O PL, maior partido de oposição na Câmara dos Deputados, decidiu se converter em nanico moral ao articular uma manobra infame destinada a salvar o mandato de Eduardo Bolsonaro, conspurcado pelo número excessivo de faltas registradas pelo congressista.
Deputado federal eleito pelo PL de São Paulo, Eduardo está desde o dia 20 de março nos Estados Unidos, onde vive com o dinheiro do contribuinte. Seu sonho americano em nada se liga à missão parlamentar; ao contrário, o filho 03 de Jair Bolsonaro (PL) se dedica tão-somente a arquitetar maneiras de prejudicar o Brasil.
Lá estava ele quando Donald Trump, presidente dos EUA, decretou taxação de 50% sobre parte das exportações brasileiras. Lá estava ele quando se mobilizaram sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e outras autoridades nacionais.
E, por inacreditável que possa parecer, lá estava ele quando a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, aventou a possibilidade de os EUA utilizarem seu poderio militar contra o Brasil.
Todos esses episódios suscitam consternação em pessoas de boa índole, mas não em Eduardo. O parlamentar, claramente um inimigo de seu país, celebrou cada um desses gestos como uma vitória pessoal, demonstrando sua falta de escrúpulos.
E para que tudo isso? Na vã tentativa de livrar o pai da cadeia. Para uma cabeça autoritária como a de Eduardo, não existem leis nem instituições; há apenas ameaça e chantagem, linguagens com as quais ele pretendia —e pretende— forçar o Supremo a ignorar os atos golpistas.
Pouco importa que a truculência tenha sido ineficaz, haja vista a condenação de Bolsonaro a 27 anos de prisão. As ações de Eduardo não podem ser esquecidas —muito menos pela Câmara, em cujo nome ele ainda atua, embora tenha computado mais faltas do que seria admissível.
Suas ausências reiteradas desde março ensejariam a perda do mandato —e é justamente para evitar esse desfecho que o PL, em uma jogada prenhe de hipocrisia, resolveu indicar Eduardo para o cargo de líder da minoria.
Segundo um entendimento de 2015, consta que, ocupando esse posto, o deputado estaria dispensado de marcar presença nas sessões. Trata-se, por óbvio, de um escárnio. Eduardo seria, assumidamente, um líder laranja, já que a verdadeira função caberia a Caroline de Toni (PL-SC).
É inaceitável que esse acinte siga adiante. Os demais deputados, e sobretudo o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), não podem lavar as mãos e cruzar os braços. É necessário que tomem as devidas providências, sob pena de serem ainda mais desmoralizados.
Quanto a Eduardo e seus correligionários, estes parecem imunes a argumentos lógicos e democráticos. Talvez cientes de que não há mais volta do caminho que escolheram, parecem aceitar de bom grado a transformação do PL no “partido lesa-pátria”.
Fonte.:Folha de S.Paulo