O Tesouro Nacional vetou, na noite de terça-feira (2), a garantia ao empréstimo de R$ 20 bilhões que os Correios pretendiam tomar com bancos. Trata-se de mais um fator que aprofunda a crise da estatal, que desde 2022 passou a acumular prejuízos crescentes.
O cenário nem sempre foi negativo para a companhia. Entre 2017 e 2021, a empresa viu suas receitas expandirem devido ao crescimento acelerado do comércio eletrônico. O lucro corrente chegou ao recorde de R$ 3,7 bilhões em 2021, mais que o dobro do que havia sido registrado no ano anterior.
Nos anos seguintes, um conjunto de fatores deteriorou o caixa, entre eles a taxa das blusinhas, o descontrole sobre ações judiciais e a alta competição do setor, com o crescimento de outras empresas de logística.
1. Qual é o tamanho do prejuízo da estatal?
Os Correios vêm acumulando prejuízo nos últimos anos, depois de um período de caixa azul entre 2017 e 2021. A empresa fechou 2022 com um resultado negativo de R$ 809 milhões e, no ano seguinte, registrou prejuízo de R$ 596,6 milhões. Já em 2024 o rombo saltou para R$ 2,14 bilhões.
Neste ano, os Correios acumulam prejuízo de R$ 6,1 bilhões até setembro, segundo as demonstrações financeiras aprovadas no fim de novembro pelo conselho de administração da companhia.
Folha Mercado
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2. Por que os Correios estão em crise?
De acordo com a estatal, o resultado negativo é explicado pela queda nas receitas e pelo aumento nas despesas operacionais, além de aumento no volume de ações judiciais, incluindo as trabalhistas, e alta concorrência com novas transportadoras.
A “taxa das blusinhas”, cobrança de impostos sobre encomendas internacionais de até US$ 50, implementada no ano passado, também contribuiu para a diminuição das receitas dos Correios, bem como o plano de saúde dos funcionários, do qual a companhia é mantenedora e responsável por todos os eventuais débitos, segundo a empresa.
3. O que a empresa vem negociando?
Para o empréstimo de R$ 20 bilhões, os Correios tentaram fatiar a contratação em mais de uma operação, para atrair mais instituições financeiras e reduzir os custos de financiamento. Durante as negociações, as condições do crédito melhoraram, sem as exigências mais duras anteriores de lucro mínimo e recebíveis futuros da empresa como garantia adicional.
A estatal também busca uma compensação por seu serviço postal universal. A universalização é o que garante a presença dos Correios em todo o território nacional, inclusive em locais remotos, onde a prestação do serviço não é rentável —o que afasta a atuação de empresas privadas concorrentes.
Há ainda a tentativa de reestruturar o plano de saúde dos funcionários, que conta com quase 203 mil beneficiários —25% deles com 59 anos ou mais. As mudanças devem prever um valor mínimo para recuperar a liquidez do plano e também propostas para reduzir a despesa no futuro.
4. O que o governo tentou fazer para ajudar?
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) buscou permitir a concessão da garantia da União ao empréstimo de R$ 20 bilhões para socorrer os Correios, rejeitado pelo Tesouro Nacional. O plano era contar com a participação do Banco do Brasil e quatro instituições privadas.
Além disso, o governo pretende afrouxar a meta fiscal das estatais no ano que vem para acomodar as despesas relacionadas ao plano de reestruturação da estatal. Sem a medida, o Executivo teria risco de precisar segurar outras despesas no Orçamento para compensar o estouro.
Neste ano, a equipe econômica já precisou segurar R$ 3 bilhões em gastos por conta do déficit maior das estatais, especialmente por causa da situação dos Correios.
5. Quem comanda a empresa?
Os Correios são atualmente administrados por Emmanoel Schmidt Rondon, ex-funcionário do Banco do Brasil nomeado pelo governo federal em setembro e aprovado pelo Comitê de Pessoas, Elegibilidade, Sucessão e Remuneração. Rondon sucedeu Fabiano Silva dos Santos, que entregou sua carta de demissão no dia 4 de julho.
O presidente da estatal é responsável por supervisionar equipes e tomar decisões, e já reconheceu a situação delicada da empresa durante sua cerimônia de posse. Rondon é formado em economia na UFF (Universidade Federal Fluminense) e possui MBA Executivo pelo Ibmec.
Fonte.:Folha de S.Paulo


