“Ainda bem que você chegou cedo. Daqui a uma hora, isso aqui estará cheio”, afirma a comerciante Mariete Fernandes.
Enquanto tudo está calmo de manhã, ela ajeita os pacotes e os deixa organizados no pequeno espaço da sua papelaria, a Print Copy, localizado em uma galeria no bairro de Pinheiros, zona oeste da capital.
São produtos comprados por clientes da Shopee. Ela é uma agência autorizada pelo marketplace que, no ano passado, vendeu cerca de R$ 40 bilhões no Brasil. Mariete faz parte de uma novo mercado em ascensão para pequenos comércios: obter renda extra como ponto de coleta e devolução de produto comprados nessas plataformas.
“Dependendo do mês, pode aumentar em 30% ou 35% os rendimentos da papelaria”, estima a empresária. “Minha irmã está preparando a documentação porque também vai alugar um imóvel para ser agência.”
Samira Carvalho entende a visão de Mariete e da irmã. Ela quer ir pelo mesmo caminho.
“Isso está em todos os lugares e acho que dá certo. Estou preparando tudo para ser agência do Mercado Livre“, diz ela, que tem uma loja de embalagens no Jardim Japão, zona norte de São Paulo.
Em evento no mês passado, a multinacional argentina divulgou que 5,8 milhões de pequenas e médias empresas fazem parte do sistema da companhia no Brasil. Mas a estatística engloba também as companhias que usam o sistema do meio de pagamento Mercado Pago.
O Mercado Livre compilou dados e afirma que esses estabelecimentos movimentaram R$ 381 bilhões, o equivalente a 3,2 do PIB (Produto Interno Bruto) do país no ano passado.
O volume bruto de vendas chegou a R$ 138,9 bilhões, segundo números do instituto Retail Think Tank. É o marketplace líder no país.
As informações estão no relatório “O Melhor do Brasil”, elaborado pelo próprio Mercado Livre e apresentado no mês passado. O documento estima que as pequenas e médias empresas que estão em seu ecossistema geraram cerca de 111 mil empregos em 2024.
São 4.807 pontos de coleta, chamados pelo Mercado Livre de “Meli Places”, sendo que 59% deles têm no marketplace a sua principal fonte de renda.
“Mais do que números, os dados refletem histórias reais de transformação vividas por milhões de brasileiros que empreendem e crescem junto com a plataforma”, diz Fernando Yunes, vice-presidente sênior e líder do Mercado Livre no Brasil.
A Shopee tem cerca de 3.000 agências e o sistema começou em 2023, apenas como pontos de postagem. Em julho de 2024, passou a receber devoluções de produtos, Em maio deste ano, teve início a retirada de pedidos.
“Além dos benefícios financeiros diretos, oferecer os serviços também contribui para aumentar o fluxo de pessoas no local, o que gera mais visibilidade para o negócio e pode impulsionar as vendas de outros produtos”, diz a Shopee, por meio de nota.
“É um sistema muito prático e rápido. A pessoa chega, recolhe o produto e vai embora. Se vem devolver, entrega, a gente registra no sistema e acabou”, diz a dona da Print Copy.
Maior marketplace do planeta, a Amazon afirma que seus pontos de retirada, lançados em abril deste ano, na esteira do sucesso das concorrentes, representam um pilar fundamental na logística para clientes e vendedores.
Em valor bruto de mercadorias, a companhia fundada pelo norte-americano Jeff Bezos vendeu US$ 800 bilhões no ano passado (R$ 4,2 trilhões). No Brasil, foram R$ 39 bilhões.
Hoje em dia são 532 pontos em todos os estados do país, mas o plano é chegar a 3.000 até o final de 2025. Mas ela ressalta a existência de 100 mil vendedores parceiros, dos quais 99% são pequenas e médias empresas. Mas os pontos funcionam para enviar a receber produtos, não para devoluções.
O que atrai comércios a serem agentes de marketplaces é a facilidade. Basta receber os produtos, depois entregá-los e dar baixa no sistema. Não há sequer o processo de pagamento.
Na Shopee, por exemplo, é preciso ter CNPJ com CNAE (Cadastro Nacional de Atividades Econômicas) de armazenamento; inscrição estadual e municipal; um espaço para receber e armazenar pacotes; computador com leitor de código de barras ou smartphone que possa escanear os pacotes e uma impressora.
Após preencher os dados no site da empresa, o empresário recebe confirmação, se aprovado, com data para passar por sessão de treinamento.
Fonte.:Folha de S.Paulo