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18 de outubro de 2025

Cidade japonesa que faz pinot noir teme o clima – 17/10/2025 – Comida

Cidade japonesa que faz pinot noir teme o clima – 17/10/2025 – Comida

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As mudanças climáticas ajudaram a tornar a pequena cidade japonesa de Yoichi um lugar queridinho dos apreciadores de pinot noir. O aumento gradual das temperaturas têm incentivado os moradores a experimentarem a delicada variedade de uva nas últimas duas décadas.

Yoichi era conhecida como o berço do uísque Nikka. Mas ganhou destaque na viticultura há cinco anos, quando o Pinot Noir Nana-Tsu-Mori 2017, da vinícola local Domaine Takahiko, foi destaque na carta de vinhos do mundialmente aclamado restaurante Noma, em Copenhague.

Uma garrafa desse vinho premiado, que antes era vendida por cerca de US$ 30 (R$ 160), agora é oferecida por revendedores no Japão por cerca de US$ 560 (R$ 3.000). Outros vinhos da cidade, localizada na ilha de Hokkaido, no extremo norte do Japão, e que agora tem cerca de 20 vinícolas e 70 vinhedos, também receberam sua cota de elogios.

Mas os agricultores de Yoichi temem que, mesmo antes que a reputação da cidade tenha a chance de ser adotada pelos consumidores tradicionais, recentes aumentos rápidos nas temperaturas e, potencialmente, mais chuvas durante a temporada de colheita podem dificultar cultivar a uva pinot noir.

“É como uma montanha-russa”, disse Takahiko Soga, proprietário do Domaine Takahiko, que fundou sua vinícola em 2010.

Soga acreditava que as temperaturas de Yoichi durante a temporada de cultivo eram aproximadamente semelhantes às da região da Alsácia, na França, mas depois atingiram níveis comparáveis aos da Borgonha, que produz alguns dos melhores pinot noirs do mundo.

“Quando eu pensava que estávamos nas temperaturas da Borgonha, chegamos mais perto dos níveis do Loire ou de Bordeaux este ano”, disse.

As mudanças climáticas afetam agricultores de todos os tipos de cultivos em todo o mundo, enquanto beneficiam apenas alguns. Os produtores de vinho não são exceção, mas a uva pinot noir é particularmente sensível.

Conhecida por produzir vinhos elegantes e transparentes, a uva pode prosperar em climas frios a temperados, mas sua casca fina e cachos compactos a tornam extremamente sensível até mesmo a um pouco de sol ou chuva em excesso.

Produção impactada por pássaros

O Índice de Winkler classifica os climas das regiões vinícolas ao redor do mundo com base na soma das temperaturas médias diárias que ficam acima de 10ºC, também conhecidas como graus-dia de crescimento (GDD), durante o período de abril a outubro.

Hokkaido geralmente é considerada como tendo um clima da Região I —o mais frio dos cinco grupos climáticos de Winkler.

Mas, desde 2023, a soma do GDD de Yoichi subiu para o território da Região II, de acordo com dados da Agência Meteorológica do Japão. Essa é uma zona de temperatura mais comumente considerada adequada para tintos de corpo médio, como merlot e cabernet sauvignon.

Em 2025, Yoichi teve seu verão mais quente desde o início dos registros, com temperaturas médias de 22,1 10ºC de junho a agosto, cerca de 3ºC acima da média das 3 décadas até 2020.

Os verões mais quentes e longos de Yoichi aumentam as chances de as uvas pinot noir amadurecerem muito rápido, levando a níveis de açúcar indesejáveis e baixos níveis de acidez. Temperaturas mais altas também tornam a fruta mais propensa a danos causados pela chuva.

Yuichi Hirotsu, um premiado proprietário de vinhedos cuja família estava entre os primeiros agricultores da cidade a plantar o clássico tinto em 2006, disse que suas uvas pinot noir sofreram danos causados pela chuva este ano.

Outra variedade que ele cultiva, a austríaca zweigeltrebe, também foi severamente atingida por uma chuva particularmente forte em setembro —algo que Hirotsu diz não ter visto antes no início do outono.

“Levamos uma eternidade para colher zweigeltrebe este ano porque tivemos que remover as uvas danificadas uma a uma”, disse ele.

Outra preocupação dos viticultores de Yoichi é o aumento acentuado no número de pássaros que procuram se banquetear com suas uvas —uma tendência que eles também atribuem às mudanças climáticas, alegando que isso reduziu as fontes de nozes e sementes para os pássaros nas montanhas próximas.

O flagelo é tão grande que o som de fogos de artifício para assustá-los está sempre presente em Yoichi.

A necessidade de adquirir conhecimento sobre como lidar com as mudanças climáticas foi uma das principais razões por trás da assinatura, pelo prefeito de Yoichi, Keisuke Saito, de um acordo vinícola com a histórica comuna de pinot noir, gevrey-chambertin, na Borgonha, este ano, que permitirá que os dois grupos troquem conhecimento sobre métodos de produção.

Em termos de medidas imediatas, como o controle de temperatura e umidade se torna cada vez mais desafiador, o Domaine Takahiko construiu uma adega subterrânea para armazenar cem barris.

Os produtores acreditam que experimentar novos tipos de pinot noir ou outras uvas também será necessário.

“Pinot noir pode não ser o objetivo final desta cidade. Variedades como merlot ou syrah podem ser o que nos aguarda no futuro”, disse Soga.



Fonte.:Folha de São Paulo

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