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18 de setembro de 2025

Conheça a Dama do Reggae que abriu caminhos para Iza – 17/09/2025 – Sons da Perifa

Conheça a Dama do Reggae que abriu caminhos para Iza – 17/09/2025 – Sons da Perifa

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De azul, com joias douradas que reluziam sob as luzes e uma presença que prendia os olhares, Célia Sampaio entrou no palco do festival The Town no último domingo (14) conduzindo um ritual de defumação.

O gesto soou como uma bênção à nova fase da popstar carioca Iza, que escolheu o reggae como norte. Naquele instante, não era apenas a cantora quem se apresentava: era também a própria história do reggae brasileiro que se revelava diante da plateia.

A reação foi imediata. Parte do público não sabia quem era aquela senhora imponente, mas bastou a notícia circular —era a Dama do Reggae, apresentada como a primeira mulher a lançar um álbum do gênero no Brasil. A cena ganhou as redes e virou assunto do dia. Mais que uma participação, Sampaio transformou presença em acontecimento, lembrando que música também é rito, memória e linhagem.

Nascida em março de 1964, no bairro da Liberdade, em São Luís do Maranhão, Sampaio carrega a marca do território —quilombo urbano, espaço de resistência e berço do reggae brasileiro. Antes de subir aos palcos, formou-se em enfermagem e produzia roupas com inspiração africana. Em 1984, sua voz ganhou corpo no Bloco Afro Akomabu —primeiro bloco afro do Carnaval maranhense— cantando músicas de Ilê Aiyê e Filhos de Gandhy, marco que a conectou de vez à cultura afro-maranhense.

Dali em diante, abriu portas em um ambiente dominado por homens. Foi a única mulher da banda Guethos, primeira de reggae a se apresentar no Teatro Arthur Azevedo, palco histórico de São Luís. Atuou também na Companhia Barrica, ao lado da também cantora maranhense Rita Ribeiro, e levou sua música a palcos do Pará até da Alemanha. Como backing vocal, esteve com nomes internacionais do reggae, caso de Eric Donaldson e Judy Boucher —pontes diretas com a música jamaicana.

Em 1999, iniciou a carreira solo e, no ano seguinte, lançou “Diferente”, álbum que lhe rendeu o Prêmio Universidade FM e cristalizou o pioneirismo feminino no reggae nacional. O disco reúne composições de Zé Lopes, Paulinho Akomabu, Alê Muniz e Mano Borges, uma cartografia afetiva do reggae maranhense em estúdio.

Nos anos seguintes, a voz de Sampaio atravessou coletivos e causas, em participações em discos de rappers e em gravações para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Em 2009, integrou o SOS Maranhão, convocado por Alcione em solidariedade às vítimas das enchentes. Em 2011, foi homenageada no Troféu Black Power. Já em 2012, virou enredo da Unidos de Ribamar, no carnaval de São Luís, e venceu a Mostra de Música do Akomabu com “Negro Axé”.

O título de Dama do Reggae se sustenta em palco e história. Sucessos como “Black Power” e “Ayabá Rainha” deixaram de ser apenas canções para virar afirmação de identidade, território e fé. Em São Luís —a “Jamaica brasileira” das radiolas, salões e colecionadores de vinil— a cultura do reggae moldou público e artistas, e Sampaio foi um dos rostos dessa transformação que vem desde os anos 1970 e ganhou corpo com o Akomabu a partir de 1984.

No The Town, sua presença foi a coroação de uma linhagem —e dialogou com outras vozes femininas que hoje ocupam o reggae no Brasil, de Tati Portella e Marina Peralta a Laylah Arruda, pioneira no sound system. Aos 61, enquanto divulga o EP “Eparrey”, lançado este ano, Sampaio reafirma —o reggae brasileiro tem uma dama— e uma geração de mulheres que continuam seu rastro.


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Fonte.:Folha de S.Paulo

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