Imagine como dói comprar um vinho com a expectativa lá em cima e ter um retorno bem pífio na taça. O jeito de evitar esse tipo de frustração, que pode acumular-se diante da diversidade de opções na prateleira, é ter recomendações claras e confiáveis. Isso explica tantos críticos, tantos influencers e tantos guias de vinho no mercado.
No último grupo, há alguns guias históricos, como os de bolso de Hugh Johnson, o site para assinantes de Jancis Robinson, ou mesmo o Wine Advocate, publicação bimensal fundada por Robert Parker e comprada pelo guia Michelin em 2019. Isso sem falar nas publicações de James Suckling e Tim Atkins, que orientam muita gente.
A novidade internacional mais quente é a entrada do grupo Michelin com sua marca nessa área. Assim como os restaurantes no guia de comida , são os melhores produtores de uma região que serão recomendados. Em vez de estrelas, eles ganharão de 1 a 3 uvas, a depender do nível de excelência (uma para os excelentes nas melhores safras, três para os excepcionais não importa o ano).
Parece tudo muito bom, mas algo me causou calafrios: a entrevista ao Times do presidente dos guias, Florent Menegaux, que afirmou que a classificação de vinhos seria “mais influente do que a de Parker” pois “a marca é muito mais poderosa”. É bom lembrar que o crítico norte-americano mudou o jeito de se fazer vinho no mundo, com produtores adaptando suas bebidas em busca de notas altas. O que vai acontecer com o mundo dos vinhos se o Michelin chegar a esse ponto de influência?
Vale dizer ainda que, no mundo dos restaurantes, desde que começou a fazer parcerias com governos (que bancam edições em seu território), a imparcialidade do Michelin passou a ser questionada.
No Brasil, temos sido presenteados com bons guias. Um deles é o Guia de Vinhos, um empreendimento de quatro especialistas radicados em São Paulo que chega à terceira edição com 500 rótulos de 14 países e de até R$ 300. O grande diferencial é que todos os vinhos indicados estão à venda aqui.
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Participei de um dos encontros dos degustadores (Suzana Barelli, Marcel Miwa, Beto Gerosa e Ricardo Cesar), com planilhas, garrafas encobertas (provas às cegas) e muita concentração e entendi que a coisa é séria, o que não significa que não haja espaço para o humor. Dentre as informações, os autores sempre sugerem harmonizações. Quando o vinho era pesado demais, recomendou-se uma morcilla. Ao que um deles lamentou: “Coitada da morcilla!”
Para o amigo mais nerd, a dica é “The Wines of Brazil”, de Tufi Neder Meyer, que explica a história do vinho no país, sua geografia, clima, viticultura e leis, até chegar às regiões, das quais destaca os produtores-chave, em mais de 160 perfis. Mais do que indicar rótulos, ajuda na educação do enófilo para que ele, em breve, nem de guia precise mais. Publicado em inglês pela Academie du Vin Library.
Vai uma taça?
Do Guia de Vinhos, na faixa mais em conta, chamaram a minha atenção: o argentino Trivento Reserve Malbec 2024 (R$ 89 no Pão de Açúcar), primeiro lugar no ranking de até R$ 100, e o francês Ted the Mule Tinto (R$ 70 na Boccati), do Rhône, que é terroso e vai bem com comida de bistrô; o brasileiro Miolo Single Vineyard Alvarinho 2023 (R$ 87 na vinícola) e o maravilhoso Pedra Cancela Selecção do Enólogo Branco 2023 (R$ 75 no Altruísta), mineralíssimo, do Dão. E, para fechar a conta, o Fausto Brut Branco Tradicional (R$ 79 no Mambo), que é fino e amanteigado, com notas de pera e mel.
Mais uma ideia de presente
Agora, se você está se sentindo megageneroso ou quer se mimar, a dica é uma assinatura do Clube Vivente, que tem vagas limitadas e envia uma caixa por estação (verão, outono, inverno e primavera) com três vinhos cada. Inscrições no site vivente.bio/products/clube-vivente-1.
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Fonte.:Folha de São Paulo


