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3 de setembro de 2025

Corpo, mente e movimento: uma “nova” filosofia para combater o câncer

Corpo, mente e movimento: uma “nova” filosofia para combater o câncer

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Desde sempre, buscamos entender o que é viver bem. Hoje, a ciência moderna redescobre algo que os antigos já intuíram: nossas escolhas diárias – como nos alimentamos e nos movemos – moldam profundamente nossa saúde, nossa mente e nosso destino. Como médica e pessoa, também vivo cotidianamente o dilema das minhas próprias escolhas.

O câncer, essa doença que carrega o peso simbólico da ameaça silenciosa, nos obriga a pensar. Ele nos lembra da finitude, da fragilidade — mas também da potência que temos enquanto agentes do nosso caminho.

E, quando aliamos a nossa potência individual aos conhecimentos trazidos pela ciência, somos mais capazes de fazermos escolhas conscientes. Na trilha da ciência, estudos recentes mostram que hábitos de vida saudáveis têm impacto não só na prevenção, mas também no tratamento e na sobrevida do câncer.

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O poder da comida

Alimentar-se não é apenas um gesto automático. É um ato existencial. É decidir o que entra no templo do corpo. Os antigos sabiam disso. Hipócrates, o pai da medicina, já dizia: “Que teu alimento seja teu remédio.”

Hoje, evidências científicas mostram que padrões alimentares ricos em fibras, vegetais e alimentos minimamente processados estão associados à redução do risco de diversos tipos de câncer.

Uma revisão recente de uma revista científica de impacto mostrou como intervenções dietéticas em pacientes oncológicos melhoram biomarcadores metabólicos e inflamatórios, reforçando que comer bem é também um ato de resistência.

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A vida é movimento

O movimento é a expressão visível da vida. Quando nos movimentamos, afirmamos nossa presença no mundo. Exercitar-se, mesmo que em pequenas doses diárias, é um gesto de enfrentamento contra a paralisia do cotidiano — um mal que, como o câncer, prospera na inércia.

Eu costumo dizer aos meus pacientes que não está em pauta o desejo de não exercitar-se, pois não é uma questão puramente estética, mas sim de funcionalidade, autonomia no curso da vida e de saúde, fundamentalmente. E isso tudo é inegociável.

Ainda como base científica, estudos importantes mostram que o exercício físico regular reduz a fadiga, melhora a imunidade e modula o microambiente tumoral — criando o que os pesquisadores chamam de “ambiente supressor do câncer”. Até mesmo sessões únicas de exercício físico demonstraram efeitos benéficos no controle hormonal e inflamatório.

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Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente de Auschwitz, dizia que entre o estímulo e a resposta, existe um espaço – e nesse espaço reside o poder de escolher.

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Essa ideia encontra eco em estudos contemporâneos: como por exemplo, um artigo recente da revista Medicina (2025) que revela que mudanças de estilo de vida após o diagnóstico de câncer — como melhorar a dieta, se exercitar e abandonar o tabagismo — estão ligadas a melhor sobrevida em vários tipos de câncer.

Cuidar do corpo, alimentar-se com intenção, sair para caminhar, repousar com qualidade – tudo isso são expressões da liberdade de ser e da decisão consciente de habitar o próprio corpo com dignidade.

Em vez de cura, consciência

Falar de dieta e exercício no contexto do câncer não é buscar fórmulas mágicas, nem negar a complexidade da doença. É, antes de tudo, um convite à consciência. Um chamado à responsabilidade amorosa consigo mesmo.

O Relatório do Fundo Mundial para Pesquisa em Câncer, com base em mais de 7.000 estudos revisados, sintetiza isso em dez recomendações práticas — entre elas, manter o peso saudável, limitar álcool e carne vermelha, e mover-se diariamente. Cada uma delas é um ato concreto de cuidado e lucidez.

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Talvez viver bem seja justamente isso: reconhecer que o corpo é a casa da alma — e que cuidar dele, com comida, movimento e afeto, é um dos mais belos gestos de amor-próprio. A filosofia, a medicina e a ciência parecem caminhar, enfim, de mãos dadas.

*Cristiane Mesquita é oncologista clínica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e pós-graduada em Nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) 

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Fonte.:Saúde Abril

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