12:54 PM
21 de agosto de 2025

CPI do INSS seguirá trilha do dinheiro para descobrir apoios políticos, diz relator

CPI do INSS seguirá trilha do dinheiro para descobrir apoios políticos, diz relator

PUBLICIDADE



(FOLHAPRESS) – Relator da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), que investigará desvios em aposentadorias e pensões, o deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL) afirma que seguirá a trilha do dinheiro para chegar as associações e, principalmente, aos políticos envolvidos.

“Esse pessoal não ia conseguir desviar recursos sem apoio político”, disse, em entrevista exclusiva à Folha nesta quarta-feira (20), horas depois de assumir a função.

O parlamentar foi escolhido para a relatoria numa articulação surpresa, que derrotou os indicados pelos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Ele atuará junto com o senador Carlos Viana (Pode-MG), também de oposição, que presidirá os trabalhos.

Apesar do perfil oposicionista, Gaspar afirma que fará uma atuação imparcial, “sem carimbar governo A, B ou C”, e que buscará inclusive a participação de parlamentares nos desvios. “Evidentemente que isso vai contrariar interesses. Agora, de quem? Eu não sei responder”, declara.

Gaspar tinha sugerido a oitiva de um dos irmãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) antes de ser escolhido relator, mas agora diz que ouvirá o colegiado para saber quem será ouvido com prioridade.

Mas defende que o irmão do petista, que é vice-presidente de uma das associações suspeitas, seja um dos que prestarão depoimento. “Não sei se ele tem algum tipo de gerência executiva, mas ninguém melhor do que ele para esclarecer”, afirma.

Leia a seguir a entrevista do deputado para a Folha de S.Paulo

PERGUNTA – Qual será a linha de investigação da CPI?
ALFREDO GASPAR – Nada melhor em desvio de recurso do que seguir a trajetória do dinheiro. Para onde esse dinheiro foi? Na mão de quem, no bolso de quem? Para benefício de quem? Eu acho que é a maneira mais fácil de errar menos e saber qual foi o suporte político que permitiu que mais um escândalo dessa natureza ocorresse.

Já tem muita coisa de bastidor e publicizada apontando nomes que necessitam de oitiva, ou para afastar a suspeita ou para aprofundar. Como é um trabalho em colegiado, o próprio colegiado deve colaborar muito, independente da posição partidária e indicar caminhos a serem também seguidos. E eu terei essa sensibilidade de não atrapalhar em forma alguma qualquer caminho que seja factível.

P. – A Polícia Federal e a CGU já investigaram e denunciaram parte dos envolvidos. No que a CPMI pode avançar?
AF – Essas entidades e seus dirigentes não têm como ficar fora [da investigação]. É um caminho a ser seguido. O outro caminho é a parte política. Esse pessoal não ia conseguir desviar recursos sem apoio político. Pouco importa a cor do partido. A gente não pode escolher a quem investigar. Quem tiver participação vai ter que ser exposto. Temos que ver se tem participação de parlamentar. Evidentemente que isso vai contrariar interesses. Agora, de quem eu não sei responder.

P. – Os petistas dizem que a CPMI cairá em descrédito se investigar apenas o atual governo, já que o senhor é de direita. O senhor vai investigar também o governo Bolsonaro?
AF – Tudo que a gente não precisa é partidizar uma investigação. A investigação para ter credibilidade, ela tem que estar baseada na verdade. Quem é que vai ser alcançado com isso? Não tenho como apontar hoje porque não tenho esse conhecimento. Mas a investigação com quebra de sigilo de dados, com material já produzido por outras instituições, tudo isso somado com certeza irá dar caminhos para o aprofundamento.

P. – Mas vai investigar também os governos Bolsonaro e Temer?
AF – Onde apontar o desvio de recurso [vamos investigar]. É fácil você fazer uma investigação quando ela é pautada em desvio de recursos, que não tem como fugir da trajetória, está certo? Não estou aqui para carimbar governo A, B ou C. Agora, também não espere de mim passar a mão na cabeça de ninguém. Quem tiver responsabilidade que as assuma. Nem quero fazer juízo antecipado, mas também não vou fazer cortesia com chapéu alheio para ninguém.

P. – O governo já está ressarcindo os aposentados. Vocês vão ouvi-los também?
AF – Vamos começar a discutir agora [quem vamos ouvir]. Não queria antecipar o que ainda não foi discutido, certo? Mas o ressarcimento é algo absolutamente obrigatório. Agora, se é para ressarcir em dobro, tudo isso vai ser objeto durante o trajeto da investigação, de sugestões ou propostas legislativas.

P. – O governo não queria a escolha do senhor como relator. Teme que possam travar as investigações na comissão por causa disso?
AF – Eu acho que o governo sempre tem força. Mas não sei se tem a força para obstaculizar as investigações porque quem tomar essa medida vai ficar com a aura de suspeição muito, muito forte. Acho que até para o próprio governo, o melhor dos mundos é que os fatos sejam esclarecidos. E os fatos sendo esclarecidos, a gente vai ver essa cadeia de comando.

P. – A oposição fala bastante em convocar um dos irmãos do Lula, José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, que é vice-presidente de uma das entidades suspeitas. O senhor vai convocá-lo?
AF – Antes de ser indicado o relator, eu tinha sugerido a indicação de oitiva de várias pessoas, entre elas, esse senhor. Não sei se ele tem algum tipo de gerência executiva, mas ninguém melhor do que ele para esclarecer.

P. – Quem mais o senhor pediu para prestar depoimento?
AF – Antes de ser indicado o relator, eu tinha indicado de sete a dez pessoas. Me recordo que um deles era o ex-ministro da Previdência, o [Carlos] Lupi, e o [lobista] conhecido como careca do INSS. Mas evidentemente que, como relator, o meu papel é um papel de colegiado e vamos ouvir com prioridade aquilo que o colegiado decidir.

Os governistas dizem que a investigação será tendenciosa porque o senhor é de direita.

Sou de direita, sim, com muito orgulho. Sou um cara decente e irei transmitir isso na relatoria. Eu não sendo atacado pessoalmente, eu não sendo colocado com essa suspeição antecipada, as pessoas terão a oportunidade de ver a sequência dos trabalhos. Será tudo feito em cima de indícios e provas.
Presidi o grupo de combate ao crime organizado em Alagoas durante sete anos. Fui chefe do Ministério Público duas vezes, duas vezes secretário de segurança. E por onde eu passei, eu deixei uma marca de decência. Não vai ser diferente na CPMI.

RAIO-X | Alfredo Gaspar, 55
Nascido em Maceió, foi promotor de justiça, secretário de Segurança Pública de Alagoas e procurador-geral de Justiça de Alagoas por dois mandatos. Renunciou à carreira no Ministério Público para concorrer à Prefeitura de Maceió em 2020, com apoio do clã Calheiros, mas terminou em segundo lugar. Está no primeiro mandato como deputado federal e é cotado para concorrer ao Senado em 2026.



Fonte Noticias ao Minuto

Leia mais

Rolar para cima