RANIER BRAGON, RAPHAEL DI CUNTO E VICTORIA AZEVEDO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A cobrança de fidelidade feita por Lula na reunião ministerial desta terça-feira (26) elevou a pressão interna de União Brasil e PP para desembarque do governo, movimento que já é defendido publicamente há algum tempo pelos presidentes das duas siglas, Antonio Rueda e Ciro Nogueira.
Apesar de controlar quatro ministérios e a Caixa Econômica Federal, os dois partidos, que estão em fase final da montagem de uma federação, atuam majoritariamente em prol de uma candidatura presidencial de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em 2026.
A ameaça de desembarque vem sendo liderada por Rueda, Ciro e o número 2 do União, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, mas foi adiada algumas vezes em decorrência da resistência de entrega dos cargos e pela proximidade do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), com o governo.
ACM Neto, inclusive, solicitou que reunião da executiva do partido (que já estava prevista para ocorrer na próxima semana) aborde o tema do desembarque da sigla da gestão petista.
Na terça (26), Lula cobrou fidelidade dos ministros do centrão e sugeriu que eles deixassem o governo caso não se sentissem confortáveis para defendê-lo. Na reunião ministerial, o presidente também citou nominalmente Ciro e Rueda.
Ele afirmou que não gosta do presidente do União Brasil e que a recíproca é verdadeira. Sobre Ciro, lembrou que o senador foi ministro de Jair Bolsonaro (PL) e disse que ele enfrenta dificuldades para se reeleger no próximo ano.
De acordo com relatos, os dois dirigentes partidários se queixaram a interlocutores sobre essas declarações. Aliados dos políticos dizem que a fala de Lula gera mal-estar, mas reconhecem que o presidente está certo em cobrar ministros do governo.
Na noite de terça, Rueda reagiu às cobranças e disse que elas mostram a “importância de uma força política que não se submete ao governo”.
“Na democracia, o convívio institucional não se mede por afinidades pessoais, mas pelo respeito às instituições e às responsabilidades de cada um. O que deve nos guiar é a construção de soluções e não demonstrações de desafeto”, escreveu Rueda nas redes sociais.
Com a esquerda minoritária no Congresso, Lula distribuiu 11 ministérios a cinco partidos de centro-direita ou de direita com o objetivo de garantir governabilidade. Apesar de no papel contar com uma folgada maioria de 368 dos 513 deputados, na prática essa base é bem mais instável e aplica sucessivas derrotas ao Palácio do Planalto.
Nas últimas semanas, por exemplo, Lula viu a oposição tomar conta da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do INSS com o apoio de parte do centrão. O grupo ameaça ainda desfigurar a proposta considerada como um dos carros-chefe da candidatura do petista à reeleição, o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda.
O possível desembarque de PP e União tem potencial de ampliar essa instabilidade. O governo veria reduzida sua base oficial para 259 deputados, apenas dois a mais do que a metade, agravando o atual cenário de dificuldades no Congresso.
Nos bastidores, a cobrança de Lula foi vista por integrantes do centrão como sinal de que o petista se sente em condições de concluir o governo mesmo sem maioria no Congresso, apostando na recuperação de popularidade por meio de pautas como a defesa da soberania nacional e a ampliação da isenção no IR.
Um cardeal do centrão afirma que a fala do presidente acelera o processo do desembarque, mas diz que isso não deve ocorrer imediatamente. A possibilidade foi discutida em reuniões ao longo desta quarta (27) entre políticos dos dois partidos.
Deputados do União Brasil devem levantar a discussão em reunião da bancada nesta quarta. Parlamentares dizem que a bancada deve ser consultada antes de qualquer decisão, já que o ministro Celso Sabino (Turismo) é deputado federal licenciado e foi indicado ao cargo pelos colegas.
O deputado Fabio Schiochet (União-SC), um dos mais próximos a Rueda, diz à reportagem que vai pedir para o líder da legenda, Pedro Lucas (União-MA), pautar essa questão no encontro. “O Celso é meu amigo, mas não tem mais como a gente continuar depois de ontem. Ou a gente faz isso ou vai passar a ser desmoralizado”, afirma.
O nome de Sabino foi levado ao governo, em 2023, com uma lista de apoio assinada por 51 dos 59 integrantes do partido, mas a permanência no governo Lula tem adesão mínima na bancada da Câmara, de acordo com os deputados.
Na avaliação de parlamentares do União Brasil, os outros dois ministros ligados à legenda -Waldez Góes (Desenvolvimento Regional) e Frederico de Siqueira Filho (Comunicações)- são indicados por Alcolumbre e, portanto, não deverão deixar os cargos agora, já que o presidente do Senado não indicou disposição de ruptura com o Executivo.
Também afirmam que os cargos de segundo e terceiro escalão não devem ser afetados, já que a maioria dos indicados por eles para esses postos não é filiado ao partido.
Governistas também minimizam as ameaças de desembarque neste momento e dizem ser positivas as manifestações de Lula por indicar a disposição de fazer uma disputa política. Eles afirmam que escutam o discurso de alas dos dois partidos há meses, mas sem indicativos de que as siglas estariam dispostas a entregar seus cargos na gestão federal.
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Fonte. Noticias ao minuto