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6 de dezembro de 2025

Com 673 tipos de árvores nativas, SP tem desafio no manejo – 06/12/2025 – Cotidiano

Com 673 tipos de árvores nativas, SP tem desafio no manejo – 06/12/2025 – Cotidiano

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As cerca de 6.500 árvores existentes em São Paulo são divididas em mais de 673 espécies nativas e outras dezenas de tipos exóticos ainda não catalogados. Tamanha diversidade arbórea, característica da mata atlântica, um dos biomas predominantes da capital paulista, traz benefícios para a cidade ao mesmo tempo em que impõe desafios no manejo e catalogação dos exemplares.

A permanência das árvores na cidade mobilizou recentemente grupos de moradores contrários à derrubada da vegetação no Bosque dos Salesianos, no Alto da Lapa, para a construção de prédios residenciais, e na Vila Mariana, no local das obras do túnel da avenida Sena Madureira.

A variedade é essencial para a saúde da flora local e, em tempos de mudança climática, para reduzir a ocorrências de ilhas de calor na metrópole. “A complicação vem da dificuldade de uniformizar procedimentos operacionais como as épocas de poda que podem ser específicas para cada espécie, por exemplo. Já a diversidade é muito importante para evitar a morte de árvores em grandes quantidades devido ao fato de muitas pragas e doenças serem específicas de um gênero ou espécie”, diz o professor Demóstenes Ferreira da Silva Filho, do Departamento de Ciências Florestais da USP.

A contagem das espécies nativas mais recente data do ano passado e foi realizada pelo Herbário Municipal, mas nem todas compõem a arborização urbana, que inclui os parques e as áreas de mata, de acordo com a bióloga Ana Catalan, da consultoria ambiental Uirá. “Não há uma variação muito grande no espaço urbano. Há muitas espécies exóticas plantadas erroneamente.”

Há também poucos estudos sobre como as diferentes espécies se comportam no ambiente urbano, a relação com a poluição e a rede elétrica durante as tempestades. De acordo com Marcos Buckeridge, professor do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da USP, a tipuana é o tipo de árvore com mais informações nesse sentido.

“Os primeiros projetos de arborização não tinham essa preocupação com os fios”, diz.

Árvore originária da Bolívia e do norte da Argentina, a Tipuana tipu é uma das mais comuns na cidade. Pelos canteiros, calçadas e parques é possível encontrar também diversas espécies exóticas, como jaqueiras, mangueiras e abacateiros, e as nativas, que dão pitanga, uvaia e cambuci, em processo de extinção.

Outro tipo comum introduzido na flora paulistana, as figueiras, entre elas a Ficus elastica, conhecida como falsa seringueira, foram disseminadas como planta ornamental nos lares paulistanos, mas uma vez transferida para calçadas e canteiros, a espécie desenvolve raízes espessas que costumam quebrar calçadas e danificar muros onde crescem.

Diferentemente das nativas, as exóticas e exóticas invasoras não são contabilizadas pela administração municipal e, portanto, não há o mapeamento das espécies impróprias. A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) prevê para daqui a três anos a conclusão do inventário arbóreo iniciado em outubro.

Com investimento de R$ 18,8 milhões, o levantamento foi anunciado pela prefeitura em reposta às quedas recorrentes de árvores durante o período de chuvas. Uma tempestade no início de março provocou a queda de 340 árvores. Um motorista de táxi de 43 anos morreu ao ter o carro atingido pelos galhos na avenida Senador Queiroz, na região da Sé, no centro.

Existe uma lista oficial das espécies permitidas e também legislação que prioriza árvores nativas para o plantio em calçadas e canteiros, mas não há fiscalização, segundo o biólogo e paisagista Ricardo Cardim. “As pessoas plantam mangueiras e abacateiros cultivados a partir de sementes das frutas consumidas como uma forma de matar as saudades da roça, mas [essas árvores] dão frutos pesados que podem causar acidentes.”

Ele explica que arborização urbana é um assunto técnico-científico e não pode ser exercida de maneira aleatória pela população. “Existe uma falta de educação ambiental, embora esses plantios sejam feitos por cidadãos que gostam do verde.”

A presença de árvores impróprias para o ambiente urbano está entre os fatores de ocorrências de quedas durante tempestades, além do manejo insuficiente e da prevalência de fios de energia em postes em vez de aterrados, segundo Cardim.

“Árvores grandes servem para regular a temperatura da cidade e diminuir os eventos climáticos extremos por reduzir a ocorrência de ilhas de calor”, diz. “As árvores caem por falta de manutenção periódica. Não há fiscalização do plantio de espécies equivocadas”, continua.

Questionada a estratégia para adaptar o manejo das diferentes espécies, a prefeitura não respondeu. Em nota, afirmou que as intervenções passam pela avaliação de um engenheiro-agrônomo e seguem normas técnicas que determinam o tipo de procedimento adequado.

Há 162 equipes especializadas em atuação na cidade, segundo a administração. “Os serviços de poda na cidade respeitam um intervalo mínimo de três meses entre uma intervenção e outra”, diz trecho de nota.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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