A China está prestes a se tornar o segundo país a desenvolver e demonstrar um lançador de classe orbital com primeiro estágio capaz de pouso controlado e reutilização. A Casc (Corporação de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da China) pretende lançar na noite desta terça-feira (16, manhã de quarta, 17, na China) a primeira versão do lançador Longa Marcha 12A e tentar realizar o pouso do primeiro estágio em uma plataforma próxima.
A decolagem acontecerá do centro de Jiuquan e consistirá na segunda tentativa de realizar algo do tipo pelos chineses. Duas semanas antes, o foguete Zhuque-3, da empresa privada LandSpace, sediada em Pequim, realizou seu primeiro voo e conseguiu atingir a órbita, mas o primeiro estágio falhou em sua tentativa de pouso.
O Longa Marcha 12A, por sua vez, é estatal, e baseado em uma versão totalmente descartável, o Longa Marcha 12, que já realizou quatro voos desde novembro de 2024, o último deles na quinta-feira passada (11). A configuração em dois estágios, assim como o diâmetro de 3,8 metros, é a mesma para as duas versões, mas o 12A trocou motores movidos a querosene por outros que usam metano.
A reutilização é uma peça fundamental no plano chinês de equiparar suas capacidades espaciais com os Estados Unidos, que demonstraram pela primeira vez a possibilidade de pousar um primeiro estágio de forma controlada há dez anos, com o foguete Falcon 9, da SpaceX. Foi justamente essa tecnologia que viabilizou comercialmente a megaconstelação de satélites Starlink, que a empresa de Elon Musk usa para fornecer internet rápida e de baixa latência em escala global e que a essa altura já é composta por cerca de 8.000 satélites.
No mês passado, a Blue Origin, empresa de Jeff Bezos, igualou o feito, realizando um pouso suave do primeiro estágio do seu foguete New Glenn e começando a projetar uma sombra de competição sobre a SpaceX.
A seguir, deve a vez dos chineses, que também têm seu próprio projeto de megaconstelação de satélites em andamento: o Guowang já tem 127 satélites em órbita, os últimos nove lançados no voo mais recente do Longa Marcha 12, o de quinta passada. O plano eventualmente é ter 13 mil deles lá em cima, embora de forma paulatina –400 são esperados até 2027.
Com isso, a transição para o modelo de negócios de foguetes reutilizáveis, com consequente barateamento do acesso ao espaço, começa a se concretizar, depois de uma década em que a SpaceX pôde usufruir sozinha dessa tecnologia. Não por acaso Musk já está pensando no próximo passo, cogitando abrir a empresa ao capital com ações na bolsa para investir em infraestrutura espacial para IA –ele está apostando que será mais fácil manter os servidores operando no espaço, em razão da disponibilidade da luz solar e facilitação de controle térmico.
Além da corrida pela reutilização, americanos e chineses também travam uma competição para ver quem chega primeiro à superfície da Lua no século 21. Os americanos devem lançar a missão Artemis 2, que levará quatro astronautas ao redor da Lua, entre fevereiro e abril de 2026 –mesmo ano em que os chineses pretendem fazer o voo inaugural de seu foguete lunar Longa Marcha 10 e sua nova cápsula Mengzhou, destinada a realizar missões lunares tripuladas. Se esse primeiro voo já será com astronautas, não sabemos.
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Fonte.:Folha de S.Paulo


