novo, Tapajós, Arapiuns e Baixo Tocantins.

Além de exibi-lo durante a COP30, a ideia é lançar o documentário em São Paulo e fechar a exibição com um serviço de streaming.



Fonte.:Folha de São Paulo

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