
Crédito, AFP via Getty Images
- Author, Iara Diniz
- Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
Três mortes foram registradas na cidade de Palhoça, em Santa Catarina, que nas últimas 24 horas registrou um acúmulo de chuva de 137 mm, de acordo com o MetSul.
Meteorologistas consideram o ciclone de “altíssimo risco”, com previsão de rajadas de vento que podem chegar a 120km/h.
Para climatologistas ouvidos pela BBC News Brasil, por mais que a ocorrência de ciclones seja comum no hemisfério sul, não há como negar o impacto das mudanças climáticas em eventos intensos como esse.
“Não é incomum ter um ciclone esta época do ano, o que é incomum é a intensidade que estamos vendo. E os estudos indicam que esse cenário é uma tendência do aquecimento global”, afirma o climatologista José Marengo, que coordena o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden).
Nos últimos anos, diversos ciclones foram registrados no Brasil, muitos com chuvas intensas, rajadas de vento, principalmente na região sul.
Seis pessoas morreram e mais de mil moradores ficaram desalojados. Os ventos chegaram a 250km/h.

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Segundo Franscisco Aquino, climatologista e professor da UFRGS, nem todo evento meteorológico é resultado das mudanças do clima, mas a frequência e a intensidade dos ciclones extratropicais aumentou nas últimas décadas no hemisfério sul.
Ele avalia que há uma relação direta entre os efeitos dessas mudanças, sobretudo na Antártica, e o aumento de ciclones que atingiram o Brasil desde setembro.
Aquino explica que, neste ano, a Antártica registrou baixa extensão de gelo marinho, tanto no verão quanto no inverno.
Essa redução de gelo coloca a oscilação Antártica em fase negativa, empurrando o cinturão de ciclones extratropicais para o sul do Brasil, o que explica essa sequência incomum de tempestades e eventos extremos.
“Como a atmosfera está mais quente, e o planeta segue em mudança climática, não tem como entender que não há uma combinação desses fatores, nesse caso reduzindo o gelo marinho, deixando a fase negativa no sul, e permitindo a formação de ciclones mais intensos”, afirma.
‘Ciclones-bombas’
O ciclone que atinge o sul do Brasil é apontado por meteorologistas como um evento atípico esta época do ano pela combinação de vários fatores, entre eles a pressão excepcionalmente baixa e sua intensidade.
É esperado que ele alcance um valor mínimo de pressão atmosférica abaixo de 1000 hPa (hectopascal), valores considerados “excepcionalmente baixos e raríssimos”.
Enver Gutierrez, pesquisador e Chefe da Divisão de Previsão de Tempo e Clima do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), explica que as ondulações de jatos — correntes de ventos que ficam na parte superior da atmosfera e são responsáveis por organizar o clima do planeta — registradas nesse ciclone foram muito intensas, algo que é comum no inverno, e não na primavera.
Com isso, os ventos se projetaram para as camadas de baixo, contribuindo para a intensificação do ciclone.
Segundo ele, essas características são apontadas em estudos como possíveis efeitos de mudanças climáticas.
“Estudos desses cenários de aquecimento global indicam que os ciclones estariam mais intensos, e nesse caso, foi registrada uma ondulação bem intensa, o que corrobora com esses estudos”, declarou.
Marengo acrescenta que tem-se observado no Brasil uma tendência na formação de ciclones chamados “ciclones-bombas”, com ventos intensos, aproximação do continente.
A frequência desses eventos costuma ser associada ao aquecimento da temperatura.
Apesar de pontuar que ainda é cedo para classificar como “ciclone-bomba” o sistema que atualmente atravessa o Rio Grande do Sul, Marengo afirma que não há dúvidas de que ele seja um “ciclone intenso, com alta probabilidade de desastres”.

Crédito, Divulgaçaõ/INPE
Especialistas alertam que esses ‘ciclones devastadores’ tendem a se intensificar cada vez mais se seus impactos não forem suavizados.
Isso engloba ter uma agenda focada nas mudanças do clima, com soluções baseadas na natureza, para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, mas também uma estrutura voltada para a população, argumenta Aquino.
“Neste momento é preciso aumentar a estrutura da Defesa Civil, criar alertas antecipados, criar métodos para melhorar a comunicação e permitir que as pessoas possam se informar dos riscos e se proteger. É muito importante que a população esteja atenta a alertas no smartphone, à previsão do tempo. Só assim conseguimos reduzir impactos.”
Fonte.:BBC NEWS BRASIL


