Neste 4 de julho, enquanto os Estados Unidos celebram a independência, celebramos também uma outra emancipação — a de uma uva francesa que encontrou liberdade, identidade e fama em solo americano. Delicada, temperamental e sensível ao ambiente, a pinot noir é uma das uvas mais difíceis de cultivar — e justamente por isso, uma das mais sedutoras do mundo do vinho.
Durante décadas, foi reverenciada quase exclusivamente na Borgonha, seu berço clássico. Mas foi no Novo Mundo, e especificamente nos Estados Unidos, que essa uva viveu uma inesperada revolução. E tudo começou com uma taça… no cinema. Em 2004, o filme Sideways – Entre Umas e Outras estreou nas salas americanas.
A produção independente, centrada em dois amigos viajando pelas vinícolas da Califórnia, acabou provocando uma chacoalhada no mercado. O protagonista, apaixonado por pinot noir e explicitamente avesso a merlot, cativou o público.
O chamado “efeito Sideways” foi imediato: as vendas dos vinhos dessa uva dispararam, enquanto os merlots mergulharam em uma crise de imagem. Hollywood, sem querer, havia empurrado a casta da Borgonha para o centro das atenções.
Mas o terreno já vinha sendo preparado por viticultores audaciosos, sobretudo na Costa Oeste americana. Na Califórnia, regiões como Russian River Valley, Santa Lucia Highlands, Santa Rita Hills e Sonoma Coast oferecem brisas frescas do Pacífico, que moderam o calor e prolongam o amadurecimento da uva. Nessas zonas, a pinot noir expressa frutas vermelhas vivas, acidez firme e toques florais ou terrosos — variando de elegância a exuberância, dependendo do estilo do produtor.
Mais ao norte, no Oregon, o Vale do Willamette se tornou o grande bastião da uva. Com clima mais frio e solos vulcânicos, os vinhos ali se aproximam, em estrutura e sutileza, dos grandes exemplares borgonheses. O estilo é mais contido: menos álcool, mais acidez, mais tempo para evoluir.
Outras regiões menores também vêm se aventurando com sucesso: Finger Lakes, no estado de Nova York, oferece bons exemplares em climas frescos, partes de Washington, da Virgínia e até do Texas testam os limites da adaptabilidade da uva.
Hoje, a pinot noir norte-americana já não é sombra de ninguém. Ganhou autonomia, diversidade e prestígio. Há produtores buscando elegância borgonhesa, outros assumindo a potência solar californiana. Há vinhos de autor, vinhos de terroir e vinhos que abraçam a modernidade tecnológica.
A pinot noir encontrou, nos Estados Unidos, não apenas novos solos, mas um novo público — e uma nova narrativa. O que começou como uma fala apaixonada de um personagem de ficção se transformou em um movimento real. E poucos vinhos têm uma história tão cinematográfica quanto essa.
Afinal, quantas uvas você conhece que mudaram de rumo por causa de um roteiro de Hollywood?

Crossbarn Pinot Noir Sonoma Coast 2019
Do grande enólogo Paul Hobbs. Fermenta com leveduras nativas e 10% dos cachos inteiros, para preservar a fruta. Amadurece nove meses com lias em carvalho francês usado. Cor rubi, com aromas de morango, framboesa e especiarias doces, florais. Paladar de médio corpo, com taninos finos e macios e ótima acidez, com toque salino no fim de boca. Elegante e equilibrado. R$ 934,90, na Grand Cru.
Gallo Signature Series Santa Lucia Highlands Pinot Noir 2017
Da vinícola americana E. & J. Gallo Winery, assinado pela enóloga chefe da empresa, Gina Gallo. 100% pinot noir de vinhedos de altitude, apresentando fruta e frescor, com médio corpo, acidez moderada e taninos doces. R$ 546,94, na Wine.
Private Selection Pinot Noir
Do produtor clássico californiano Robert Mondavi. 100% pinot noir com uvas da costa central da Califórnia, com passagem de dez meses por barricas francesas. Rubi, com aromas de morango, flores, defumados. Paladar macio, com 13,5% de álcool, equilibrado, elegante e fácil de beber. R$ 207,60, na Amazon.
Publicado em VEJA São Paulo de 4 de julho de 2025, edição nº 2951.
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Fonte.: Veja SP Abril