Ir ao Sud, o Pássaro Verde é uma experiência gastronômica das mais interessantes. Instalado em uma casa sem nome na fachada e com um grande forno de barro no salão, o restaurante segue o que Roberta Sudbrack sempre defendeu e optou para sua vida depois da carreira consolidada: oferecer comidas reconfortantes e artesanais, preparadas com insumos de pequenos produtores em um ambiente acolhedor, que parece uma casa de família.
A chef, ex-cozinheira oficial do Palácio do Planalto na gestão do presidente Fernando Henrique, inaugurou o Sud em 2018, um ano depois de surpreender a todos ao fechar as portas do elegante restaurante que levava seu nome.
Com aquela proposta recebeu uma estrela Michelin e o título de melhor chef mulher da América Latina pela revista britânica Restaurant, em 2015. O lugar vivia lotado e servia pratos em menu degustação a cifras altíssimas. Mas ela já disse e repetiu: não estava feliz.
Resolveu se reinventar com o Sud, o Pássaro Verde, e alçou voo rumo à gastronomia em que acredita. O cardápio, aliás, diz o porquê deste nome pouco usual: “A explicação é uma só: liberdade”, escreveu, na primeira página.
A liberdade se reflete até na descrição dos pratos, que abusa dos diminutivos, de maneira informal -e até um pouco fofa. “Cordeiro assado devagarinho no nosso forno de barro, batatinhas assadas, cenourinhas e folhas orgânicas” (R$ 196). Seria o meu pedido, mas optei pelo cupim assado com uma pincelada de tucupi preto e missô, purê rústico de batatas e cenourinhas (R$189).
As cenourinhas não vieram, ninguém explicou o motivo, e eu só notei a ausência depois. Não fizeram falta. O prato, simples (estamos falando de carne com purê de batata), trouxe uma sensação boa de comida de casa, de família, me lembrou minhas tias -e talvez seja isso o que Roberta busca, já que sua inspiração na cozinha é a avó, Iracema, que morreu em 2018. “Eu me preocupo é com a opinião dela, não com a de jurados de prêmios”, me contou, há uns dez anos.
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Antes de provar o cupim e o filé-mignon na brasa (e no ponto perfeito), com molho de cogumelos orgânicos e as melhores batatas fritas em décadas -cortadas em pedaços grandes, suculentas e crocantes (R$ 196)-, experimentei três entradinhas que se complementavam.
Vieram juntos o pão caseiro de fermentação natural com, segundo o menu, “manteiga caseira fresquinha produzida semanalmente para nós” (R$ 59, quatro fatias de pão), queijo vacherin (R$ 98), e ovo caipira frito com uma salpicada de bottarga (R$ 36). O ovo frito, capítulo quase anedótico no manual de qualquer cozinheiro, estava perfeito. Difícil imaginar como melhorar qualquer uma dessas opções.
As sobremesas seguiram a mesma toada. A tortinha de limão caipira e marshmallow queimado (R$ 49) e a torta rústica de figos com creme (R$ 59) estavam irretocáveis, mas um pouco diminutas para o valor cobrado.
O Sud não é um restaurante barato, mas o fato de só lidar com pequenos produtores explica o valor final: paga-se o preço dos melhores e mais frescos ingredientes e da assinatura de uma chef renomada. A exceção fica pelas bebidas. Qual a razão para cobrar R$ 19 por uma industrialíssima lata de Coca-Cola? E R$ 29 por uma Stella Artois? Água a R$ 16… Fui dormir, muito bem alimentada, pensando nesse paradoxo.
Fonte.:Folha de São Paulo


