Faltando 15 dias para o início da vigência da tarifa de 50% sobre a importação de produtos brasileiros, o próximo passo do governo federal nas negociações com os Estados Unidos deve ser pedir o adiamento da cobrança do imposto.
Essa é a avaliação de empresários ouvidos pela reportagem que participaram de reuniões com o Executivo no comitê interministerial criado para definir a resposta brasileira à alíquota estabelecida por Donald Trump.
Já foram quatro reuniões no contexto do comitê. O governo se encontrou com representantes da indústria e do agronegócio nacional, além de empresas americanas, incluindo gigantes como Amazon e Coca-Cola.
As reuniões, até o momento, terminaram com um recado do setor produtivo ao governo: as tarifas são insustentáveis e inviáveis para a indústria e o agronegócio.
O principal pedido dos produtores nacionais – tanto nas reuniões quanto em entrevistas após elas – é para que o governo negocie com os EUA a ampliação do prazo para o início da vigência da tarifa, previsto para 1º de agosto.
Os empresários apresentam dois argumentos para sustentar essa previsão. O primeiro é o curto prazo para a negociação: até 1º de agosto, data em que a tarifa entra em vigor, restam apenas 11 dias úteis.
O governo tenta abrir um diálogo oficial para tratar das tarifas desde abril, quando começou a guerra tarifária iniciada por Donald Trump e o Brasil foi atingido por uma alíquota de 10%.
Cartas enviadas pelo governo brasileiro chegaram a ser ignoradas pela administração Trump. Por isso, os empresários concluem que nada indica uma mudança de postura por parte dos Estados Unidos, o que dificultaria qualquer negociação para reduzir a alíquota neste momento.
Com um pedido de adiamento, o governo, que se vê em uma situação urgente – já que a nova tarifa é cinco vezes maior que a anterior – ganharia tempo para dialogar e até oferecer concessões comerciais que facilitem a negociação.
Outro ponto indicado pelo setor produtivo, principalmente pelo agronegócio, é a insegurança jurídica em contratos já firmados. Os empresários afirmam que acordos com clientes norte-americanos não poderão ser cumpridos caso as tarifas passem a valer em agosto.
No caso da carne, por exemplo, já há produtos em portos e até em navios a caminho dos Estados Unidos. Grandes associações do agro pedem, inclusive, uma retirada total da sobretaxa para alimentos.
Diante da pressão do setor, o governo já começa a admitir que o pedido de adiamento é uma possibilidade.
Nesta quarta-feira (16), o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou que o Brasil poderá solicitar aos Estados Unidos o adiamento da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, caso seja necessário.
“O bom é que se resolva nos próximos dias, mas, se houver a necessidade de prorrogar durante as negociações, não vejo problema”, disse Alckmin.
Reunião entre governo e empresários
O governo federal iniciou, na última terça-feira (15), uma série de reuniões com representantes do setor privado para discutir alternativas e estratégias de negociação com os Estados Unidos.
A ideia do Planalto é aproveitar a interlocução e o acesso dos empresários brasileiros ao mercado dos EUA para alinhar o discurso entre os setores público e privado e definir a melhor estratégia de negociação.
O vice-presidente argumenta que, antes de o governo tomar qualquer decisão, é fundamental ouvir o setor privado, que tem ligação direta com o mercado norte-americano.
Fonte: CNN Brasil