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5 de julho de 2025

Como Hollywood transformou a pinot noir em uva queridinha nos EUA

Como Hollywood transformou a pinot noir em uva queridinha nos EUA

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Neste 4 de julho, enquanto os Estados Unidos celebram a independência, celebramos também uma outra emancipação — a de uma uva francesa que encontrou liberdade, identidade e fama em solo americano. Delicada, temperamental e sensível ao ambiente, a pinot noir é uma das uvas mais difíceis de cultivar — e justamente por isso, uma das mais sedutoras do mundo do vinho.

Durante décadas, foi reverenciada quase exclusivamente na Borgonha, seu berço clássico. Mas foi no Novo Mundo, e especificamente nos Estados Unidos, que essa uva viveu uma inesperada revolução. E tudo começou com uma taça… no cinema. Em 2004, o filme Sideways – Entre Umas e Outras estreou nas salas americanas.

A produção independente, centrada em dois amigos viajando pelas vinícolas da Califórnia, acabou provocando uma chacoalhada no mercado. O protagonista, apaixonado por pinot noir e explicitamente avesso a merlot, cativou o público.

O chamado “efeito Sideways” foi imediato: as vendas dos vinhos dessa uva dispararam, enquanto os merlots mergulharam em uma crise de imagem. Hollywood, sem querer, havia empurrado a casta da Borgonha para o centro das atenções.

Mas o terreno já vinha sendo preparado por viticultores audaciosos, sobretudo na Costa Oeste americana. Na Califórnia, regiões como Russian River Valley, Santa Lucia Highlands, Santa Rita Hills e Sonoma Coast oferecem brisas frescas do Pacífico, que moderam o calor e prolongam o amadurecimento da uva. Nessas zonas, a pinot noir expressa frutas vermelhas vivas, acidez firme e toques florais ou terrosos — variando de elegância a exuberância, dependendo do estilo do produtor.

Mais ao norte, no Oregon, o Vale do Willamette se tornou o grande bastião da uva. Com clima mais frio e solos vulcânicos, os vinhos ali se aproximam, em estrutura e sutileza, dos grandes exemplares borgonheses. O estilo é mais contido: menos álcool, mais acidez, mais tempo para evoluir.

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Outras regiões menores também vêm se aventurando com sucesso: Finger Lakes, no estado de Nova York, oferece bons exemplares em climas frescos, partes de Washington, da Virgínia e até do Texas testam os limites da adaptabilidade da uva.

Hoje, a pinot noir norte-americana já não é sombra de ninguém. Ganhou autonomia, diversidade e prestígio. Há produtores buscando elegância borgonhesa, outros assumindo a potência solar californiana. Há vinhos de autor, vinhos de terroir e vinhos que abraçam a modernidade tecnológica.

A pinot noir encontrou, nos Estados Unidos, não apenas novos solos, mas um novo público — e uma nova narrativa. O que começou como uma fala apaixonada de um personagem de ficção se transformou em um movimento real. E poucos vinhos têm uma história tão cinematográfica quanto essa.

Afinal, quantas uvas você conhece que mudaram de rumo por causa de um roteiro de Hollywood?

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Três garrafas com fundo branco
Sugestão de rótulos (Reprodução/Divulgação)

Crossbarn Pinot Noir Sonoma Coast 2019
Do grande enólogo Paul Hobbs. Fermenta com leveduras nativas e 10% dos cachos inteiros, para preservar a fruta. Amadurece nove meses com lias em carvalho francês usado. Cor rubi, com aromas de morango, framboesa e especiarias doces, florais. Paladar de médio corpo, com taninos finos e macios e ótima acidez, com toque salino no fim de boca. Elegante e equilibrado. R$ 934,90, na Grand Cru.

Gallo Signature Series Santa Lucia Highlands Pinot Noir 2017
Da vinícola americana E. & J. Gallo Winery, assinado pela enóloga chefe da empresa, Gina Gallo. 100% pinot noir de vinhedos de altitude, apresentando fruta e frescor, com médio corpo, acidez moderada e taninos doces. R$ 546,94, na Wine.

Private Selection Pinot Noir
Do produtor clássico californiano Robert Mondavi. 100% pinot noir com uvas da costa central da Califórnia, com passagem de dez meses por barricas francesas. Rubi, com aromas de morango, flores, defumados. Paladar macio, com 13,5% de álcool, equilibrado, elegante e fácil de beber. R$ 207,60, na Amazon.

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Publicado em VEJA São Paulo de 4 de julho de 2025, edição nº 2951.

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Fonte.: Veja SP Abril

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