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7 de outubro de 2025

Círio faz Belém esquecer COP30 e mergulhar em festa – 07/10/2025 – Cotidiano

Círio faz Belém esquecer COP30 e mergulhar em festa – 07/10/2025 – Cotidiano

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Aos poucos, antes mesmo de outubro chegar, Belém passou a respirar o Círio de Nazaré, descrito pelos organizadores do evento como a maior procissão católica do mundo –ou mesmo como a maior procissão religiosa do mundo, segundo afirmado por parte da igreja.

As casas, prédios e lojas ganharam adereços que lembram a todo momento que o Círio se aproxima. São cordas que adornam portas e entradas, imagens de Nossa Senhora de Nazaré rodeadas por flores e fitas coloridas.

Para onde se vai, só se fala no Círio: em como será o almoço de domingo, com pratos típicos da culinária paraense; sobre o movimento de parentes rumo à capital; e sobre as festas –religiosas ou não– que cada um pretende estar presente.

É como se Belém, durante o extenso calendário do Círio, esquecesse que, em novembro, vai sediar a COP30, a conferência do clima da ONU.

Para o Círio, são esperados 2 milhões de pessoas, levando em conta toda a movimentação de gente ao longo dos dias, conforme a Igreja Católica em Belém. A quantidade prevista de turistas é de 100 mil –10% a mais do que em 2024. Para a COP30, existem 55 mil inscritos até agora, segundo os últimos dados dos governos federal e do Pará.

A festa católica, que homenageia Nossa Senhora de Nazaré há 233 anos e que é patrimônio cultural da humanidade declarado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), começa oficialmente nesta terça-feira (7), às 18h, com uma missa de abertura na Basílica Santuário de Nazaré.

Conforme a tradição católica, foi na região da basílica que foi encontrada uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré, em 1700. Em 1793, diante do aumento da devoção à santa, os paraenses fizeram a primeira procissão em homenagem à padroeira do estado.

Tudo no Círio é um acontecimento. Existem a revelação do cartaz (já feita); a revelação do manto que a imagem usará neste ano (na próxima quinta, 9); uma romaria fluvial no sábado (11) pela baía do Guajará, com 200 a 300 embarcações; e uma romaria de motos no mesmo dia, com cerca de 15 mil veículos de duas rodas.

Ao todo, são feitas 14 procissões. Há peregrinos que caminham quilômetros e quilômetros, vindos de cidades vizinhas, para participação no Círio.

Cerca de 27 mil pessoas estão envolvidas na segurança e suporte aos fiéis, segundo a organização. São militares das Forças Armadas, servidores de governos das três esferas e uma “guarda de Nazaré”, com 3.000 homens voluntários.

Os eventos mais importantes são a trasladação, na noite de sábado (11), quando a imagem de Nossa Senhora de Nazaré deixa a basílica e é levada para a Catedral de Belém, na Cidade Velha, e o Círio propriamente dito, que é o retorno da imagem à basílica, no domingo (12), a partir das 7h.

É na trasladação e no Círio que a corda feita com fibra amazônica –produzida em Castanhal, a 70 km de Belém– é estendida para um dos momentos mais emblemáticos e imagéticos de toda a procissão.

São 400 m de corda. Às 14h no sábado, ela é estendida. No domingo, é na madrugada, a partir de 1h30. Devotos guardam seus lugares desde o primeiro minuto, para pagar promessas, fazer promessas, agradecer pelo que consideram uma graça alcançada. Um pedaço dessa corda será levado para casa ao fim das procissões.

No trajeto, existem entre 20 e 30 postos de atendimento médico, diante dos riscos que sempre existem na multidão, num dos meses mais quentes do verão amazônico. Para dezenas de fiéis, é preciso buscar atendimento em hospitais

A COP30 não influenciou nos preços de hotéis e casas, pelo menos até onde é sabido pela diretoria do Círio de Nazaré. O evento está incorporado na rotina de paraenses católicos, que se organizam com parentes que moram na capital. O almoço tradicional –quase como um segundo Natal, com maniçoba e pato com tucupi nas mesas de parte das casas– é servido no dia do Círio.

Para a COP30, quando são esperados mais de 50 mil pessoas de quase 200 países, há uma crise de hospedagem persistente, que se arrasta desde janeiro. A crise é provocada pela cobrança de preços abusivos para leitos em hotéis e imóveis com hospedagem disponível. O governo Lula (PT) disse que ingressará na Justiça com ação contra hotéis em razão dos preços abusivos.

A cúpula de chefes de Estado e de governo da COP30 ocorrerá nos dias 6 e 7 de novembro –em um mês, portanto. Na sexta (3), durante agenda de Lula em Belém, o presidente da conferência, embaixador André Corrêa do Lago, disse que o evento ainda depende de preços mais acessíveis em hotéis para que estejam presentes “todos os atores que a gente quer que venham”.

No Círio, a COP30 estará presente em mensagens de organizações como a Repam-Brasil (Rede Eclesial Pan-Amazônica) e Articulação Igreja Rumo à COP30, com distribuição de fitinhas, ventarolas e faixas que associam a festa católica e a pauta ambiental.

O tema do Círio também é uma alusão à questão ambiental, segundo os organizadores: “Maria, mãe e rainha de toda a criação”.

“A igreja quis mostrar quem é o autor de toda criação, com o olhar de mãe”, afirma Antônio Luís de Sousa, coordenador do Círio há 21 anos. A diretoria do evento é da Arquidiocese de Belém.

Em paralelo ao calendário religioso, uma agenda de festas atrai devotos e não devotos. A igreja não as incorpora ao calendário, mas também não se opõe, pelo menos não de forma ostensiva.

Uma das mais tradicionais é a Festa da Chiquita, logo após a trasladação no sábado, em um espaço público –a Praça da República. A festa é voltada ao público LGBTQIAPN+. Existe há 49 anos, e incluiu a COP30 no horizonte. O tema de 2025 é “Chiquita na COP30: exclusão social e os riscos para a população LGBTQIAPN+ na Amazônia”.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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